Se há algo que deixa-me aturdido, confundido e abismado é quando tomo conhecimento pela imprensa da prisão de um criminoso em flagrante de delito e ouvir dos repórteres que o facínora é “suspeito” do cometimento da infração a ele atribuída, desconsiderando frontalmente que contra ele pesa todo um conjunto de irrepreensíveis provas e testemunhos diversos.Meu Deus! Ou falta competência de discernimento da parte de alguns profissionais de comunicação ou a nossa inteligência está sendo constantemente subjugada ou, ainda, alguns eruditos lá em Brasília mudaram a interpretação que antes dava-se a práticas delituosas e o que, afirmo, ainda não chegou ao meu conhecimento. Isso passa a impressão de que parte da imprensa cobre com um véu de dissimulação a realidade dos fatos, ao tentar ludibriar ou brincar com as mais vivas inteligências. Provamos, então, de uma estruturada mentira e não de mero engano, um acidente de linguagem quando, na realidade, trata-se uma potoca que vêm – aos poucos – sendo empurrada goela abaixo, institucionalizada e que chega a causar nojo e náuseas de tanta ira e revolta em não poucos telespectadores. Quem trata um inquestionável criminoso por “suspeito”, confere ao mesmo a possibilidade de ver-se livre de todas as acusações que lhes são impostas. Aliás, toda essa questão torna ambíguo ou mesmo desacreditado o conteúdo de uma notícia , amolece a credibilidade de um veículo de comunicação e , ao mesmo tempo, leva a concluir-se que formamos um bando de dezenas de milhões de energúmenos e insensitivos. Como a expressão é conseqüência natural do pensamento, logo nota-se que há algo de desatino, um contrassenso, um absurdo na mente de quem trata um criminoso por suspeito, talvez porque tolhido por receio de ser censurado pela sua clara objetividade quando, na realidade, deveria ser verdadeiramente respeitado e nunca suscetível de ser enquadrado na condição de desrespeitoso em relação ao meliante. E é interessante observar o quanto o ponto de vista e expressões de alguns jornalistas são imitados e multiplicados em profusão, o que pode fazer com que o engano ou o vício de linguagem de um seja repetido de maneira exponencial, debilitando a confiança popular em meios de comunicação de massa que incorrem nesse despudor da linda língua portuguesa e o que atinge diretamente a fecundidade de expressão.
Gustavo Hoffay
Agente Social