Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG
O padre João da Cruz Dantas Barbosa chegou a Uberabinha em 1865 para assumir a paróquia. Arregaçou as mangas e deu grande impulso às coisas do velho povoado. Foi ele quem, entre muitas outras coisas, transformou a pequena capela pioneira, de N. S. do Carmo e S. Sebastião, na Matriz que se manteve até a década de 40 do século passado quando foi demolida.
Preconceituosa, como todas as vilas da época, São Pedro de Uberabinha já tinha sua rua e seu Largo do Rosário apenas aguardando ocasião para construir a capela onde os negros tivessem um lugar para a sua piedade cristã, longe da igreja dos brancos.
Foi durante o vicariato do padre João, aí por 1876, que se começou a pensar seriamente na construção de uma capela dedicada ao Rosário de Maria Santíssima.
O primeiro pensamento foi construí-la nas fraldas do Fundinho, vertente do córrego de São Pedro, portanto, mais longe, e se chegou a acumular material nas proximidades para erguê-la, entretanto, optou-se pela praça dr. Duarte (que era o Largo do Rosário) e todo o material foi trasladado para lá. E aí foi construída.
Lá por 1891, Arlindo Teixeira, representando a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, solicitou ao Bispado autorização para construir nova capela num terreno vago, onde seria anos mais tarde, a praça Ruy Barbosa.
A memória oral registra que Arlindo não se sentia muito prestigiado com aquela igreja de negros defronte à sua casa que era no largo. Por outro lado, o povoado se desenvolvia subindo a barranca para tomar o planalto onde se assenta, hoje, o centro da cidade; a praça dr. Duarte já se transformava num centro comercial e aquela igreja bem ali no miolo além de reduzir espaços para os carros de bois, fazia da praça um reduto da “negrada”, principalmente nos seus dias festivos. E a cidade tinha em grande apreço seus valiosos preconceitos.
A nova construção, que durou anos e anos, foi contratada com Ismael Norberto de Meireles por um conto e seiscentos mil réis pagos em três vezes. Arlindo Teixeira foi o procurador que cuidou da obra. .
Dom Eduardo Duarte Silva, Bispo Diocesano de Uberaba, foi quem, em visita Pastoral, procedeu à bênção da capela, às 18 horas do dia 30 de maio de 1910. Era pároco, na ocasião, o padre André Aguirre.
A capela, entretanto, com o passar dos anos, tornou-se pequena para o crescente número de religiosos do lugar.
Dom Antônio de Almeida Lustoza, segundo Bispo Diocesano de Uberaba, em visita Pastoral de 1925 recomendou uma reforma da capela e entrou em contato com a Câmara Municipal que se comprometeu em providenciá-la desde que recebesse a planta.
O farmacêutico Cícero Macedo de Oliveira, que morava na praça, sugeriu que, em vez de reforma se construísse uma nova capela. O padre Albino Figueiredo Martins de Oliveira nomeou comissão para a obra tendo como presidente o dr. Cícero, mais o dr. Abelardo Penna, Manoel Naves de Ávila e Tobias Ignácio de Sousa.
Em três anos foram ajuntados os recursos necessários e, no dia 29 de junho de 1928, com poderes concedidos pelo Bispo, o padre Albino procedeu à bênção e ao assentamento da pedra fundamental. Houve procissão e, no local, Abelardo Penna fez entusiástico discurso.
A obra ficou em torno de dez contos de réis. A planta foi feita por Thomaz Hovanne e a direção das obras ficou a cargo do dr. Luiz da Rocha e Silva. Cícero Macedo e Manoel Naves doaram os bancos, Oscar Miranda doou a imagem da Virgem do Rosário, de carton-pierre. A frente da capela que era para baixo ficou voltada para cima.
No dia 10 de maio de 1931, com solenes festejos, o terceiro Bispo Diocesano de Uberaba, dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna, procedeu à bênção da capela e da imagem.
Essa última é a capela que está lá na praça do Rosário, (oficialmente Ruy Barbosa), que é a mais antiga construção religiosa da cidade.
Para cumprir promessa de sua esposa, d. Dolores, Manoel Naves foi o primeiro festeiro de Nossa Senhora do Rosário, no novo templo. A partir daí, Naves permaneceu na diretoria como Tesoureiro até findar seus dias em 1961.
(Fontes: Cônego Pezzutti, Mon. Antônio Afonso, Aparecida Portilho Salazar)