Ivan Santos*
Não sou comunista. Escrevo esta advertência para desfazer, antecipadamente, interpretações erradas que algum leitor possa fazer a respeito do que vou dizer a seguir. Conheço um pouco de comunismo depois de ler e reler “O Capital” , outras obras de Karl Marx e escritos de Friedrich Engels, os dois autores do Manifesto Comunista em 1848. Só depois de muita leitura pude separar a ideologia comunista do estado totalitário que foi implantado na Rússia por uma revolução em 1918.
É desonestidade intelectual e política confundir comunismo com o estado policial implantado nas chamadas Repúblicas Socialistas Soviéticas. O comunismo na Rússia foi uma experiência para o socialismo que não deu certo e foi derrubado por organizadas forças capitalistas. No entanto, a história do mundo nos ensina que uma ideia só pode ser combatida e eliminada por outra ideia melhor e aceita pela maioria da população.
Apontar o comunismo como maldade humana é desonestidade. Estou a ler neste tempo de isolamento social, um livro fascinante. É “Capitalismo sem rivais” do economista sérvio, Branko Milanovic, chefe do Departamento de Pesquisas do Banco Mundial e professor no Graduate Center da City University de Nova York (EUA).
No livro, o professor Branco Milanovic demonstra que “o comunismo é um sistema social que permitiu que sociedades atrasadas e colonizadas abolissem o feudalismo, adquirissem independência econômica e política e construíssem um capitalismo nativo”. Esta demonstração nos permite raciocinar concretamente e perceber que é desonestidade política misturar a ideologia comunista com a ditadura do proletariado implantada e ferro e fogo na Rússia e nos países que integraram a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Não dá para confundir a ditadura do proletariado com o capitalismo político definido como comunismo, hoje em vigor na China. A essência do comunismo na Rússia foi a abolição completa da propriedade privada. Na China, depois da reforma imposta por Deng Xiao Ping, 70% das empresas industriais e de serviços são de propriedade privada. Ao comandar a reforma, Deng Xiao Ping, para atrair capitais produtivos do Ocidente, disse que “a nós não importa a cor do gato desde que ele cace o rato”. Foi com esta reforma que muitas empresas dos Estados Unidos, da Europa, do Brasil, do mundo ocidental foram produzir na China para vender no mundo. O que as atraiu? Mão de obra barata e carga tributária igual a 20% do que carregavam no país de origem. Essa política produziu o milagre chinês.
Hoje a China é o maior importador de commodities do Brasil (ferro, carnes e cereais). Se alguns membros do governo brasileiro falam hoje em público mal da China cometem erro maiúsculo. O Brasil não importa ideologia da China. O Brasil tem apenas relações diplomáticas e comerciais com empresas estabelecidas na China. Perder um mercado tão grande por questões ideológicas é equívoco monumental.
*Jornalista