Rogério Nery de Siqueira Silva*
Questionar a governança da pandemia é importante, claro, mas o Congresso Nacional não pode perder o foco sobre a questão econômica. Não são questões concorrentes, mas complementares. Não dá mais para ficar com o barco à deriva, ao sabor do vento, especialmente diante do flagelo do desemprego, com 13,9 milhões de pessoas sem ocupação, segundo dados do 4º trimestre de 2020 divulgados pelo IBGE.
Algo precisa ser feito. E já.
Enquanto se debruça sobre a condução do combate à covid-19, o próprio Senado Federal tem plenas condições de assumir um protagonismo, articulando uma agenda positiva.
O que o país mais precisa, agora, é de um plano de retomada com objetivos viáveis, que organize medidas de curto e médio prazos que produzam renda e empregos.
De curto prazo, é fundamental a adoção de um programa de renda mínima mais robusto. Evitar que as pessoas passem fome, e que sofram ainda mais os efeitos deletérios da pandemia, é prioridade.
Isso significa criar remédios mais assertivos e perenes do que um auxílio emergencial.
Nesse pacote, não podem ser esquecidos os negócios de micro e de pequeno porte, especialmente no setor de serviços, que são o que mais empregam e o que mais vem sofrendo com as restrições.
Para o médio prazo, vale o mesmo. Há premência de medidas de alto impacto em setores de elevado potencial de manutenção e criação de empregos. Qualquer medida que crie insegurança jurídica, portanto, é imperdoável. Não dá para afugentar investimentos –notadamente em infraestrutura e energia, que setores geradores de vagas.
No plano legislativo, as reformas administrativa e tributária precisam andar com mais celeridade no Legislativo, assim como o cronograma de privatizações não pode empacar.
Em paralelo, não há mudança possível sem investimentos em educação e treinamento. Vale convocar nossas melhores cabeças, o setor educacional e o Sistema S para organizar um plano de ação ágil, consensual, com diretrizes, objetivos e metas claras que coloquem o Brasil no rumo da Economia 4.0.
Uma das grandes oportunidades, por exemplo, está em qualificar pessoas para resolver o chamado apagão de mão de obra na área de Tecnologia da Informação –segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o deficit pode chegar a 290 mil profissionais em 2024.
Multiplicar programas de aceleração de novos negócios, como startups, portanto, é certamente uma boa saída, porque desses ambientes nascem soluções com valor agregado. Nos últimos anos, aliás, boa parte das melhores ideias são originadas em negócios que colocam o digital no centro da estratégia.
Simultaneamente, o empreendedorismo social também deve ser estimulado, estabelecendo pontes efetivas para a evolução de quem só precisa de oportunidades. Um belo exemplo está na Favela Holding, do criador da Central Única das Favelas, Celso Athayde.
Outra coisa que o país precisa avançar é a filantropia, algo muito diferente de caridade. Nos Estados Unidos, é comum ver pessoas e famílias com grandes fortunas contribuírem com uma parte significativa de sua riqueza para causas sociais, culturais, esportivas e ambientais. Um bom exemplo é o The Giving Pledge, organização filantrópica fundada em 2010 nos Estados Unidos por Bill Gates, Melinda Gates e Warren Buffett.
No Brasil, a Lei 13.800/2019, sancionada em janeiro de 2019, já facilita. Mas é preciso ter mais estímulos para que grandes empreendedores possam apoiar bons projetos e deixar seu legado – seja em universidades, seja em outras instituições que ajudem a criar um estado de bem-estar social.
Simultaneamente, o Brasil precisa ser mais pragmático em suas relações bilaterais e multilaterais.
São diversas ideias. O Senado Federal, com sua capacidade de articulação, tem o papel de pactuar com a Câmara dos Deputados um caminho consensual. Uma trilha que, sem deixar de lado o enfrentamento das questões pertinentes relacionadas à pandemia, possa combinar o esforço de diversos atores para não deixar o país ao sabor dos acontecimentos. É preciso proatividade. (Publicado no Site: O Poder360).
* CEO do Grupo Integração, economista, é diretor Regional da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt); foi presidente e é hoje Conselheiro da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia. Foi secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais.