Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG
A primeira mostra de produtos feita em Uberlândia ocorreu em 1936 e recebeu o nome de EXPOSIÇÃO FEIRA DO BRASIL CENTRAL. Foi montada na avenida Floriano Peixoto, esquina com a rua Tenente Virmondes, ao lado da Santa Casa de Misericórdia que ficava onde está a empresa Uberlândia Automóveis.
Foi organizada por um empresário forasteiro, itinerante, João Garcez de Moraes, e contou com os apoios do Prefeito Vasco Giffoni e da Associação Comercial, Industrial e Agro Pecuária de Uberlândia cujo Presidente era Aristides Bernardes de Rezende.
Garcez movimentou-se. Montou um escritório chamado pomposamente de Comissariado Geral, num sobrado à avenida Afonso Pena nº 171, Caixa Postal 178 e telefone 237.
Convenceu o Governador de Goiás, Pedro Ludovico, a estar presente e a participar enviando um pavilhão representativo das cidades do Estado.
Houve duas inaugurações: uma, em meados de maio, para o povo, e uma oficial, com representantes das autoridades mineiras e goianas. Pedro Ludovico não veio, mas mandou o pavilhão.
O que mais chamou a atenção na Exposição Feira foram os circos e o parque de diversões, porque não aconteceu o sucesso que se esperava com os produtos regionais. Muitas indústrias não participaram.
Apresentaram-se dois circos: o Circo Teatro Universal, que ficou até o dia 6 de junho, e o Circo Teatro Arruda, que se armou em seguida.
A elite da cidade se fez presente passeando pelos pavilhões, tomando chopp da Paulista e escutando o “jazz” (“jazz” era o nome que se dava aos pequenos conjuntos instrumentais naquela época).
Na exposição artística, os méritos foram para o japonês Momorruki, que fazia desenhos a lápis, e para os quadros do professor Luiz Lago. Houve outros destaques. As maquetes dos monumentos fúnebres da Marmoraria Mineira, cujo proprietário era Rafael Anastácio, as manufaturas em couro de Manuel dos Santos (pai do Ministro Homero Santos) e de Morum Bernardino, a Cerâmica Progresso de José Agostinho & Filho, e a Fazenda do Capim, do italiano José Camin, que apresentou casulos de bicho-da-seda, queijos e café.
Outras coisas bonitas foram os medalhões de bronze feitos pelos Crosara com as efígies de Pedro Ludovico, Tiradentes e Benedito Valadares. Alguém teria guardado alguma dessas valiosas medalhas?
Agradaram também os costumes (roupas) de Eduardo Felice, a seção de ladrilhos de João Schiavinatto e as maquetes de Cesário Crosara & Filhos.
Os alunos da Escola Normal fizeram um mapa em relevo da cidade e os meninos dos Grupos Escolares Bueno Brandão e dr. Duarte apresentaram diversos trabalhos.
Na parte da pecuária, os vencedores foram Hymalaia (de Rivalino Alves dos Santos), Mundial (de Aniceto Antônio da Silva) e Vênus (de Orlando Mendes).
Não foi uma boa Exposição, entretanto. A freqüência de público não atingiu a expectativa. As “montres” (palavra portuguesa que se usava na época para evitar a francesa “vitrine”) ficaram vazias, com poucos produtos expostos.
Ao final da Exposição, houve festa, música, fogos de artifício, bailados populares e a apuração final do Concurso de Beleza. As jovens mais votadas, pela ordem, foram as seguintes:
1º lugar – DAGMAR ALVIM (Rainha), 642 votos
2º lugar – DIVINA GRAMMA, 588 votos
3º lugar – ZILDA GIFFONI, 496 votos
4º lugar – BLANDA DO EGYPTO, 366 votos
5º lugar – IRIS MONTEIRO, 306 votos.
Quem zombou muito da Exposição foi o cronista “Pichonoso” que publicou uma sátira no jornal “O Repórter” de 5 de julho de 1936 dizendo, entre coisas, que a Exposição Feira, “em vez de certamen industrial… foi na verdade a maior das potocas…” E ainda fez versinhos críticos:
“Era uma vez… / A Exposição Feira / Do senhor Garcez. / Morreu de tédio, / de spleen, / assim, / despercebidamente.”
(Fontes: Atas da ACIUB e A. Pereira da Silva)