Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

A educação é o único remédio para tratar, e quem sabe curar, essa sociedade doente, porém, tem que ser ministrado em doses cavalares, durante muito tempo. Quaisquer interrupções podem retardar ou até inviabilizar o procedimento de cura.
Porém, como todos sabemos, a educação no Brasil está atrasada ao menos 20 anos, desde o infantil até o ensino superior. Uma educação coordenada pelo Ministério da Educação (Mec), no âmbito federal, mas que tem a execução nas esferas municipais e estaduais, o que não deixa de ser mais um complicador.
No Brasil, conseguimos visualizar os problemas e, às vezes, as soluções, porém, costumeiramente não enxergamos o tempo que se exigiria para colocar em prática com êxito as alternativas viáveis de resolução para os casos mais graves do país.
A burocracia estatal é gigante e o afastamento entre os entes da federação é outro fator complicador. Com 5.570 municípios e uma extensão territorial continental, as ações se perdem sem que a maior parte tenha ao menos contato com suas metas.
Para complicar ainda mais, temos questões de cunho ideológico que começaram a embaralhar a cabeça dos brasileiros a partir de 2018. Questões sem fundamento baseado na inteligência dos fatos, mas sim em mentiras propagadas pelos próceres da direita nacional, visando tão somente deturpar processos eleitorais e agredir a esquerda.
Com isso, o ensino acabou sendo vítima de diversas Fake News, todas desmentidas, porém, elas vivem como fantasmas pairando sobre a cabeça dos pais, alunos e até membros do sistema educacional brasileiro.
Seria necessária uma reforma completa em todo sistema educacional brasileiro, desde o infantil até o nível superior. Reformulando carreiras, currículos escolares, dotando as escolas de infraestrutura adequada ao ensino, com conforto, tecnologia e condições mínimas de ensino.
Neste sentido, o Estado do Ceará tem realizado mudanças estruturais que já surtem efeitos práticos com alunos se destacando em diversos índices nacionais de aferição do aprendizado. Superando os estados do Sul e Sudeste, que em teoria possuem mais recursos e condições estruturais para estar à frente. Infelizmente, o caso cearense é isolado, não sendo copiado em nenhum outro ente da federação.
Há muito tempo, tanto que perdi a conta, ouço dizer que um dos problemas do sistema educacional brasileiro são as autoridades perdendo tempo e recursos em coisas que ao final não geram crescimento e desenvolvimento para o aprendizado. Tempo em que deixam de somar esforços nas ações que realmente deveriam importar. Governantes dos Estados e Municípios torram milhões em licitações para a compra de equipamentos de informática, prédios, merendas e salários dos professores. Pouco ou quase nada é investido em coisas essenciais como formação dos quadros de professores e direção, discussão e modernização das práticas na sala de aula, dever de casa, avaliação, qualidade dos livros didáticos e dos materiais de apoio, currículo e o envolvimento com os resultados, pontos que costumam ser deixados de lado.
Nas ruas, os brasileiros comuns pensam que os problemas da Educação no Brasil se resumem a recursos financeiros, o que é um ledo e cruel engano. Primeiro porque os recursos sempre existiram, o grande desafio é fazê-los chegar ao seu destino intacto. A corrupção no Brasil tem tentáculos em diversos escalões, estando presente em praticamente todos os lugares onde haja dinheiro e processos licitatórios. Não pense erroneamente que a corrupção está apenas no Poder Executivo Municipal, Estadual ou Federal, pois está também no Congresso Nacional, com suas indefectíveis emendas parlamentares e o desvio de verbas. Vide os casos ocorrido na gestão Bolsonaro no MEC e nas “escolas fakes do Piauí”
Sabemos que a corrupção tem várias formas de atuação, podendo ocorrer na licitação, na forma de propinas, no desvio de verbas, etc. O Brasil precisa, antes de qualquer coisa, ser estudado com profundidade, reformulado e redescoberto para poder sair do zero e recomeçar.
