Antônio Pereira*

A família Cardoso (pais, filhos, irmãos, parentes, alguns amigos) saiu de Pium-i e veio bater em Uberabinha lá por 1881. Se estabeleceram nas regiões de Dourados, Onça e Macacos, lá no Pontal. Espalharam-se pelo município. Como toda gente antiga, têm seus causos para contar:

Maria “Banana” tinha esse apelido porque seu marido, Ananias Gomes Machado, tinha um belo bananal. Certa ocasião, deu tanta banana que ele encheu um carroção e veio vender em Uberabinha. Naquele tempo, não se vendia fruta, muito menos banana. Muita gente fez pouco do Ananias, mas ele vendeu tudo. Foi o primeiro produtor a vender bananas nas ruas de Uberabinha. Quando morreu, a viúva continuou o negócio e ganhou o belo apelido que teve. Certa ocasião, seu neto, Durval, que ia para o eito, conta que a visitou na passagem. Ela lhe disse: “Meu neto, hoje ou vou m’embora. Os pombos estão voando. É o Divino Pai Eterno que veio me buscar.” Durval ficou impressionado, mas foi para o eito. De tarde, chega o José Carrijo, correndo, informando que a Maria Banana tinha falecido.

Sempre que visitava parentes, o Angelino jantava antes. Certa feita, foi visitar a irmã Luíza, casada com o Thomaz, já tarde, e sem comer nada. Sentaram e prosearam até colocar as conversas em dia. Já anoitecia, o Thomaz lembrou: Angelino, vem lavar os pés que nós já vamos deitar. Muito tímido, sem graça, com fome, Angelino comentou: “Compadre Thomaz, será que não faz mal lavar os pés com a barriga vazia?”

Naquela manhã, como era de costume, Josino, carregou o carroção de produtos hortifrúti pra vender em Uberabinha, onde compraria algumas coisas. Era cedinho. Naquela noite tinha sonhado que acharia, no Balanço (onde hoje está a Cargill), uma nota de cinquenta mil reis. Era uma fortuna. Antes de sair, comentou com a esposa, Zeca de Jesus, o auspicioso sonho. Ela riu e desdenhou: “É… vamos ver.” Ao cruzar a linha da Mogiana, no Balanço, olha a nota novinha, no chão, esperando o sonhador.

Quando o Juca de Carvalho faleceu, sua viúva, Hidraulina ficou sozinha com quatro crianças e pouco recurso financeiro. Seu pai, Zé Júlio, foi visita-la e ofereceu-lhe uma casinha perto da sua, na fazenda Córrego dos Caetanos, que lhe oferecia melhor conforto e segurança. Ela não quis, agradeceu e disse: “Meu pai, aqui, debaixo de Deus, tenho uma companhia que não me abandona nunca é o chapéu do meu finado Juca.” Contristado o velho nunca mais falou nisso. Certa noite, ela foi tomada de súbita e intensa tristeza e começou a chorar. O falecido Juca foi aparecendo devagar na porta do quarto e disse-lhe: “Não chore por mim, minha velha. Siga sua vida. Eu estou bem.” Em seguida, desapareceu. A partir daí a vida de Hidraulina mudou. Ficou alegre, ficou feliz e acabou casando-se em segunda núpcias com João Silva.

Lamartine foi sorteado e se apresentou para servir. Deram-lhe farda. Quando foi vesti-la não foi possível fechar o colarinho. Alguém que examinava os recrutas disse-lhe: “Você está dispensado.” Lamartine emocionado e feliz da vida gritou: “Graças a Deus e a você papinho!” E bateu carinhosamente no papo. O oficial examinador escutou e derrubou a alegria do menino: “Você vai é trabalhar no rancho!” Quando viu o tanto que o Lamartine derrubou a tromba, o oficial sorriu: “Pode ir embora, eu estava brincando. Papudo não serve.”
Fonte: “Entre parentes”, Waltecyr José Cardoso

*Jornalista e escritor – Uberlândia – MG