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qui., 1 de abr. 17:38 (há 16 horas)

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Pesquisa auxilia professores no ensino de estudantes com Transtorno do Espectro Autista
O estudo observou que esses alunos têm maior facilidade em atividades que envolvem questões lógicas, aplicadas de modo interativo

Com o objetivo de derrubar preconceitos e promover a inclusão, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em 2007, o dia 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. (Arte: Viviane Aiko)
Estudar, brincar e interagir são ações que fazem parte da rotina de qualquer aluno na escola regular, mas nem todos conseguem participar dessas atividades propostas sozinhos. Alguns dependem de apoio especial para se desenvolverem no espaço escolar. É o caso dos estudantes que possuem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), condição que afeta significativamente no aprendizado.

Ascom/UFU

A dissertação de mestrado de Tatiane Daby de Fatima Faria Borges, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), analisa as práticas de ensino desenvolvidas por professores na escola regular, expõe causas pelas quais a educação no Brasil não é inclusiva e explica como a as percepções dos alunos autistas podem ser estimuladas na disciplina de matemática.
Para fundamentar seu estudo, Daby fez a leitura de teorias do psicólogo educacional estadunidense Robert Gagné. Ele foi um dos autores sugeridos na disciplina Tópicos Especiais em Educação Ciências e Matemática, ministrada pelo orientador de sua dissertação, professor Guilherme Saramago de Oliveira, que também é pesquisador sobre Educação em Ciências e Matemática, da Faculdade de Educação (Faced).
Além disso, a pesquisadora refletiu sobre como o professor pode auxiliar para efetivar as práticas pedagógicas adaptativas a partir das competências pessoais de cada estudante. O estudo também apresenta as vivências da autora no trabalho como supervisora pedagógica de uma escola de anos iniciais, onde estavam matriculados alunos autistas, em diferentes níveis do transtorno autístico.
Diagnóstico
Antes de buscar respostas, Daby buscou entender o que é TEA, definido como um transtorno neurológico que compromete a interação social e a capacidade de estabelecer a comunicação verbal e não verbal. É importante lembrar que há variações quanto ao grau de comprometimento.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 (referência mundial de critérios para diagnósticos), a maioria das pessoas autistas apresentam um comportamento restritivo, no qual podem repetir o mesmo movimento várias vezes, como agitar as mãos. E também demonstram certa dificuldade de compreender emoções pessoais, de familiares e colegas de classe.
Há políticas públicas decisivas para a inclusão da criança autista na escola regular, dentre elas, a Lei 12.764/2012, que considera a pessoa com TEA pessoa com deficiência, assegurando o direito de acesso à aprendizagem e assistência de profissionais que adaptações curriculares para atender as suas necessidades e especificidades.
Além disso, em 2020, foi aprovada a lei 13.999/20, que oferece gratuitamente uma carteira de identificação para a população autista. Chamada Romeo Mion, em homenagem ao filho autista do apresentador Marcos Mion, garante para esse público a prioridade de atendimento nas áreas da saúde, educação e assistência social.
“Mesmo com políticas públicas de apoio às pessoas com TEA, as práticas pedagógicas ainda não estão de acordo com a realidade educativa ideal para esses alunos, implicando na segregação das crianças autistas e dificultando a interação e a inclusão”, aponta Daby.
A pesquisa evidencia que a inadaptação curricular, o olhar homogêneo quanto aos alunos e o processo de ensino são questões que interferem na aprendizagem das pessoas autistas, assim como desacreditar nas potencialidades delas.
“O trabalho com autistas requer antes de mais nada acreditar na possibilidade e evolução destes alunos e a partir deles (suas habilidades e competências), propor um currículo adaptado”, explica Daby.
As causas do autismo ainda estão sob investigação. Por isso, o acompanhamento da pessoa com TEA exige uma rede integrada de profissionais como neurologistas, psiquiatras, psicopedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e o uso de técnicas de estimulação cognitiva, física, comunicacional e psicológica.
Durante o período que Daby atuou como supervisora, percebeu que as crianças autistas têm maior interesse e melhores resultados na disciplina de matemática. Com isso, afirmou que elas apresentam habilidade de concentração e fascínio por atividades que envolvem lógica e raciocínio: “é preciso, antes de mais nada, a formulação de atividades objetivadas e adaptadas”, destaca.
Assim, a pesquisadora concluiu que os alunos autistas são capazes de aprender a disciplina lógica de forma mais eficiente do que outras que necessitam mais de diálogos e que o professor tem o papel diferencial de aplicar exercícios pelos quais os estímulos deles correspondam melhor.
O ensino
De acordo com dissertação de Daby, para que crianças com deficiência sejam incluídas na escola, é preciso abandonar modelos segregacionistas e repensar o conteúdo curricular e como ele é aplicado, bem como a formação dos professores. “Essa é a resposta para a criança com TEA não apenas cumprir o seu direito de frequentar a escola, mas especialmente de aprender”, afirma.
A pesquisa revela que os alunos autistas tiveram maior capacidade de abstrair as atividades manipulativas e concretas, propostas através de uma adaptação curricular e pela seleção de materiais didáticos ao considerar as competências de cada criança. “Um material não será viável a todo autista. Cada aluno é único e exige uma proposta pedagógica diferente”, reconhece.
O primeiro passo é a equipe escolar receber o relatório clínico que aponta o grau de TEA da criança, que será observada pedagogicamente para a grade curricular ser adaptada. Assim, terá a oportunidade de receber materiais didáticos que atinjam os objetivos de ensino.
Segundo Daby, a criança com deficiência tende a não se interessar por escrever, nem a praticar o que ele não vê importância, como vários números e contas sem contexto, fora da rotina da pessoa. Por isso, recursos visuais, objetos de manuseio e cálculos que tenham significado para ela proporcionam um ensino lúdico e agradável.
Dessa forma, a matemática com autistas deve ser iniciada com poucos objetos e propor contas numéricas presentes no dia a dia dos alunos, ou seja, quanto mais perto do real, melhor.É importante provocar algum desafio, como encaixar, colar e rodar, para chamar a atenção da criança. “Atividades que impõem uma série de respostas não são interessantes para os autistas”, reforça.
Além disso, a pesquisa indica que o professor, sendo o principal agente de ensino, deve estabelecer limites e observar os sinais de resposta demonstrados. Isso significa que será sinalizado o caminho que o aluno precisa traçar para chegar no resultado do exercício e vai ajudá-lo a escolher o objeto certo da atividade proposta, evitando que ele perca em demais informações irrelevantes.
São importantes as práticas escolares que utilizem as ações de juntar, selecionar, agrupar, classificar, agrupar, ordenar e comparar as quantidades de peças através de uma material palpável e real. Quanto maiores e mais diversificados os processos de estimulação, melhor será o desenvolvimento da inteligência do aluno autista.

Propostas de como melhorar o ensino para crianças autistas. (Arte: Laura Justino)
De acordo com a pesquisadora, é importante para a aprendizagem das crianças autistas que a escola compreenda que elas conseguem absorver o conteúdo das aulas. Daby também acredita que a aprendizagem é um bem inerente a todo ser humano: “a escola é um espaço de todos e deve oferecer vários meios para que todos alunos obtenham conhecimento”, argumenta.