Cesar Vanucci*
“O 84º lugar ocupado pelo Brasil no “Índice de
Desenvolvimento Humano” é o fim da picada…”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
Duas falas momentosas. Uma foi do vice-presidente Hamilton Mourão.
De forma serena, transparente, objetiva, evidenciando conhecimento de causa, ele explicou a razão pela qual o Brasil não pode prescindir, no processo de utilização da tecnologia 5G, dos préstimos da empresa chinesa Huawei. Suas declarações obtiveram simpática ressonância em diversificados setores, mormente o empresarial.
Contrapuseram-se às alegações pueris, desfalcadas de bom senso, com motivação ideológica extremada, formuladas por vozes menos credenciadas dos círculos governamentais. O general asseverou que, no momento presente, 40 por cento da infra-estrutura do país em 3G e 4G se ancoram na tecnologia oferecida pela organização chinesa. Se, por um acaso, a Huawei ficar fora do esquema de implantação do 5G, haverá a necessidade de se desmantelar um gigantesco complexo de instalações e equipamentos, de modo a readaptar os sistemas montados a outros padrões. Uma mudança dessas proporções custaria muito caro, acentuou. Concomitantemente com a manifestação de Mourão, os segmentos empresariais que acompanham atentamente os desdobramentos dessa questão, tão momentosa, deram realce a um outro dado positivo recente relacionado com o tema. A área técnica da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concluiu os estudos concernentes às regras que vigorarão no leilão previsto para breve, caso do 5G, sem que o edital acuse quaisquer restrições à Huawei. Temores chegaram a ser levantados diante das inocultáveis pressões exercidas pela chamada “ala ideológica palaciana”, que queria os chineses fora da operação. Esse insensato posicionamento foi amplamente contestado, política e tecnicamente.
● A outra fala foi do general Carlos Alberto dos Santos Cruz. O ex-ministro da Secretaria de Governo concedeu entrevista, à jornalista Andreia Sadi na “Globo News”, que causou grande impacto, sobretudo nos redutos políticos. As palavras usadas com referência ao Governo Bolsonaro foram, pra dizer o mínimo, causticantes. Admitindo que deixou o Ministério por atritos com o Presidente, assinalou haver observado, já desde os primeiros momentos, colocações inimagináveis e incompatíveis com a missão institucional atribuída ao dirigente eleito. Santos Cruz chegou a afirmar que o governo se transformou em “um PT verde amarelo”. Disse ainda que todo mundo esperava, após as eleições presidenciais, atos e procedimentos que significassem uma nova maneira de se fazer política no Brasil. Mas o que se viu – acrescentou – foi a chegada de um pequeno grupo extremista com propósitos de dividir a sociedade. Registrou também que toda a lista de práticas condenáveis criticadas durante a campanha, contrariando a expectativa geral, voltou a ser executada em alta escala. E por aí seguiu a fala do general. O tom resoluto, contundente, do pronunciamento do ex-ministro, aludindo várias vezes, no extenso depoimento, a gestos prejudiciais cometidos por extremistas e fanáticos infiltrados nas altas esferas, está conduzindo alguns analistas políticos a vaticinarem que Santos Cruz acabará sendo naturalmente conclamado a participar de futuros eventos sucessórios. Quando pouco, será convidado a atuar como conselheiro em corrente empenhada na corrida pelo poder.
● Ao retroceder algumas posições na relação dos 189 países avaliados pelo chamado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), com pontuação (2019) de 0,765, ficando no 84º lugar, o Brasil colocou-se, na América do Sul, atrás do Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia. A liderança continuou com a Noruega. Suíça e Irlanda dividem a segunda colocação. Com suas potencialidades prodigiosas, pode-se dizer mesmo, inigualáveis, fica difícil pacas aceitar que, por falta de um grande projeto nacional de desenvolvimento, amarguemos o constrangimento de permanecer, no IDH, numa classificação tão desprimorosa.
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)