Documento é uma ferramenta de planejamento estratégico que norteia as ações do museu a curto, médio e longo prazo
O Plano Museológico do MUnA segue as orientações do Estatuto dos Museus (foto: acervo MUnA)
O Museu Universitário de Arte da Universidade Federal de Uberlândia (MUnA/UFU) estabeleceu, recentemente, o Plano Museológico da instituição. Com vigência de cinco anos (2021-2025), o Plano foi realizado pela museóloga Daniela Vicedomini Coelho em conjunto com a equipe técnica do museu e será disponibilizado no site oficial do MUnA.
Os planos museológicos são definidos pela Lei nº 11.904/2009 como “ferramenta básica de planejamento estratégico, [….] indispensável para a identificação da vocação da instituição museológica para a definição, o ordenamento e a priorização dos objetivos e das ações de cada uma de suas áreas de funcionamento […]”, constituindo “instrumento fundamental para a sistematização do trabalho interno e para a atuação dos museus na sociedade”.
A Lei, que estabeleceu o Estatuto dos Museus, indica, em seu artigo 44, que “é dever dos museus elaborar e implementar o plano museológico”.
Com 120 páginas, o Plano Museológico do MUnA é estruturado em três etapas principais.
Seguindo as orientações do Estatuto dos Museus, o Plano Museológico do MUnA é estruturado em duas partes: Perfil Museológico e Linha Programática de Ações. O primeiro, sistematiza as características principais do museu, como campo de atuação e histórico, e define o seu planejamento conceitual, composto por missão, visão, valores e objetivos estratégicos. Já o segundo, desenvolve planos de ação para todas as áreas de trabalho do museu, tendo o planejamento conceitual como eixo norteador.
A metodologia utilizada para a realização do Plano Museológico do MUnA foi dividida em três etapas: a construção do Perfil Museológico, com exercícios de diagnóstico direcionados para a elaboração do planejamento conceitual do museu e análise SWOT; o Diagnóstico dos Programas, com reuniões setoriais e aplicação de questionários dirigidos aos setores do museu, como o Setor de Exposições e o Setor Educativo; e Planos de Ação, com indicação de ações para cada programa por meio de reuniões.
O Plano Museológico
De acordo com relatório de análise dos dados coletados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) junto aos museus dos Institutos Federais (Ifes), publicado em 2020, 77% dos museus não dispõe de Plano Museológico.
Fonte: Relatório de análise dos dados coletados pelo MEC/IBRAM junto aos museus das Ifes e dos Institutos.
Os motivos apontados para a ausência do Plano Museológico são: indisponibilidade de pessoal qualificado na instituição (46%), indisponibilidade orçamentária para a realização desse tipo de trabalho (32%), desconhecimento do instrumento e de sua obrigatoriedade (15%), desconhecimento de como elaborar um plano museológico (17%) e outros (63%).
Fonte: Relatório de análise dos dados coletados pelo MEC/IBRAM junto aos museus das Ifes e dos Institutos.
No relatório, os professores Cláudia Carvalho, Letícia Julião e Marcelo da Cunha salientam que há “necessidade de maior esclarecimento do que vem a ser o Plano Museológico e de metodologias para o seu desenvolvimento” e que “seria interessante rever normativas e proposições relativas ao Plano Museológico, de modo a adequá-lo à realidade e especificidades dessas instituições no âmbito universitário”. “Convém lembrar que a inexistência de Plano Museológico não significa ausência de planejamento e sim dificuldade de estruturar esse planejamento nos modelos solicitados”, complementam.
A atuação da museóloga
Todos os planos museológicos devem ter a assinatura de um responsável técnico museólogo, com registro no Conselho Regional de Museologia (Corem). No caso do MUnA, o Plano Museológico foi assinado pela museóloga Daniela Vicedomini, com registro no Corem da 4ª Região.
A trajetória acadêmica e profissional de Vicedomini é marcada pela atenção com a memória e a história, nutrida por ela desde a infância. “Eu sempre fui a pessoa que tinha a guarda de todos os objetos que ninguém mais queria da minha família”, conta. Máquina de escrever, calculadora antiga, fotos de família ‒ tudo ela guardava. “Eu tinha essa preocupação com as memórias familiares, em guardar, em fazer algo, para que a memória não se perdesse”.
Ela se graduou em Arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1994 e, depois da faculdade, trabalhou em uma loja de móveis africanos trazidos de expedições em campo. Isso despertou, em Vicedomini, a vontade de trabalhar em museus. Mas, como, na época, eram ofertados poucos cursos de museologia no Brasil, ela se voluntariou no Departamento de Acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).
Daniela Vicedomini também se voluntariou a um estágio em Chicago. “Voltei com um projeto de exposição para o Masp debaixo do braço”, relembra. Fonte: acervo pessoal.
Mais tarde, Vicedomini foi efetivada como produtora cultural no Masp, profissão que segue até hoje. Ela e a equipe produziram diversas exposições, com a presença de obras de artistas nacionais e internacionais, como Pablo Picasso, Salvador Dalí, Candido Portinari e Anita Malfatti. Ela também atuou como assistente de produção de transporte na exposição “Brazil Body & Soul”, da Brasil Connects, e como produtora cultural no Instituto Tomie Ohtake.
Mas, mesmo com tanta bagagem, Vicedomini ainda tinha vontade de relacionar produção cultural com desenvolvimento social. Com uma bolsa, ela realizou uma especialização em Gestão e Administração Pública na SDA Bocconi School of Management, em Milão, na Itália. Ao voltar da viagem, trabalhou em empresas de atuação em projetos culturais, como a Expomus e a Base 7 Projetos Culturais, onde permanece, hoje como Diretora Adjunta de Produção.
Em seu ofício de produtora cultural, Vicedomini manteve-se em ritmo frenético por muitos anos. “Eu não tinha tempo de refletir sobre a minha produção”, conta. Foi somente na Base 7 que ela teve um momento de respiro e, nele, uma pergunta passou a incomodá-la: “Como eu vou melhorar ou aproximar a minha experiência na área da cultura com o desenvolvimento social?”.
Decidiu, então, continuar os estudos. Em 2014, tornou-se Mestra em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, em Lisboa, Portugal, com a dissertação “O Museu do Holocausto de Curitiba sob a perspectiva da Museologia Contemporânea”. Depois do mestrado, ela passou a coordenar mais projetos de implantações de museus, como o Cais do Sertão, o Museu WEG de Ciência e Tecnologia e o Memorial da Imigração Judaica.
Vicedomini também participou da elaboração do Plano Museológico do Cais do Sertão, em Recife, e do Museu dos Trabalhadores, de São Bernardo do Campo, instituição que não chegou a ser implementada. Em 2020, a Coordenadora Geral do MUnA e professora do Instituto de Artes (Iarte) Tatiana Ferraz convidou-a para elaborar o plano museológico do MUnA e Vicedomini, prontamente, aceitou.
“Foi uma experiência muito rica”, comenta Vicedomini. “A minha preocupação era que o Plano Museológico refletisse as expectativas da equipe e contemplasse toda a bagagem, de 25 anos de história, do museu”. Além da realização do Plano Museológico, ela ofereceu o minicurso “O Plano Museológico como ferramenta de planejamento estratégico” e participou da palestra on-line “Museologia: história, conceitos e aplicações”, disponível no canal do MUnA no YouTube.