Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.
A censura está viva, apesar de não estarmos vivendo num regime de exceção ou numa ditadura militar no Brasil. O MP/SP e a Defensoria Pública foram obrigadas a impetrarem ação na Justiça contra o município de São José – SP. E o motivo foi a retirada de um livro das escolas da cidade em junho deste ano. A ação pede uma indenização por danos morais de cerca de R$ 150 mil.
O livro foi escrito por Flávia Martins de Carvalho, juíza que integra os quadros do Tribunal de Justiça de São Paulo e, é juíza ouvidora do Supremo Tribunal Federal, e contém versos e histórias que contam resumidamente a trajetória de mulheres de destaque em diversos campos da sociedade.
Mesmo assim, com toda notoriedade e o cargo ocupado pela autora do livro, apareceu na Câmara dos Vereadores da cidade um vereador com pouca – ou nenhuma – capacidade de compreensão de um texto, daqueles que ao longo da vida raras vezes se defrontou com um livro.
Mas o vereador Thomaz Henrique – PL/SP (Partido de Bolsonaro) não conteve a sua fúria e acusou o livro de “doutrinação ideológica” e “apologia ao aborto”. Tudo isso porque o livro cita a vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada a mando de um deputado bolsonarista no Rio de Janeiro.
As autoridades do MP/SP e da Defensoria Pública não encontraram nada que pudesse desabonar ou justificar a retirada dos livros das escolas. Eles amam armas, pastores charlatães e milicianos, porém odeiam livros, escritores e história.
A Secretaria de Educação constituiu uma comissão para examinar o livro e a conclusão é que “o livro não contém nenhuma conotação político-ideológica” e a citação a Marielle Franco é retratada por ser uma socióloga que contribuiu com mudanças importantes na sua área de atuação.
Quanto a justificativa de que o livro aborda direitos reprodutivos, é completamente descabida, uma vez que não há aprofundamento do tema no livro. Ou o vereador não leu nada do livro e foi levado por algum pai ou mãe histéricos ou precisa voltar aos bancos escolares para tentar aprimorar interpretação de textos.
A censura que os políticos ignóbeis do espectro de direita nacional querem impor à literatura, música e demais artes se assemelha à queima de livros em praça pública promovidas pelo assassino Adolf Hitler na Alemanha nazista ou pelas perseguições promovidas pela Igreja Católica contra mulheres na inquisição.
Marielle foi morta a mando de um deputado “bolsonarista” ? É a primeira vez que vejo esta versão da história… Será verdade? Muitos políticos já foram assassinados neste país, com extrema violência alguns, mas parece que Marielle transformou-se numa bandeira de pregação ideológica contra os bolsonaristas, ao alvitre dos fatos já comprovados.