Antônio Pereira*
Recentemente escrevi artigo comentando a construção da estrada para automóveis do Fernando Vilela, que considerei a primeira do país. Com o seguir das pesquisas, já coloco em dúvida minha assertiva. É que o historiador dos transportes urbanos, Waldemar Correa Stiel, em seu livro “Ônibus – uma história do transporte coletivo e do desenvolvimento urbano no Brasil”, registrou que a primeira estrada de automóveis do Brasil foi a “Estrada do Vergueiro”, que já existia muito antes da invenção do veículo automotivo, que foi macadamizada e adaptada para esse tipo de carro. Antes, era estrada para carros de bois, carroças, charretes, tropas etc. Ia de São Paulo a Santos. Diz Stiel que essa transformação se deu em 1913. Diz, também, quais foram as estradas construídas, logo a seguir, a partir de 1914. Entre estas, a do Fernando Vilela.
Não aceitei, afinal, Jerônimo Arantes, Waltercides Silva e o próprio dr. Ignácio Pinheiro Paes Leme, que foi o seu construtor, afirmaram que a estrada triangulina foi inaugurada no dia 7 de setembro de 1912, em Monte Alegre. Paes Leme diz isso num artigo inserido na monografia “Município de Uberabinha”, do Cônego Pedro Pezutti, publicada em 1922, à página 55: “… começaram-se os trabalhos de construção em Junho de 1912 e a 7 de setembro do mesmo ano, inaugurava-se em Monte Alegre o primeiro trecho de 72 quilômetros, partindo de Uberabinha.”
As pesquisas não pararam e encontrei no jornal “Lavoura e Comércio”, de Uberaba, do dia 20 de setembro de 1912, um artigo dizendo que, no dia 10 de setembro havia sido fixada a última estaca da rodovia Uberabinha/Monte Alegre.
Existem duas contradições: a data em primeiro lugar: 7 ou 10 de setembro? E em segundo: fixou-se uma estaca ou inaugurou-se o trecho? Não encontrei mais informações nem nos jornais de Uberabinha, nem soube da existência de jornais desta época em Monte Alegre. Também as Atas das duas Câmaras Municipais não dizem nada.
Stiel, no entanto, cometeu um equívoco. Ele colocou a estrada do Fernando Vilela em 4ª posição, quando no mínimo, se não for a primeira, terá sido a segunda. E isso se conclui pelos Relatórios do Fernando Vilela publicados na Imprensa, em 1916 e adiante, dizendo que, em 1913 a empresa não deu lucros, só os ganhando em 1914. Se não deu lucros, funcionou. Como não há nenhuma outra informação (pelo menos conhecida) contrariando esta, é de se concluir que, se a estrada da Companhia Auto Viação Mineira Intermunicipal, do Fernando Vilela não foi a primeira (será que não foi mesmo?) terá sido a segunda do país. Por mim, foi a primeira.
*Jornalista e escritor – Uberlândia – MG