Ana Maria Coelho Carvalho
A meu Deus, que saudades dos tempos em que a gente espirrava e as pessoas falavam: “Saúde!” Mas todo esse medo do coronavírus vai passar, já está passando. Como dizem alguns memes divertidos, “quando tudo isso terminar, vou ficar uns 15 dias sem aparecer em casa” ou “juntos vamos sair dessa: uns gordos, outras grávidas, outros loucos e muitos divorciados, mas vai passar”.
Felizmente o brasileiro tem muito senso de humor, capaz de inventar frases geniais sobre o drama de ficar confinado em casa. Por exemplo: “Eu comi 11 vezes, dei cinco cochilos e ainda é hoje”; “mais um dia como as Lojas Pernambucanas: só cama, mesa e banho.”; “não vejo a hora de passar para o regime semi aberto”. Mas a melhor é essa: “Hoje vou sair de casa. É minha vez de tirar o lixo. Que emoção! Nem sei que roupa vou usar”.
Também tem piadas implicando com os idosos: “cite o nome de um animal teimoso com a letra V. E o menininho responde: “véio!” E ainda estão dizendo que nos estacionamentos, onde antes estava escrito “idoso”, agora está escrito “teimoso”. Até os relacionamentos estão mudando: “homem com álcool gel procura mulher com máscara para quarentena séria.”
E existe um áudio trágico-cômico que explica bem o momento mais grave da pandemia. Uma mulher, com o nariz entupido e fanhosa, fala de maneira fácil e espontânea: “Nossa Senhora, meu nariz tá entupido e eu tô ficando é doida. Vai trabalhar, fica em casa, morre de vírus, morre de fome; marido em casa, filho pulando, filho gritando, cachorro latindo, gato miando, tudo junto; vídeo de bióloga, vídeo de médico, vídeo de empresário, vídeo de infectologista, vídeo da enfermeira, vídeo do padre, vídeo do pastor; vídeo do presidente, vídeo do governador, vídeo do prefeito, vídeo do caraia quatro; limpa tudo, fecha tudo, vai morrer, não vai morrer; bate panela contra, bate panela a favor, vai pra janela, faz louvor, chama a pomba gira, vai pro terreiro, joga água sanitária; bate palma pro médico, bate palma pra enfermeira, pro pessoal do supermercado; pede ajuda pro santo, pede ajuda pro orixá; lava a mão, passa álcool, bebe pinga, usa máscara, não usa máscara, vai vacinar, não vai vacinar, tira o véio da rua, joga água no véio, põe luva no véio, leva o vírus pra rua, leva o vírus pra casa…”
A mulher termina essa ladainha com voz arrastada, dizendo: “E o mundo todo acabando!!!”
Mas bom mesmo foi no Turcomenistão, um país na Ásia Central, ex-integrante da União Soviética e um dos mais fechados do planeta. O ditador de lá resolveu o problema do vírus de uma vez: declarou que no país não existe coronavírus e baniu o uso da palavra. Aquela história de que um problema não existe se você não falar nele. Proibiu o uso pela imprensa e por indivíduos. A polícia pode prender qualquer um que usar a palavra em locais públicos, mesmo que seja em conversa entre amigos. Antes, ele já tinha banido outras palavras do alfabeto turcomeno, como “problema”. O nome do ditador é Gurbanguly Berdymukhamedov. Também, com um nome desses, ele deve pensar que pode qualquer coisa…
Enfim, cada um tenta superar este tempo de pandemia do coronavírus a seu modo. Em Santos, conforme li na Folha de SP, uma mulher de 23 anos ficou levemente ferida ao cair de uma janela no primeiro andar. Pular a janela foi a forma que encontrou pra sair de casa e ir visitar a mãe, pois o seu companheiro não deixava. Já Cristiane Gercina, colunista deste mesmo jornal, explica que não tem medo do coronavírus, mas quer sobreviver a ele com sanidade. Na quarentena, estava fazendo home office, auxiliando nas aulas online das duas filhas sem ser professora e tentando atender psicólogos e blogueiros que orientam a brincar com os filhos. Enquanto isso, lava, passa, cozinha, faxina, abre mão do salário e ainda tem que pagar as contas em dia. Assim, não consegue nem lavar as mãos. O pior é que tem malandro tentando aplicar golpes. Em Franca, golpistas pediram por telefone um depósito de R$ 4.900,00 a familiares de pessoa internada com suspeita de coronavírus, explicando que seria para realização de testes. Quando pediram a segunda vez, a família desconfiou e procurou a polícia. Tomara que sejam presos.
Bem, tudo isso já está passando. E ai poderemos nos cumprimentar, abraçar, beijar e falar “saúde” bem alto quando alguém espirrar.
Bióloga – Uberlândia – MG – anacoelhocarvalho@terra.com.br