Ana Maria Coelho Carvalho*
Para renovar a carteira de motorista, há tempos atrás, eu precisei fazer uma prova teórica. Poderia escolher entre participar de um curso presencial e fazer a prova lá mesmo ou então, estudar sozinha e fazer a prova no DETRAN. Em 30 questões objetivas, deveria acertar no mínimo 21. Pensando que seria moleza, optei por não participar do curso.
Assim, consegui um livrinho que tinha “tuudo” sobre legislação de trânsito, infrações, penalidades, sinalização, direção defensiva, primeiros socorros. Explicava a diferença entre apreensão, retenção e remoção de veículos (pra mim, era tudo a mesma coisa); o que era frenagem (pensava que era quando o carro derrapava na água); os problemas dos retrovisores convexos; a necessidade de manter uma distância de dois segundos entre dois veículos; o comportamento sub e sobre-esterçante (nunca tinha ouvido falar). As normas de conduta: mil infrações gravíssimas, graves, médias e leves, com as penalidades em cada caso. Um horror. Pulei essa parte.
No dia da prova, cinco pessoas participando. Primeira pergunta: parar o veículo na contramão da direção é infração: leve; média; média com multa; grave. Puxa, nem sabia que era infração. Depois: usar o carro para jogar água nos pedestres é: falta de educação; infração leve; média sem multa; média com multa. Tinha certeza de que era falta de educação. Aliás, deveria ser mais que isso e marquei “infração leve” (errei, era média com multa). Em seguida, perguntaram o tipo de gás existente no extintor de incêndio. Nem desconfiava. Marquei o gás ACC porque achei o mais interessante, mas nem sei se existe. Apareceram também questões bem óbvias e pensei: “essas eu acerto”. De repente, a pergunta: “se aparecer vaca e cavalo na pista, qual o procedimento a ser tomado?” Deveria decidir entre acender ou não os faróis e entre buzinar ou não. Pensei na reação dos bichos e optei por não assustar os pobres animais. Mas como as más línguas dizem que sou má motorista (acredito que é por causa do preconceito contra as mulheres ao volante), perdi a segurança e assinalei que iria acender os faróis. Lembro-me de outra difícil: “se acontecer um acidente na pista com orientações para afastar as pessoas e não acender fósforos, o acidente envolve”: incêndio; óleo na pista; fios elétricos caídos do carro; atropelamento. Concluí que não era incêndio, pois o foguinho do fósforo não faria diferença. Quanto ao óleo, pensei que não se incendiaria assim tão facilmente. Fiquei com os fios elétricos, mas sem muita convicção.
Passei as respostas para o gabarito, com capricho, preenchendo as bolinhas. Contei as questões nas quais eu “tinha certeza” que a resposta estava correta: 23. Nas outras sete, como cada questão tinha quatro alternativas, eu ainda tinha 25% de chances de acertar, mesmo sem saber nada. Tranqüilo.
Passado um tempo, o examinador leu as notas: 20, 21, 23, 24 e 26. A nota 20 era a minha, só eu “tomei bomba”, que vergonha! Ainda tive a audácia de perguntar: “Moço, você corrigiu direitinho?” Ele nem respondeu. Eu não sabia se ria, se chorava, se me escondia. A primeira “bomba” de minha vida. Não sei se foi por excesso de confiança, falta de estudo ou burrice mesmo.
Fiquei com a carteira de motorista vencida. Aprendi no bendito livrinho que dirigir com carteira de habilitação vencida, por mais de 30 dias, é falta gravíssima, com multa e sete pontos na carteira (isso eu sabia). Tive que fazer outra prova, mas não vou contar pra ninguém se fui aprovada ou não.
*Bióloga