José C. Martelli*

Quem leu minha crônica “Reeditando a vida em tempos de pandemia,” publicada nesta página, em 17.05.2020, deve lembrar-se que indiquei uma terapia que consistia em fazer um retrospecto da própria vida, em ordem organizadamente cronológica, desde às primeiras lembranças até o presente.

Se indiquei, evidentemente a usei. Repassei toda minha vida em poucas noites. Mas aconteceu uma coisa muito interessante que deve acontecer com todos vocês que me leem. Há certos fatos de nossa vida que sempre nos vêm à mente, independentemente da época em que ocorreram. E fui pesquisar o porquê disso. A conclusão a que cheguei foi a de que esses fatos ou acontecimentos mexeram muito com nossa emoção, ao tempo em que ocorreram, por isso são sempre lembrados.

Então vou destacá-los em algumas crônicas, agora sem preocupações cronológicas, como “flashs” de minha vida e colocá-los no papel.
Eis o primeiro. Aposentei-me em 1982. Na época era Supervisor da CACEX (Carteira de Comércio Exterior) que funcionava com funcionários do Banco do Brasil, em uma Agência do BB no bairro da Lapa. Foram dois anos de muita responsabilidade, mas muito gratificantes.

Uma vez aposentado, vim residir em minha cidade natal, Espírito Santo do Pinhal (SP), onde já lecionava Direito Agrário em Faculdade de Agronomia.

Como havia construído um condomínio fechado, resolvi fazer uma festa de inauguração, aproveitando para comemorar minha aposentadoria.

Convidei pessoas de meu relacionamento para o evento e, apenas por formalidade, convidei coletivamente, a equipe que comigo trabalhava por ocasião de minha aposentadoria.

Pois bem. No dia da inauguração estava eu recepcionando o Prefeito Dr. Paulo Klinger Costa e nosso Pároco, Monsenhor Augusto Alves Ferreira, que presidiriam a cerimonia de inauguração, quando fui surpreendido por um ônibus que adentrava minha propriedade e do qual desceram meus antigos companheiros de trabalho, de São Paulo, trazendo-me um “pequeno mimo”- uma estátua de uma deusa da mitologia grega, em tamanho natural, com os dizeres – que permaneça a amizade.

Mas não ficou nisso. Desceram cantando, em minha homenagem, uma paródia da conhecida música de Adoniram Barbosa – Saudosa Maloca – que reproduzo abaixo, para ficar gravada aqui, como um daqueles fatos de minha vida, que jamais esquecerei.

Saudosa CACEX, CACEX querida,
din din donde eu passei 2 anos feliz da minha vida,
joga as guias pra lá, joga os pepinos prá cá,
porque eu vou me aposentá…que bom, que bom, que bom, que bom.

Pro senhor não se esquecê,
Dá licença d’eu lembra.
Aqui neste mesmo lugá,
em dezembro de 79,
inauguraram o Secex
com bebidas e convidados.
Foi aí seu moço que você e os colegas da Lapa
começaram a cacequeá.

Mais um dia, nóis nem pode se alembrá.
Você pegou suas coisas e disse – eu vou aposentá.
Juntemo toda nossa turma
e viemo prum cantinho
chora a separação.
Que tristeza
que nóis sentimo.
Cada guia que emitimo
fica de recordação.

Nóis pensemo em gritá.
Mais em cima alguém falô.
O home tá com a razão.
Ele precisa descansá..
Só se conformemo quando a gente pensô.
Vamo esperar pra ver o sucessor.

E hoje fazemo festa,
mais tamo muito aflito
e torcemo que o substituto
seja tão bom quanto o Zezito.

Equipe que, também, jamais esquecerei:
Ademir José Freire
Amélia Sheisuko Matsumoto Milton Besser
Antônio Carlos Perobelli Nilton Maria
Antônio Roberto M. Souza Paulo Cézar de Aquino
Célia Regina de Macedo Paulo Fontão de Andrade
Cleide dos Santos Paulo de Tarso Mattos Bueno da Silva
Cristina Keiko Watanabe Meleti Regina Lúcia de Oliveira Pinto
Evaldo Reis da Silva Filho Rogério Artioli
Heloisa do Rosário Pérsio Gomes Raquel Carlotti Zaspelon
Helena Yukie Assakama Rosa Maria Berber Vilar
Hilda Kassomi Nishio Silvia Mei Sim Gun Liang
José Ulisses Niciolli Vera Lúcia Lúcia Fidelis Silvério
Maria Cecília Martins Petri Walter Rosati Viegas

*Advogado e professor – Espírito Santo do Pinhal – SP