Ana Maria Coelho Carvalho – Bióloga – Uberlândia – MG
Não gosto de enviar mensagens de bom dia, boa tarde, boa noite…Não sei se as pessoas têm tanto tempo assim de ficarem lendo. Mas gosto de muitas que recebo. Por exemplo, desta : -“Se é para viver, vamos viver direito. Com conteúdo. Troque o verbo, mude a frase, inverta a culpa. O sujeito da oração é você. A história é sua, mãos à obra! Melhore aquele capítulo, joque fora o que não cabe mais, embole a tristeza , o medo, aceite seus erros, reescreva-se. Republique-se. Reinvente-se. E transforme-se na melhor edição feita de você.”
É isso aí. Cada um escreve a sua história. Se aquele capítulo não está bom, embola tudo, amassa, joga no lixo e começa a escrever outro. Invente, ouse, sonhe, enfrente desafios. Mesmo que dê muita confusão. Como aconteceu com a minha amiga, que não vou contar o nome, para proteger a personagem.
Ela, professora universitária e já na casa dos 60 anos, estava se sentindo fora do contexto social porque não tinha Facebook. Resolveu pedir auxílio à uma sobrinha para entrar nessa rede. Deu certo e já no primeiro dia, muito conhecida e amada pelos alunos, recebeu dezenas de mensagens. Algumas que achou muito estranhas, parabenizando-a e oferecendo apoio por ela ter assumido sua orientação sexual. No segundo dia, a mesma coisa. Sem entender o que acontecia, pediu socorro novamente á sobrinha. Essa chamou-a de “burra” e mostrou o problema. Havia uma pergunta na descrição do perfil: -“Você gosta de menino ou de menina ?” A minha amiga, pensando em meninos e meninas criancinhas, pensou :- ” Uai, claro que gosto dos dois “. E marcou. Pronto, com isso se identificou como bissexual. E recebeu todo apoio. Apavorada, saiu do Facebook e nunca mais voltou. Embolou este capítulo e jogou fora, foi uma reinvenção que não deu certo. Mas continuou tentando se reinventar e transformar-se em uma edição melhor dela mesma. Já com dois cursos de graduação, pós-doutorado no exterior, aposentada, está agora cursando disciplina optativa na universidade. Chega na sala de aula com seus vestidinhos estampados coloridos e de alcinhas, caneta com florzinha de crochê na ponta e senta-se no meio de jovens vestidos de preto e com tatuagem. Dia destes o professor perguntou: ” – Quem é favorável á liberação da maconha?” Todos levantaram a mão, menos ela…Ah, e teve um colega que perguntou : -” Você beija menina? Pediram para eu perguntar pra você.” E ela, espantada: ” Na boca???” Depois, completou : -“Eu beijava menino, mas no momento não beijo mais nada!” Agora ela anda escrevendo o próximo capítulo.
O importante é viver com conteúdo e se reescrever sempre. Eu, por exemplo, tentando enriquecer os capítulos finais da minha história, resolvi ser fazendeira, sem entender do assunto. Vou trocando os verbos, colocando conjunções , mudando as frases e vai dando certo . Por exemplo: “Tenho trinta vacas e não tenho nenhum boi. Não posso comprar outro porque todos os que comprei morreram. ” Daí coloco uma conjunção adversativa, acrescento um verbo e resolvo o problema: “Não posso comprar um boi, MAS posso pedir um emprestado” . E os casos que acontecem por lá dão emoção aos capítulos. Como no caso da galinha. Tenho três galinhas e dois galos. Dia desses, o caseiro enviou um aúdio avisando que o galo foi subir na galinha e escadeirou a galinha (do verbo escadeirar, lesar a bacia abdominal e torácica) . E ele não sabia se podia comer a galinha. Daí, coloco uma interjeição, uma conjunção causal e encerro o drama: “Jesus!Mas isso acontece?? Melhor o caseiro comer a galinha e eu comer o galo quando for na fazenda, PORQUE ainda restará um galo e a galinha não ficará sofrendo”. Lembrando que esse é um período composto e na oração sindética aditiva “e eu comer o galo” , o sujeito é o pronome pessoal reto, “eu”. Porque cada um de nós é sempre o sujeito da oração.
Ana Maria Coelho Carvalho