Gustavo Hoffay*
Acredito que uma considerável parcela dos eleitores de Jair Bolsonaro já esteja, há tempos, refletindo sobre a sua própria, reversível e soberana decisão de ter confiado a ele o seu voto. Reversível, sim, pois se antes gozaram do poder de conduzi-lo ao ápice do Poder Executivo brasileiro e de onde, em tese, ele tem a obrigação de zelar pelos serviços prestados por ministérios, secretarias e agencias governamentais entre outros afazeres de grande importância, agora aqueles mesmos eleitores usufruem do poder de retira-lo do terceiro andar do Palácio do Planalto, despejá-lo do Alvorada e mandá-lo de volta ao universo comum dos honoráveis políticos tupiniquins. Esse “rever decisão” ou “tomada de consciência” a partir de uma arrependida parcela do eleitorado de Jair Bolsonaro, é substancialmente abastecido a cada vez que ele, o “escolhido”, deixa emergir, das profundezas da sua personalidade, algumas das suas mais marcantes características e as quais vêm delineando o seu comportamento enquanto representante de duzentos milhões de brasileiros, depois de gozar do poder a partir do seu primeiro mandato legislativo ( como vereador pela então Cidade Maravilhosa, o Rio de Janeiro, em 1.988 ) até aos dias atuais e depois de ser empossado por sete vezes seguidas na qualidade de representante do estado fluminense na Câmara Federal. De maneira parecida a do ex-presidente Fernando Collor, Jair Bolsonaro ganhou fama e reconhecimento nos seus primeiros meses de governo graças ao seu estilo pessoal e populista de reger uma imensa platéia, de fazer acontecer de imediato algumas das suas promessas de campanha e principalmente de soltar o verbo, retrucar, ordenar, ameaçar, deliberar e desejar imperiosamente apresentar-se como o “primeiro e único”. Ele (ainda) não voou no cockpit de um caça F-5 Northrop da FAB e como fez o então presidente Collor, mas já pilotou Jet-Ski em praias do Guaruja-SP , abraçou populares no mar e na terra em tempos de pandemia, tomou café e comeu pastéis em bares e lanchonetes Brasil afora e, lembremo-nos, já tomou a iniciativa de marchar com o seu séquito de aduladores rumo ao Supremo Tribunal Federal…..em missão de paz, fique claro. De maneira adequada a um gosto popular sedento por justiça e progresso social, JB fez romper até aqui a sua patrola desenfreada enquanto sobrepondo-se a tudo e (quase) todos que antes serviam a partidos que opunham-se a sua escalada. Certamente sem perceber, o “mito” passa-nos a impressão de estar entrando em um processo similar à autofagia, enquanto corroendo-se perante a opinião pública por meio de alguns comportamentos temporais inúteis e similares ao que poderia chamar-se de “auto-defesa verborrágica”, captados por câmeras e microfones diversos e difundidos para todo o mundo. Descobrindo-se aos poucos e sempre mais como a um comandante carente de procedimentos modelares à função que exerce, não é incomum ver o presidente tropicando em suas próprias palavras e esquecendo-se de recolher a língua nos momentos devidos; falta-lhe molejo, jogo de cintura no trato com a imprensa e mesmo que parte dessa esteja radicalizando em suas funções, enquanto deixando-se rebaixar ao nível de quem procura atingi-lo por meio de opiniões e reportagens diárias e de mau gosto exibidas, até, em horário nobre da TV. O Brasil inteiro entende o quanto Bolsonaro vem sendo atingido, em cheio, pela “alta-tensão” social originada pela pandemia do Corona Vírus e o que, evidentemente, é um elemento importante para justificar em parte a sua instabilidade emocional mas, creio, não é o seu deliberado e questionável desempenho enquanto no comando de toda uma imensa nação algo que deveríamos nos orgulhar; não, nem de longe. Ao que tudo indica Bolsonaro conseguirá chegar ao fim do seu governo porém com reticências, pois vazio em ações que não aquelas relacionadas ( é claro) em sua maioria à saúde do povo brasileiro e, ainda assim, muito questionáveis. Além do que, o seu inferno astral fervilhou ainda mais com o péssimo desempenho e alguns maus exemplos originados daquele que julgava ser o seu maior parceiro em termos de relações internacionais, o seu ídolo Trump e que não mais estará ao seu lado para pegar em suas mãos e consolá-lo quando mais precisar. Bolsonaro deveria, desde já e caso queira de fato chegar ao fim do seu governo, falar menos e agir mais, do contrário estará municiando alguns dos seus mais cruéis adversários, inclusive aquele que conhecemos por Lula, Dilma, Zé Dirceu e Cia, mais ativos que nunca em algum grotão dos confins tupiniquins.
*Agente Social – Uberlândia-MG