Mais uma vez é chegada a hora de renovarmos o nosso compromisso com a democracia e após trinta e nove anos de a termos reconquistado: comparecermos frente à urna eleitoral e ali oficializarmos os nossos votos em relação a quem desejamos assistir representando-nos, dignamente, nos poderes Executivo e Legislativo municipais. É nessa época que aumenta a minha indignação quanto ao absurdo de termos a obrigatoriedade de comparecer frente às urnas em tão pequenos intervalos e o que, convenhamos, é uma dose cavalar de um exercício de cidadania mesmo que duramente reconquistado. De uma feita votamos para presidente, governador e deputados e de outra para prefeito e vereadores, ambas as vezes em intervalos de dois anos, embora para senadores haja um intervalo maior ou seja: oito anos. Sabemos que a coincidência de mandatos serviria para trazer uma grande economia para os cofres públicos, além de poupar-nos de um desgaste mental com a incidência de propagandas eleitorais insípidas e portanto inúteis e , ainda, pouparia os governantes de dedicarem-se a fuxicos e confabulações tão comuns naquele tempo e em vista de elegerem os seus pupilos. Por que é eleição, então assistimos não poucos candidatos sem qualquer idealismo político – cientes de suas derrotas- usarem do resultado das urnas como a um trampolim para alcançarem outras esferas do poder político e eleitos que, simplesmente, abandonam pela metade o mandato que lhes foi conferido para assumirem a diretoria ou a coordenação de órgãos oficias , deixando órfãos de representatividade os leitores que confiaram-lhes seus votos. Mas por agora o que cabe a cada um de nós, eleitores, é assistir nossas ruas e calçadas entupidas de “santinhos infernais” e adesivos de péssimo gosto esparramados por veículos diversos, além de serviços ambulantes de propaganda política sonora e estridente. Pergunto: é essa a festa da democracia e onde o voto é obrigatório ? Confesso que até a pouco tempo posicionava-me totalmente contra o alto valor destinado para a remuneração de cada vereador e à sua equipe de gabinete; eu pensava mesmo na gratuidade dos serviços dos senhores edis mas, francamente, santa ingenuidade essa a minha! Se não bastasse a antiga experiência norte-americana de não remunerar a classe política e daí a corrupção política ter atingido níveis altíssimos, ainda seria grande a ilusão de que após investir uma grande fortuna para se eleger, o candidato vitorioso ter que se abdicar de suas outroras atividades remuneradas para, enfim, dedicar-se exclusivamente a representar os interesses dos seus eleitores em relação à comunidade. E a tal festa da democracia já vai começar, com costuras de paradoxais ( e mesmo impensáveis) acordos políticos entre partidos de ideologias absolutamente conflitantes e a grande maioria do povo sem perceber que já atingimos o fundo do poço da ética, da moralidade e da dignidade política. E entre promessas de dentaduras, tijolos, cimento, botinas e de grandes favorecimentos comerciais e empresariais, certo é que em pouco tempo passaremos a assistir a mais uma guerra santa ou melhor…de santinhos e onde (quase) tudo é válido….depois conserta-se o mundo. Sim, depois e depois …..! Os eleitores brasileiros sentem-se , a cada dois anos, em estado de um eterno recomeço e o que faz lembrar-me a lenda mitológica de Sísifo: insiste, resiste, esmorece, cai, levanta e torna a insistir e resistir, porém sem nunca obter sucesso. Quando se sente no estado de um eterno recomeço e de que as coisas irão melhorar por meio de novas eleições, eis que reaparecem as decepções, as desilusões….e tornam os escândalos, a apatia política, a corrupção desbragada, favorecimentos, ausência de critérios racionais, o paternalismo, os feudos e a politicagem, entre outros condimentos da cultura política tupiniquim. O resultado, claro, é catastrófico. Em nome da democracia que muito disso acima exposto seja apenas conjecturas e muito distante da fracassomania. Apostemos, sim, na qualidade daqueles em quem iremos votar, em seus valores, em seu civismo e em sua visão estratégica para que Uberlândia continue avançando; convençamo-nos, até, por meio do desejo férreo de alguns dos candidatos a vereador e prefeito, a transformar a nossa Udi em uma Dubai do Cerrado; sim seríamos a Udibai dos trópicos e fossem cumpridas ao menos a metade das promessas a que temos assistido dos atuais candidatos.

Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG