Ana Maria Coelho Carvalho*

Quando estive nos States, na Califórnia, e fiquei na casa da filha durante um mês, vivenciei cenas interessantes. Por exemplo, lá não furam a orelha das meninas para colocar brincos quando elas nascem, isso é cultura de latinos. Mas a Lia, minha netinha , quando veio ao Brasil, ficou fascinada com os brinquinhos na orelha das primas. Pediu para colocar também. Levei-a a uma farmácia e o funcionário sentou-a em uma cadeira. Sem maiores preâmbulos, pegou uma maquininha e segurou a orelha. A Lia ficou horrorizada e fugiu. Passado o susto, já nos States, pediu novamente. A mãe levou-a a uma loja com centenas de brincos e com moças lindas, vestidas de princesas. Sentaram a Lia em um trono e uma das princesas deu a ela um ursinho macio para segurar. De mansinho, outras duas vieram por trás e furaram as duas orelhas ao mesmo tempo, para evitar fuga com apenas uma orelha furada. Quando ela começou a berrar e o irmão a gritar ” sangue, sangue”, enfiaram um pirulito na boca deles. A Lia saiu com lágrimas nos olhos, mas de brinco e se deliciando com o pirulito.
Outra cena inusitada aconteceu em um clube, numa sauna. Abri a porta, não enxerguei nada devido ao vapor e sentei-me como pude (felizmente no banco e não no colo de alguém). Ao meu lado estava um jovem com camisa, calça, tênis e meia, fone de ouvido, suando ao som da música. Pensei que estava no lugar errado, saí e perguntei. Não, lá é assim mesmo, depois vi outras pessoas vestidas suando na sauna. E na piscina do clube, mulheres com maiôs enormes, de sainha rodada. Biquini fio dental, como aqui, nem pensar.
Também fui a um spa com massagistas asiáticos, todos de olhos puxadinhos. O interessante é que as massagens são coletivas. Cerca de 30 pessoas ao mesmo tempo, na penumbra, música suave, barulhinho de água, pés mergulhados em água morna, corpo vestido e coberto por toalhas felpudas quentinhas. Um asiático para cada pessoa, massageando com força o nariz, os olhos, as orelhas, a nuca, o pescoço, tirando os nós das veias, das artérias, espichando os dedos dos pés. A melhor coisa do mundo, vontade de ficar lá para sempre.
Ah, tem ainda as manicures vietnamitas. Pequeninas, vaidosas, de cabelos bem lisos e tagarelando em vietnamita sem parar. Elas passam um esmalte que não sai nunca, mas nunca mesmo, só se tirar a unha também.
Outra coisa: a meninada de lá não briga como a meninada daqui. Por qualquer empurrãozinho em uma criança, os pais falam “I´m sorry” mil vezes e repreendem o filho. Minha filha fazia parte de um Clube do Livro e nas reuniões levava o Enzo, então com três anos. Com o seu lado bem brasileiro, ele mordia todas as crianças presentes. Ela foi convidada a se retirar do clube.
Enfim, existem por lá muitos costumes diferentes. Nas eleições, ninguém pergunta para o outro em quem votou, é falta de educação. Aqui, a gente espalha e ainda pede voto. Já os cachorros são um show à parte. No teatro, vi um cachorro grande, peludo, lustroso, com uma bolsa dourada de lado, quietinho, assistindo ao balé “Romeu e Julieta”, bem ao meu lado. E não era cachorro de cego. Agora, se entendeu a peça, isso eu não sei.
Mas o Brasil também tem cenas inacreditáveis. Como José Simão escreveu certa vez no jornal “Folha” . Em um banheiro em Aracaju colocaram a placa: “É proibido lavar pés, cabelos, pano de chão, pratos com resto de comida e dar banhos em crianças dentro da pia” . Não pode nada, mas pelo menos tem pia no banheiro…Como diria meu filho, “o Brasil é ruim mas é “bão”

*Bióloga – Uberlândia – MG – anacoelhocarvalho@terra.com.br