foram recomendados que deixassem de lado as posturas conservadoras e fossem aos bairros discutir com o povão a elaboração do orçamento participativo. “É preciso tirar esta bandeira das mãos dos anticomunistas raivosos e impatrióticos agora porque, no ano que vem, tem eleição sem ele.
O alcaide, que elabora o orçamento assessorado e assessorado por auxiliares da confiança dele, em reuniões secretas do gabinete, foi consultado sobre o programa e não se apôs. Afinal, na hora de botar as dotações no papel, a populaça fica bem longe. Não apita. Então, discutir é só discutir. É como na frase famosa de Millor Fernandes: “ O livre pensar, é só pensar.”
Com o sinal verde aberto, os patrióticos parlamentares municipais, principalmente os da situação, saíram para os bairros para discutir o “orçamento participativo” com a população. Na abertura dos trabalhos, na Associação dos Moradores do Bairro, o chefe dos representantes do povo fez um discurso empolgado e disse que ali estava para dar a palavra a quem quisesse reivindicar benefícios para a população. Um representante da oposição, em discurso inflamado, criticou os situacionistas porque incluiram no projeto de orçamento uma autorização para o prefeito pode a gastar 50% do Orçamento em créditos especiais sem ouvir os vereadores. Um morador, que ouviu as críticas, pediu a palavra e perguntou:
– Mas o que isto tem a ver com a falta de vagas aqui na escola, para os filha da gente?
Ficou sem resposta convincente.
No decorrer da reunião os presentes ficaram animados e uma senhora, com semblante preocupado, perguntou:
– Será que dá para os senhores botarem nesse orçamento um emprego para meu filho e para o meu marido que estão sem trabalho há mais de seis meses?
O silêncio dominou a sala. A mulher recebeu promessa de que alguém iria cuidar dos desempregados. Promeça batuta!
Em outra intervenção, um senhor de meia idade pediu providências no orçamento para trocar as lâmpadas dos postes da rua onde ele mora porque “os meninos quebram todas elas com estilingue”. Uma senhora idosa pediu providências orçamentárias para retirar um ponto de ônibus da frente da casa dela “porque os passageiros sujam tudo, todos os dias”. Assim nesta marcha e com intervenções semelhantes, encerrou-se a sessão extraordinária da Câmara de Utopiápolis para duscutir o Orçamento Municipal para o ano seguinte. O espetáculo vai continuar no ano que vem e tudo continuará como sempre foi sem nada tirar ou por no cenario municipal de Utopiapolis.