Em nosso país parece faltar incentivo, coragem, determinação, criatividade e compromisso em algumas autoridades que têm o dever de cuidar não apenas da educação formal das nossas crianças mas, também, de áreas relacionadas ao lazer e ao bem-estar das mesmas e de maneira a proporcionar-lhes abundância de sadias oportunidades de desenvolvimento cultural. Percebo crianças atropelando a sua infância e deixando de amar e conviver harmoniosamente com os seus familiares, no intuito de progressivamente assimilarem noções ao menos básicas de civilidade e justiça. Por outro lado vejo estarmos esquecendo que crianças não são seres autodidatas e que, por isso, deveríamos dar a elas oportunidades de amadurecerem a sua personalidade e melhor estruturarem o seu caráter, principalmente por meios que possam inspirá-las a desenvolver-se de maneira plena, enquanto oferecendo-lhes benefícios condicionantes a um comportamento que lhes seja exigido, de acordo com circunstâncias diversas e apropriadas a cada uma delas. Penso sinceramente que o estado deve fazer-se um pouco mais ausente na educação informal de uma criança, porém nunca deixando de oferecer a ela oportunidades de crescimento de caráter e de amadurecimento da sua personalidade, através de ações que favoreçam a sua cultura e o seu interesse pela prática de sadias atividades comunitárias, de maneira que ela não sinta-se sufocada pelas exigências diárias e constantes de uma vida em sociedade. Mas tudo isso ainda é pouco ou mesmo nada se não houver uma participação efetiva dos seus pais ou responsáveis em sua educação. Sabemos que o fundamento último do qual se deriva a boa educação de uma criança deve estar em sua casa e que os bons modos e o interesse da mesma em alcançar nobres objetivos devem ser suscitados a partir do núcleo da sua família, enquanto orientada por profissionais multidisciplinares…quando necessário. O estado está aí, co-participando da educação intra-familiar enquanto oferecendo meios que atraem o interesse das crianças pelo lado sadio da vida, em uma transição para uma idade adulta responsável e produtiva e desde que, fique claro, com o incentivo dos seus pais e inclusive de maneira a receberem dos mesmos uma reta filosofia de vida e nunca da forma que, muitas vezes, é veiculada pelos meios de comunicação e principalmente pela Internet, devido ao fato de ser o modo mais usado por aqueles que buscam formas de entretenimento fácil, imediato e prazeroso mas que, não poucas vezes, resultam em dores futuras. Não concordo com a expressão “ a escola é a extensão do lar”. Francamente….Escola é escola e lar é lar, pais devem ser pais e professores são professores e pais que são professores devem saber distinguir e separar as suas funções, em benefício próprio e principalmente dos seus filhos. A distribuição de tarefas na educação dos filhos é necessária e os envolvidos deveriam ter plena consciência disso, adaptando-se e interagindo quando da aplicação de medidas que cooperem para o desenvolvimento moral e ético da criança; serem exigentes e ao mesmo tempo amorosos, sondarem o que se passa no coração e na mente de um impúbere. A verdade é que, também, assistimos a jovens ressentindo-se da crise de insatisfação que abala uma quase totalidade da sociedade contemporânea. Nossas crianças merecem particular, solícita e compreensiva atenção das suas respectivas famílias; elas estão inquietas, aflitas e reféns de um desencadeamento delirante de imagens e mensagens via internet que absorvem a sua atenção e terminam por conduzi-las a uma ascese para a qual, evidentemente, não estão sequer um pouco preparadas pois, até então, sensíveis ao extremo, mantinham o seu coração puro e manso. A família, atordoada, sofrida e horrorizada porém inconsciente da sua (muito) possível ação coadjuvante nos censuráveis atos do seu próprio filho, termina difundindo um lacônico anuncio da sua perplexidade; os amigos e a sociedade indagam sobre o fato durante alguns dias, a tragédia divulgada pela mídia é esquecida mas a raiz da sua causa permanece intocável, intacta e apta para novamente gerar o caos. E se as coisas continuarem nesse ritmo, jamais iremos vislumbrar qualquer solução para a delinqüência intramuros em escolas diversas. Educadores e jovens alunos falecidos em decorrência de sanhas juvenis em escolas são, sim, testemunhas incômodas e acusadores mudos de famílias em via de decomposição moral e cívica; pois quando uma sociedade leva tão uma considerável proporção de jovens a cometer crimes, tem-se o sinal certo de que ela chegou a alto grau de putrefação.

Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG