Percival Puggina*
“O Chile sim, cuidou bem de sua população e obtém resultados maravilhosos dentro da América Latina”.
Isso ou algo muito parecido com isso você deve ter lido ao longo dos últimos meses. E sempre com o intuito de desfazer do governo federal, o único, no mundo, responsável direto por todas e cada uma das mortes causadas pela covid-19…
Só que não. As comparações desmentem essa exemplar e excepcional realização do governo chileno. Se não vejamos:
População do Brasil: 212,00 milhões
População do Chile: 19,00 milhões (11 vezes menor)
Casos de covid-19 no Brasil: 12,00 milhões
Casos de covid-19 no Chile: 0,92 milhão (13 vezes menor)
Óbitos covid-19 no Brasil 292,75 mil
Óbitos covid-19 no Chile 22,18 mil (13 vezes menor)
Fica evidente que as diferenças não são tão significativas, principalmente porque o país andino, com pequena população, nível social e econômico superior ao brasileiro, concentra em sua região metropolitana 36% da população. Tudo fica mais fácil. Por outro lado, o Brasil retardou algumas semanas o início da vacinação. Mas o Brasil tem a Anvisa, órgão de Estado, com a credibilidade que a OMS deveria ter e não tem. A agência brasileira seguiu seus próprios protocolos para liberação das vacinas até ser atropelada pelas exigências. Já agora, a vacinação avança mais rapidamente e a curva começa a se deslocar na direção vertical, como podem observar os que acompanham os gráficos de Our World in Data.
Mas voltemos à realidade chilena. Apesar da largada prematura para vacinação, o Chile enfrenta um crescimento expressivo de novos casos (a semelhança de muitos outros países, inclusive o Brasil). No dia de ontem (20/03), o Chile registrou 7.043 novos casos enquanto o Brasil registrou 79.079, mantendo proporcionalidade à população, ou seja, um número 11 vezes maior.
A curva da Covid-19 cresce nos totais globais à base de 500 mil novos casos diários, mas para a imprensa nacional e internacional, graças ao trabalho da mídia militante brasileira, só o Brasil é um inferno na terra e um perigo para a comunidade mundial. Quem não vê nisso ideologia, interesses econômicos e política – todos da pior espécie – é porque não quer ver.
*Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.