Jose C. Martelli*
O legado de um homem criativo e de visão
Na data de ontem, mas em 2017, falecia em Uberlândia(MG), Mário Sérgio Trento, aos 47 anos, como se vê, com toda a vida pela frente.
Se vivo, hoje estaria com meio século de existência. Estaríamos todos que gravitavam à sua volta, de maneira afetiva ou profissional, comemorando os seus 50 anos de existência, uma vez que nascera em 15 de setembro.
Entretanto, infelizmente, nos deixou prematuramente vítima de pertinaz doença. Mas, dentre muitos outros, deixou-nos um legado que nem todos conhecem.
E, para que ninguém se esqueça, até como homenagem póstuma, vamos relembrar esse legado.
O pranteado Mário era conhecido por seus amigos como uma pessoa criativa e cheia de ideias. Tinha uma visão privilegiada do futuro.
E, dentro desse contexto, foi buscar, lá no Ceará, com o Professor da Universidade Federal daquele estado, José Expedito Parente, algo que se tornaria, como de fato se tornou, um dos programas mais exitosos do Governo Federal, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel- PNPB.
O Biodiesel é simplesmente o Diesel feito de plantas. Apenas que renovável e não poluente. Foi criado em 1980 pelo Professor Parente, retro mencionado, que deteve sua patente por 10 anos, quando caducou.
Pois foi esse combustível que Mário Sérgio Trento foi buscar para implementar a ideia de que os produtores rurais, principalmente os pequenos, poderiam produzir o seu próprio combustível.
Em janeiro de 2003, portanto dois anos antes da Lei que introduziria o biodiesel na matriz energética brasileira, elaborou um projeto e o apresentou, juntamente com outros colaboradores, não apenas ao Poder Executivo Federal, mas também ao Congresso Nacional, projeto esse que foi a semente do PNPB.
O PNPB é responsável hoje por 25% (vinte e cinco por cento) de participação no PIB nacional, 100.000 famílias de Agricultores Familiares produzindo matéria prima para a produção de biodiesel e 1.300.000 empregos gerados na sua cadeia produtiva.
Além disso, produz menos poluição e mais energia ao lado da economia de divisas com a desnecessidade de importação do diesel.
Esses são apenas alguns dos benefícios advindos da ideia de um ser humano criativo e de visão que, infelizmente, nos deixou em 26 de dezembro de 2017, no verdor de seus 47 anos .
É sem dúvida um legado que não deve e não pode ser esquecido.
Mas deixemos que a então Deputada Federal Mariângela Duarte, que teve atuação ativa em todo processo, relate em parte de seu depoimento, na história do biodiesel, o começo de tudo:
“Em 2002, o Engenheiro Agrônomo Mário Sérgio Trento desenvolvia estudos sobre “Gestão de Programas de Assentamentos da Reforma Agrária-RA” no curso de pós-graduação Lato Sensu da Universidade Federal de Lavras-MG. Buscava introduzir, nesse trabalho, a sustentabilidade tão almejada, não apenas para os assentamentos oriundos da RA, como também para os cerca de 5 milhões de pequenos agricultores do Brasil, quase todos com características de AF. Entendia que essa sustentabilidade poderia perfeitamente vir do plantio de matérias primas para a produção de biodiesel, um biocombustível do qual já se tinha conhecimento desde 1980, no Brasil, através das experiências do Prof. Expedito José de Sá Parente, da Universidade Federal do Ceará e, mais recentemente, pela Portaria 313, de 27.12.2001, da Agência Nacional de Petróleo – ANP, que regulamentava a importação de biodiesel; pelo Projeto de Lei 6.983, de 12.06.02, do Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, que instituía o Programa Biodiesel, com obrigatoriedade de adição desse biocombustível no diesel fóssil; e pela Portaria 702, de 25.10.02, do Ministério de Ciência e Tecnologia-MCT, que instituiu o Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico de Biodiesel – Probiodiesel.
Por outro lado, o Eng. Mário Trento era Secretário Adjunto de Agricultura e Abastecimento de Uberlândia-MG, cidade que abrigava a sede do Instituto Volta ao Campo de Desenvolvimento Rural – IVC, entidade sem fins lucrativos com a missão principal de, através de uma assistência técnica integral, multidisciplinar, presencial e permanente, cuja metodologia detém, levar essa sustentabilidade ao pequeno produtor rural brasileiro, dentre os quais estavam inseridos os AF. O IVC fora contratado pela Prefeitura Municipal de Uberlândia para dar suporte ao seu Programa de Assistência Técnica Rural. Assim, expôs suas ideias ao IVC e este as abraçou e passou a trabalhar, com o apoio total e irrestrito do Prefeito Municipal, na época, Dr. Zaire Rezende e de seu Secretário de Agricultura e Abastecimento, Prof. Vicente Rocha, sucedido pelo Prof. Olavo Vieira da Silva”
*Advogado e professor