Se o processo passar incólume pelo veio da corrupção, precisará ainda ultrapassar a barreira dos burocratas, dos incompetentes e dos intelectuais de plantão. Estes atuam em projetos que acabam desvirtuando o processo educacional, confundindo a sociedade e muitas vezes atraindo o ódio da mídia, dos pais e principalmente dos professores. Para poder começar uma revolução na Educação é preciso prender os corruptos e afastar os demagogos usando a ferramenta universal da transparência, enquanto os incompetentes você reeduca. Ainda sobram os tecnocratas que lutam por programas quantitativos baseados apenas na ideologia. Para estes, é necessário implantar uma agenda maximalista.
Não adianta encher o currículo escolar de matérias como se a simples inclusão destas fosse dar a qualidade necessária em sala de aula idêntica às que os alunos do ensino privado e dos países de primeiro mundo possuem. É mais do que importante que a sociedade questione: nossas escolas conseguem dar conta de tanta inserção, tantas temáticas transversais? Óbvio que não, definitivamente não conseguem, bastando pesquisar e perceber que nossos alunos estão abaixo da média em Matemática e Língua Portuguesa.
Desde o final da década de 70, percebemos uma decadência nítida no nosso sistema educacional. Neste longo período de 43 anos, em raros momentos tivemos a impressão de que haveria uma mudança nesta condição. Se por um lado, governantes fazem apenas o que manda a lei, por outro, parcela considerável da sociedade abdica, por diversos fatores, de estudar e de lutar por uma educação de qualidade.
Uma pesquisa conjunta do Sesi e Senai, realizada pelo Instituto FSB Pesquisa e divulgada no dia 26 de maio de 2023, aponta que 85% dos brasileiros acima de 16 anos estão fora da escola. A necessidade de ajudar financeiramente a família foi apontada pela maioria (47%) como o maior motivo para a interrupção dos estudos. Outros 12% não estão matriculados para conseguir o próprio dinheiro ou ganhar autonomia. O levantamento destaca que a região Sul concentra a maior parcela desta fatia da população fora da escola (89%). Em seguida, aparecem o Sudeste (86%), Norte/Centro-Oeste (83%) e Nordeste (82%). Entre os homens, 84% não estão matriculados em nenhuma unidade escolar e entre as mulheres o índice chega a 86%.
O estudo apontou que 11% dos entrevistados alegam não estarem matriculados por não terem interesse em continuar estudando, outros 38% interromperam os estudos por terem alcançado a escolaridade que desejavam e 57% dizem não ter condições de prosseguir com os estudos.
A parcela de pessoas que abandonaram os estudos varia entre as regiões do país. No Sul, a fatia representa 89% da população acima de 16 anos. As demais regiões figuram na seguinte ordem: Sudeste (86%), Norte/Centro-Oeste (83%) e Nordeste (82%). Entre homens, a parcela que afirma não estar matriculada em qualquer unidade de ensino representa 84%, enquanto entre as mulheres o grupo aglutina uma fatia de 86%.
O FSB entrevistou presencialmente mais de 2 mil brasileiros com idades a partir de 16 anos. Pesquisadores ouviram pessoas em todas as 27 unidades da Federação, em dezembro de 2022. Diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi afirma que o cenário é preocupante e que pode ter sofrido influência da pandemia de Covid-19. “As razões são um tanto quanto perceptíveis, fazem parte de um sentimento geral da sociedade”, pontua. “A pesquisa traz para nós uma dura reflexão sobre a necessidade de melhorar a qualidade da educação, a atratividade da escola e, como um resultado geral, melhorar a produtividade das pessoas na sociedade”, complementa. Nos últimos 10 anos, o Estado brasileiro, por motivos diversos, aprofundou ainda mais essa lacuna e agravou sensivelmente esse grave problema brasileiro. O tumultuado governo de Dilma Rousseff, seguido do inodoro Michel Temer e do inútil Bolsonaro jogaram dados e números da educação num limbo.
A população, embora devesse ter consciência da importância do estudo em suas vidas, carece de informação, incentivo, opções e uma educação de qualidade nas escolas públicas. Será uma tarefa muito complicada reverter este quadro danoso em poucos anos.
Percebemos que o caminho é longo, tortuoso e de difícil acesso para mudarmos a educação de patamar no Brasil. Portanto, a cura da nossa sociedade está distante… tanto quanto é improvável.

Texto extraído do meu livro “Uma sociedade doente” cujo lançamento será em setembro/2024.