Ana Maria Coelho Carvalho – Bióloga – uberlândia – MG – phpanacoelhocarvalho@terra.com.br

No livro “A longa marcha dos grilos canibais”, do biólogo molecular Fernando Reinach, há uma crônica intitulada “O que dizem os moais”, baseada no artigo científico “Collapse. How societies choose to fail or succeed”.
Nessa crônica, Fernando explica que os moais são gigantescas estátuas de pedra, com até 20m de altura e em número de 900, encontradas na Ilha de Páscoa, no Pacífico. A ilha foi descoberta em 1722, a uma distância de 3500 km da costa do Chile, sendo considerado o local mais isolado do planeta. Na época da descoberta possuía vegetação rasteira e era habitada por poucos índios que se alimentavam de ratos e praticavam canibalismo. De onde, então, teriam surgido os gigantescos moais? O mistério foi solucionado por arqueólogos que conseguiram reconstruir a história da ilha, estudando as camadas de lodo acumuladas nos pântanos e as camadas de lixo deixadas pelas gerações anteriores. Concluíram que os primeiros habitantes lá chegaram por volta do ano 900, quando a ilha possuía florestas de árvores grossas, palmeiras gigantes, muitos pássaros e tartarugas marinhas. Algum tempo depois, vieram ratos de outras ilhas da Polinésia. Os habitantes passaram a utilizar as árvores para fazer canoas e pescar peixes e golfinhos. Depois, desmataram as florestas para a agricultura, o que permitiu o aumento da população, que chegou a cerca de 30 mil pessoas no ano 1200. Nessa ocasião, a população se dedicava à produção dos moais, que eram transportados por até 500 pessoas, utilizando cordas de palmeiras e rolos de troncos enormes. Com isso, as florestas desapareceram e em 1600 não havia mais árvores. Sem árvores, não havia pássaros, nem canoas, nem peixes. Fome, guerras e canibalismo reduziram a população a cerca de 2000 pessoas, isoladas no meio do Pacífico por falta de canoas. Num período de 800 anos, o homem chegou à ilha, criou uma civilização, destruiu o ambiente e quase extinguiu a si próprio. Mas os moais permaneceram, como a nos dizer que precisamos cuidar da Terra.
Vários artigos do livro também abordam a extinção de espécies. Como o que trata de acidificação dos oceanos, causada pelo aumento de gás carbônico na atmosfera. Isso pode dissolver ou dificultar a formação dos esqueletos dos animais marinhos, diminuindo a biodiversidade. Outro artigo mostra que mesmo atitudes tomadas pelo homem para proteger as espécies podem ter efeito perverso. Por exemplo, as listas de animais ameaçados de extinção podem aumentar a procura por essas espécies, como aconteceu com um pássaro da ilha de Bali. Em 1970 seu nome foi colocado na lista e seu preço aumentou rapidamente entre os colecionadores. Hoje está praticamente extinto. Em 1990, foi a vez do peixe chinês bahaba. Após o seu nome ser listado, cerca de 100 barcos passaram a dedicar-se exclusivamente à sua captura.
Assim, o autor ressalta que não há como negar que o homem tem um papel importante na extinção de espécies. Também destaca que cerca de 99,9% de todas as espécies de plantas e animais que já habitaram o planeta atualmente estão extintas. Ou seja, de mil que existiram, apenas uma está hoje entre nós. Portanto, o destino das espécies é a extinção. E não será o bicho homem que vai escapar disso. Aliás, o comportamento predatório da espécie já determinou o início do nosso processo de extinção. E, segundo Fernando Reinach, talvez o desaparecimento da raça humana permita que novos e melhores seres vivos ocupem nosso lugar no planeta.

Portanto, enquanto ainda estamos por aqui, é melhor fazermos o bem e cuidarmos do nosso planeta. Pois a Terra está isolada no espaço, assim como a longínqua ilha de Páscoa está isolada no Pacífico, com seus gigantescos moais que reinam tristemente na paisagem vulcânica, praticamente sem árvores.