Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Fala-se muito sobre o racismo no Brasil e em diversos outros países, onde este é tipificado como crime. Entretanto, em nosso país alegre, miscigenado e varonil, uma mulher armada persegue um jovem negro, formado em jornalismo, pelas ruas da zona norte de São Paulo, empunhando uma arma de fogo, na véspera das eleições gerais de 2022.
Ela é deputada federal, da ala da extrema-direita bolsonarista, que defendem armas, racismo, negacionismo e pregam contra o STF, TSE e a nossa democracia.
Pois, ao ser processada, tem o direito de aguardar na fila do STF para ser julgada, uma opção que a vítima não tem, assim como todos nós que estamos situados no andar de baixo da justiça brasileira.
Pois bem, não satisfeita com a cena que foi filmada correndo atrás do jovem com arma em punho, ela entrou com uma ação na justiça contra o rapaz. Motivo? Ele escreveu um artigo que falava ou descrevia as ações políticas da deputada. Um trecho do seu artigo dizia o seguinte: “segue uma seita de doentes de extrema-direita” e “segue cometendo atrocidades atrás de atrocidades”.
Por conta do artigo, o jovem Luan foi processado pela deputada e condenado por difamação a uma pena de oito meses de detenção em regime aberto. Depois, a punição foi substituída pela prestação de serviços comunitários.
Negar o pedido de habeas corpus revela uma Justiça, por vezes, seletiva e que confirma as estatísticas históricas: condenar pretos e pardos com muito mais frequência, enquanto trata os demais no andar de cima da Justiça com café, petit four e champagne.
Esse episódio escancara de vez a diferenciação entre nós na mesma sociedade e diante das mesmas leis e justiça. Onde juízes são mais rigorosos com os humildes, os pobres e os negros do que com políticos, empresários e milionários.
Além disso, a condenação segue uma lógica conhecida: transformar a vítima em agressor. E, embora as imagens de Carla Zambelli perseguindo Luan, um homem negro, sejam bastante fortes e didáticas, elas não foram suficientes para que Luan não fosse condenado. Talvez tenha faltado acrescentar imagens em 3D ou desenhos holográficos para que o meritíssimo entendesse o que havia acontecido nas ruas paulistanas.
Isso sem falar que a Deputada Carla Zambelli do PL/SP se contradiz ao defender a liberdade de expressão e depois processar o jornalista por conta do que ele escreveu. Ou seja, a extrema-direita defende a liberdade de expressão somente quando quer ofender, mas quando recebe críticas processa por difamação. Hipócritas, imorais e fascistas agem assim, por coincidência.