Passadas as eleições – a aguardada e prestigiada festa da democracia – eleitos e derrotados já estão a esbarrar-se em corredores, salas e gabinetes da Câmara e o que, sabemos, termina registrando um dos quadros mais pitorescos e expressivos da vida parlamentar municipal. Reencontram-se após a refrega do pleito ao toque de reuni-los; junto aos seus antigos assessores os parlamentares exonerados despedem-se e os novos escolhidos já estão na expectativa de assumirem os referidos e cobiçados cargos em seus respectivos e futuros gabinetes. É uma estranha, digamos, policromia de personagens e que, talvez, dê ensejo a um interessante romance; uma legião de preferidos e de todos os tipos a ocuparem os tais cargos de “confiança”. Hoje qualquer cidadão que, mesmo por poucas vezes, já tenha freqüentado o hall e alguns dos gabinetes da Câmara uberlandense, logo à primeira vista toma conhecimento de quem ganhou e de quem perdeu. Os vitoriosos, com os seus respectivos séquitos de bajuladores são loquazes e, com requintes de detalhes, explicam a Deus e a todos, detalhadamente, como empenharam-se durante as suas respectivas e sacrificantes campanhas eleitorais. E haja platéia para ouvi-los! Os estreantes ou calouros, naturalmente radiantes diante das suas novas e nobilíssimas funções, jactuam-se ingenuamente da luta para chegar até ali e, em altos brados ,anunciam que não fosse a sua insistência e o seu poder de persuasão durante o périplo eleitoreiro que empreenderam durante a caça aos votos, certamente estariam fulminados e ao mesmo tempo que enumeram, repetidamente e com rara precisão matemática, a quantidade de votos que receberam em cada região desta metrópole. Alguns dos eleitos, mais afoitos, chegam mesmo a exagerar: nos corredores da Câmara agarram alguém pelo braço e o levam a um cantos, onde anunciam-lhe a quantidade de votos registrados em seu nome e precisamente em cada seção de cada zona eleitoral da Grande Udi. E quem perdeu as eleições, principalmente se gastou o que tinha e até o que não tinha para tentar eleger-se? Dignos de piedade curtem a tristeza isolados em casa ou até bem longe dali e mesmo do bairro onde residem; imaginam não reaparecer tão logo na Câmara e sequer para assinar recibos dos últimos subsídios que lhes foram pontualmente pagos. Alguns, expressando uma timidez que não era-lhes característica, aos poucos vão surgindo e esgueirando-se pelos corredores daquela casa e rapidamente trocam tímidos acenos com alguns contínuos, fingindo iludirem a si mesmos. Por outro lado já tive a oportunidade de assistir candidatos derrotados expressando clara rebeldia, revoltados e inconformados: – “Vergonhoso”! “Houve compra de votos”! “A eleição mais fraudulenta da história”! “Urnas infectadas”! “Um deprimente espetáculo de democracia”! Quando não, culpam os partidos pelos quais disputaram as eleições: -“A continuar o atual diretório, jamais irão conseguir eleger sequer um candidato”! A Câmara dos Vereadores depois das eleições, torna-se um palco iluminado! Ali, sim, o palco da “vaudeville” dos eleitos e a pungente tragédia dos derrotados. Termino essas linhas lembrando de alguns que não tiveram a sorte de eleger-se e que custam a morrer política e provisoriamente. Quando menos se espera, eis que lá aparecem eles ….. fagueiros e rindo à toa. Depois de um breve período após a consumação da derrota nas urnas e de terem definhado e estrebuchado , eis que alguns deles surgem lépidos e sorridentes ocupando algum “cargo de confiança” na prefeitura municipal, depois de apadrinhados e nomeados pelo “sistema” vencedor. Enfim, políticos não morrem; estão sempre por aí sassaricando e prestigiando ou desafiando a ordem e as autoridades constituídas, pois eles têm fôlego de gato ou seja: logo recuperam-se e tornam à cena para, de outras vezes, novamente buscarem a chance de ocupar o topo do Olimpo do legislativo municipal.

Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG