Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG
Nos começos de 1930, o comércio atacadista, em Uberlândia, era comandado por Rezende & Cia, Custódio Pereira, Teixeira Costa e alguns outros que vendiam para o Triângulo Mineiro e sudoeste goiano pelo sistema de contas-correntes. Muitas vezes, vendiam no princípio do ano e só recebiam no fim, depois da venda do gado.
Em 1939, Francisco Capparelli deixou seu emprego no Rezende & Cia e, com seus irmãos, montou sua casa própria – um pequeno varejo na avenida João Pinheiro, esquina com João Pessoa. Eram bons atacadistas dessa época, além dos já citados, Colombo Vilela, Viúva João Calixto, M. Serralha e Filho, Joaquim Fonseca, Irmãos Mendes, Casa Galiano.
Do varejo, os Capparelli passaram para um pequeno atacado para as redondezas: Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos, Tupaciguara. Trabalhavam também com café. O atacado uberlandense já fazia o sudoeste goiano e o Triângulo. Ainda não ia a Mato Grosso, porém Nego Amâncio, caminhoneiro destemido, chegava até lá e o Teixeira Costa pegava consignações para aquela zona.
Os motoristas, nessa época, eram profissionais destemidos que assumiam a responsabilidade por seus clientes recebedores de produtos enviados daqui. Eles levavam a mercadoria, na confiança dos atacadistas, e traziam o pagamento na volta. A venda para recebimento na safra também continuava ativa, praticada pelos comerciantes em geral, porém aproximava-se do fim. A Casa Capparelli começou a usar o sistema daqueles motoristas, só vendendo para receber na volta dos caminhões. Isso, em meados da década de 1940.
As compras eram feitas a viajantes paulistas. Eles davam de 30 a 60 dias de prazo.
Capparelli começou a beneficiar sal num barracão existente à frente de sua Casa, na avenida João Pinheiro. Era o sal Famoso. Chegou a construir três galpões para trabalhar com o sal. Vendia na cidade e na linha da estrada de ferro de Goiás (Araguari até Anápolis). Naquela época, Anápolis era a boca do sertão. Capparelli vendia naquela área até 30.000 sacas. O sal Famoso pegou bem não só pela qualidade e pelo preço, mas, também, pela pesagem correta e pelo uso de tecidos de boa qualidade na embalagem. Esse tecido era usado, depois, para se fazerem roupas para a criançada. O sal bruto vinha de Mossoró até Santos por navio e, até aqui, por trem de ferro.
Depois do Nego Amâncio ter conquistado o mercado de Goiás e Mato Grosso para Uberlândia, Francisco Capparelli viajou até esses extremos, nos começos dos anos 1940 e vendeu 12 caminhões de mercadorias (aproximadamente 48 toneladas).
Nego Amâncio tirava os pedidos a troco do frete e aqui, distribuía-os pelos atacadistas. Capparelli chegou a ter clientes no norte de Mato Grosso. Chegou a ser o maior atacado da cidade cobrindo Minas Gerais, Goiás, Bahia, São Paulo (parte) e Mato Grosso. Chegou a despachar até 20 caminhões por dia. Com a criação de Brasília chegou até o Maranhão.
Seus principais produtos eram: café, açúcar, enxadas Duas Caras, facões Jacaré, soda cáustica Caveira e Giant, lima K & F importada, ferramentas, secos e molhados, bebidas e latarias.
Quando desativou, começava a crescer seu ex-cliente Casas Alô Brasil. (Fonte: Francisco Capparelli).