Ana Coelho Carvalho – Bióloga – Uberlândia – MG

Li recentemente o livro “O Evangelho secreto da Virgem Maria”, de autoria de Santiago Martín, um sacerdote católico espanhol. Ele , um aficionado por documentos antigos, pesquisou textos apócrifos sobre Maria. Esses escritos, de natureza religiosa mas não incluídos no cânone oficial das escrituras sagradas, tratam da vida de Maria, sua maternidade e seu papel na história cristã. Baseado em seus estudos, o autor escreveu o livro na primeira pessoa, como se fosse Maria contando sua vida para João, o discípulo amado que ficou cuidando de Maria após a morte e ressureição de Jesus.

Há trechos muito belos , que ajudam a melhor conhecer e amar Maria. Por exemplo, no capítulo “Tinha quinze anos”, quando da anunciação do anjo Gabriel, Maria contou para João : “Estava no meu pequeno quarto, quando ele se encheu de luz. Estava ajoelhada , com minha roupa modesta presa acima do joelho para não gastá-la, quando ele apareceu. Eu me assustei sim, mas era um medo que não era medo. Ele estava ali, belo e luzidio, doce e cheio de paz, e era grande a minha sintonia entre sua alma e minha tranquilidade. Quando falou, assustei-me , não porque sua voz era feia, mas porque o que ele falou me deixou perplexa”.

Em outro capítulo, intitulado “O dia seguinte”, Maria conta para João que quase não dormiu aquela noite. Sabia que algo estava dentro dela , algo novo, vivo, maravillhoso. Porém, o que era? Ou melhor, quem era? Que tipo de Messias era aquele que nasceria numa aldeia perdida da Galileia? Quem escolheria por mãe uma pobre moça, filha de um artesão? Afirma que não sabia como ocorreu, apenas aceitava que para Deus nada era impossível. Mas como poderia um ser humano ser filho de Deus? E o que diria José, a quem estava prometida em casamento? E se fosse apedrejada por adultério, como era o costume da época?”

Conta que foi acalmada ao entender que sua força estava na confiança, no poder e no amor de Deus. Sentiu sua presença e adormeceu em seus braços. De manhã, sua mãe, Ana, a acordou e ela se pôs a chorar. Disse-lhe: -“Vou ser mãe”. Choraram abraçadas por um longo tempo. Quando Maria contou para Ana sobre a visita do anjo Gabriel, essa disse-lhe: -“Acredito em ti, filha, pois o que contas é incrível demais para ser inventado e porque jamais tive motivos para duvidar de ti “. E quando Ana contou para Joaquim, o pai de Maria, ele ouviu tudo, sentado em um banquinho, nervoso e angustiado. Disse que a filha era a alegria de sua alma, mas sabia , desde seu nascimento, que ela pertencia a Deus. Ajoelharam-se perto de Maria e beijaram suas mãos.

Em vários capítulos, Maria segue contando sua vida: como Joaquim contou para José que ela estava grávida; o que aprendeu com a prima Izabel; o nascimento e a infância de Jesus; a morte de José; o tempo que passaram juntos até Ele completar 30 anos; a morte na cruz. No capítulo “O verbo se fez carne”, sobre o nascimento de Jesus, Maria diz para João: -“Como explicar para ti, um homem, para que compreendas? Penso que somente uma mulher compreenderia. Foi somente isso: um parto. E o menino nasceu. José estava ali, do meu lado, rompendo o costume dos homens ficarem longe das mulheres neste momento. Mas ele só conseguia manter o fogo aceso e retorcer sua túnica entre as mãos. Duas mulheres da aldeia me ajudaram. O menino nasceu como se um raio de luz atravessasse um cristal, de forma límpida. Os esforços e contrações me produziram mais angustia e nervosismo do que danos e dores. Ele nascera e eu o tinha em meus braços. Era mais uma criança , mas ao mesmo tempo única, diferente. Parecia uma luz, porém te digo, mais que uma luz, era o próprio sol. Ao tomá-lo nos braços, tão pequeno, tão frágil e enrugado, parecia-me impossível que fosse outra coisa além de uma criança normal. José o olhava com um pouco de temor e de curiosidade. Quem sabe pensava que o menino nasceria com alguma marca de poder e que desde o início seria mais forte, mais esperto, mais sobre-humano. Mas era um menino tão normal que as duas mulheres não notaram nada e foram embora. Lá fora era noite e à luz da pequena fogueira que José mantinha acesa, a gruta parecia iluminada pelo maior dos holofotes. Não que do Menino saíssem raios de luz. Ele era a própria luz. Eu não podia deixar de contemplá-lo. Pela primeira vez notei um sentimento que não tinha tido. Olhava-o e de repente comecei a adorá-lo. ”

Continuando, Maria conta que José pediu para pegar o menino, que dormia tranquilo. Segurou-o em seus braços fortes, olhou-o longamente , beijou seu rosto e lhe disse , suavemente, para não despertá-lo, que também o amava. Que não sabia que sangue corria nas suas veias, além do sangue da mãe; não sabia sequer se era um homem normal ou um ser extraordinário, sob aquela aparência tão simples; e não sabia se devia prostar-se aos seus pés, como o Messias que Ele era. Mas que dava graças ao Altíssimo por ter confiado nele para ajudar em sua obra , que o chamaria de filho, que estava ali para dar sua vida por ele, para cuidar da sua mãe e ajudá-lo na obra de Deus para a qual veio ao mundo.

Tudo tão divino, tão lindo, tão mágico, que nem há o que falar. Apenas obrigado Jesus, Maria e José. Foi por amor a cada um de nós.