Marília Alves Cunha*
Especialíssimas, as mulheres povoaram a minha vida e, posso dizer, fizeram-me mais feliz e, em alguns aspectos, muito mais mulher. Sábias, maternais, engraçadas, corajosas, humildes, bravas, doces, religiosas (nem tanto), generosas, todas! No topo da lista a vovó Sinhazinha. Morreu quando eu tinha apenas 14 anos. Aquela idade dos sonhos, brincadeiras, idade do aqui e agora, onde não cabem passado nem futuro. Não senti muito a sua partida. O sentimento de dor pela morte ainda não me pegara de jeito. Mas à medida que o tempo foi passando, fui elaborando lembranças e descobrindo coisas que só a maturidade pode descortinar. Vovó Sinhazinha deixou, entre várias outras, uma lição de humildade. Traço característico de sua personalidade. Em várias ocasiões de minha vida, quando a vaidade e a soberba tentaram me seduzir, a memória foi cutucada e tratei de baixar o facho. Valeram as lições da D. Sinhazinha.
Minha mãe, figura singular, inesquecível. Penso que nunca mais verei criatura igual. Dela dizia um amigo: as joias não enfeitam Maria, Maria é que enfeita as joias. Ensinou-me que a vida se adorna com sorrisos e que obstáculos, por difíceis que sejam, podem ser ultrapassados. Obrigada, Maria, pela sua alegria, bondade, força e vontade de viver. Obrigada por seus muitos abraços e pelo seu olhar, sempre terno e afetuoso. Obrigada pelas muitas vezes em que insistiu em me proteger, não obstante minha rebeldia…
Durante minha vida adotei três mães. Apesar de ter a própria, muito querida, períodos de grande carência e de muita insegurança forçaram a que eu buscasse outros colos, outros carinhos, mais atenção, mais mães. E como foram felizes minhas escolhas…
Extremamente religiosa e inteiramente dedicada à família era uma delas. Verdadeira matriarca, rainha absoluta do seu pedaço, aconchegou-me no seu abraço e no seu calor, como se eu fizesse parte da sua ninhada. Lembro-me dela no meio das flores com as quais enfeitou meu casamento. Outra era enérgica, brava, mas dentro do peito batia um coração pura bondade. Aprendi com ela que a gente pode dizer “não” e continuar sendo amada. Aprendi com ela os limites da emoção: muitas vezes a razão falaria mais alto. E muitas vezes a emoção extravasaria, quase arrebentando o coração. A terceira era a expressão da fragilidade (aparente). Figurinha ”mignon”, impressionava pela coragem, disposição para o trabalho, inteligência para resolver problemas. Muitas vezes surpreendeu-me, com tanta grandeza abrigada em tão pequeno frasco e tão maravilhosa simplicidade. De muitos filhos e netos, acolheu-me sempre com carinho e integrou-me a sua família, da qual faço parte nos dias de hoje. Antonina, Orlandina e Mariana, presentes para sempre em meu coração agradecido.
E tem alguém que me amou mais que todos e que na sua vida soube, a cada momento, expressar este amor. Para ela eu era a mais bonita, a mais inteligente, sem defeitos. Vivi grande parte da minha vida como um pássaro, que se abriga confiante sob asas protetoras. Choramos muito juntas. Soubemos também extravasar alegria com sonoras gargalhadas. Agradeço a Deus todos os dias por este amor que me foi dado por mais de 70 anos. Não é todo mundo que tem uma irmã Marlene no seu caminho. Que saudade de ser tão amada assim!
E entre todas estas grandes mulheres, uma figurinha muito especial enfeitou minha vida por 17 lindos anos. A fragilidade de sua existência não roubou o seu otimismo, a sua alegria, a sua enorme capacidade de dar a volta por cima. Misturamos muitas lágrimas, nas horas incertas, em que o mundo parecia desabar. Passada a tormenta, risos e brincadeiras faziam parte do nosso viver. Não tive muito tempo nem sabedoria para dar a ela grandes ensinamentos, mas a menina alegre e ansiosa pela vida deu-me enormes lições. Graças Renata, por me ensinar a sua tranquilidade, a sua integridade, a sua paciência, a sua coragem para atravessar pontes e encontrar sol do lado de lá.
Neste Março, mês em que se comemora a Mulher, deixo às mulheres de minha vida uma saudade que não me abandona, uma imensa gratidão por terem participado com tanta generosidade da minha caminhada. Até breve!
*Educadora e escritora – Uberlândia – MG