Representantes de diversos órgãos compartilharam dados e informações sobre a situação na cidade e região
Fonte: Departamento de Comunicação (Emiliza Didier)
Os membros da Comissão de Políticas Públicas sobre Drogas reuniram representantes de diversas instituições e órgãos de Estado para debater, na tarde desta terça-feira (27), por meio de audiência pública, sobre o cenário das drogas e conhecer a realidade de Uberlândia. A intenção, sendo o presidente da Comissão, vereador Walquir do Amaral (SD), é reunir informações e ideias que devem nortear os trabalhos dos vereadores, bem como dar publicidade ao tema que no último dia 26 de junho comemorou o “Dia Mundial de Combate às Drogas”.
A mesa foi composta pelos vereadores Neemias Miquéias (PSD), relator e Sargento Ednaldo (PP), membro, além do presidente. Em seus discursos, Walquir do Amaral trouxe alguns dados que justificam a importância do tema, relatando que, em 2020, 275 milhões do mundo fizeram uso de drogas, segundo relatório ONU e que, na pandemia, o uso de drogas desencadeou distúrbios mentais na maioria dessas pessoas. Outra informação é a de que a cannabis, conhecida como planta da maconha, teve seus componentes potencializados no decorrer dos últimos 20 anos.
Miquéias salientou que o fortalecimento das políticas públicas como um todo traz impacto positivo no combate às drogas, entendendo que essas ações minimizam questões sociais, agindo de forma direta ou indireta na prevenção das drogas. O parlamentar também fez alusão ao trabalho das instituições do terceiro setor, dando ênfase aos êxitos desses equipamentos como um dos únicos capazes de trazer a reabilitação de fato para as pessoas em tratamento contra o vício.
Sargento Ednaldo adiantou a informação do Comandante Fernando, da 9º Região Integrada de Segurança Pública (Risp), de que, só neste ano, foram apreendidas mais de 19 mil toneladas de maconha em Uberlândia. Para o parlamentar, a droga não afeta só as pessoas que usam, mas traz um mal a todos familiares, sendo necessário combatê-las.
O Cabo Daniel Victor da Polícia Militar e instrutor do Programa Educacional de Resistência às Drogas – Proerd foi o primeiro palestrante. O policial deu ênfase ao trabalho da educação, em conjunto com as escolas e professores, para o êxito na formação de adolescentes e jovens. Os instrutores fazem palestras uma vez por semana nas escolas e conta com a colaboração dos alunos para transmitir os ensinamentos para outros colegas, já que o programa não consegue atender todas as escolas.
Segundo o cabo, a PM se divide em ações que se distinguem entre as preventivas e repressivas, sendo a primeira um esforço de longo prazo para evitar que o crime aconteça, buscando efeitos positivos com o apoio da comunidade local e diversos setores da sociedade. Ele salientou que esse trabalho requer ativismo, paciência e também o apoio das famílias, escolas e professores na construção de uma sociedade com futuro melhor. “O Proerd valoriza a família, a escola e a polícia. O policial fardado representa as regras sociais e a vontade do povo através de seus governantes”, disse.
O presidente do Projeto Esperança e palestrante Luiz Antônio Hermida (Hermida Palestrante) disse que, por meio do cargo que assume na Secretaria de Educação, ministra palestras na área da dependência química em escolas públicas municipais e estaduais. Como um dependente não usuário, diz que trabalha com aconselhamento e encaminhamento de viciados para as clínicas de recuperação chamadas de comunidades terapêuticas. O palestrante também atende escolas particulares e sublinha que as drogas não estão apenas nas periferias.
O palestrante também trouxe dados, informando que o país gasta US$ 1 (dólar) nas ações de prevenção e US$ 4 (dólares) no tratamento, ou seja, quatro vezes mais e o percentual de sucesso no tratamento é muito baixo, de apenas 3% para as internações voluntárias. Só no ano passado, segundo Hermida, o país gastou US$ 1 bilhão (dólares) buscando a reabilitação de dependentes químicos.
Outro dado apresentado foi o índice de recaída de 60% no Brasil, por causa da pandemia, mas, segundo Hermida, Uberlândia não está diferente. O aumento dos casos de drogas entre meninas e mulheres também foi debatido, assim como os pedidos de internação de Uberlândia e pessoas de outras regiões.
Jack Albernaz, presidente do Fórum Permanente das Pessoas em Situação de Rua de Uberlândia e coordenador diocesano da Pastoral do Povo da Rua, deu ênfase em sua fala sobre o pedido de socorro das famílias de usuários de drogas, sobre o preconceito da sociedade quanto aos usuários moradores de rua – que são excluídos de casa por suas famílias abrirem mão do convívio com os mesmos – a falta de preparo de profissionais da rede de assistência social para lidar com o problema e a dependência do álcool e do tabaco como fatores condicionantes para o uso das drogas.
Para Albernaz, o envolvimento com as drogas é o pior caminho. Ele diz alertar jovens quanto às conseqüências, enfatizando que, mesmo como usuários, a prática leva ao crime, à dependência, ao roubo e a indisposição da sociedade quanto a essas atitudes. Nas casas de acolhimento, Albernaz diz ser necessário a ajuda do próximo e a fé para deixar as drogas.
O pastor Onézimo, fundador do Ministério Ceami, referência em Uberlândia no tratamento com dependentes químicos, disse que a dependência química é conhecida pela ciência como uma doença de alta complexidade, inserida em quatro pilares: bio, psíquica, social e espiritual. “Muitas vezes o dependente químico deseja se curar, mas se encontra tão debilitado que não acredita mais na sua cura”, disse.
Onézimo disse que trabalha no ministério há 24 anos e nesse tempo aprendeu a sentir a dor dessas pessoas. Ele desenvolveu uma metodologia de trabalho para os acolhidos baseado em uma tríade de atuação: espiritual, disciplina e trabalho. A comunidade ensina que há uma força maior, um Deus que pode entrar na batalha com eles (dependentes); disciplina, com o resgate das normas de cidadão; e trabalho, contando com apoio de empresários no oferecimento de vagas para esse público. “O pós-tratamento é muito importante, voltar para sociedade, para o seio da família, preparando-os para viver no meio da sociedade”, afirmou, completando que a sociedade está buscando caminhos para resolver esse problema.
O psicólogo Domiciano José de Queiroz disse que é necessário entender o que leva as pessoas a usarem drogas. Ele trouxe um dado de que 67 % das pessoas que fazem uso ou abuso do álcool inicia o uso de drogas também e na fase da adolescência, a prática da bebida vem, muitas vezes, por meio do convívio familiar. Segundo ele, para o tratamento, o foco deve ser na recuperação dos dependentes químicos.
O Coronel Fernando disse que as drogas são um problema de saúde e segurança pública que causa danos irreparáveis no tecido social. Ele associou o aumento da criminalidade e violência ao consumo e aumento do tráfico de drogas e à impunidade.
Ele salientou que a principal atividade financeira das organizações criminosas, que cresce desde a década de 80 no país e no exterior, é o tráfico de drogas. O aumento no uso das drogas aumenta o tráfico. No caso particular, o coronel disse que Uberlândia está na rota internacional de drogas (saem de países vizinhos, passam pela Amazônia legal, por estados das regiões norte e centro-oeste do Brasil e chegam via aérea no Triângulo Mineiro). “Parte (da droga) é consumida no Triângulo e parte e deslocada para outros estados e outros países da Europa”, explicou. Só neste ano, foram apreendidas mais de 14 toneladas de maconha em Uberlândia.
Seguindo, o coronel disse que a cidade tem organizações criminosas com atividades financeiras de tráfico de drogas, sendo combatidas com diversas polícias e com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
O coronel Fernando disse que o cenário deve servir para buscar ações efetivas na luta contra as drogas. Ele afirmou que existem soluções que podem ser adotadas, que não sejam a flexibilização do uso das drogas – países que flexibilizaram estão recuando em suas políticas por não conseguirem acabar com tráfico ilegal. A articulação da rede com o envolvimento do terceiro setor e dos poderes executivo, legislativo e judiciário na formulação de políticas públicas, ancoradas em diagnósticos bem feitos em parceria com a área acadêmica, é uma dessas soluções. O trabalho da família, assumindo sua competência, também é essencial.