Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG
A lei da Anistia completou 46 anos. A histórica norma foi assinada em 28/08/1979 pelo presidente João Batista Figueiredo, tornada ampla, geral e irrestrita pela vontade do povo brasileiro. Concedeu perdão a ambas as partes: aos militares em geral, que faziam o de costume: obedecer ordens em nome da segurança nacional. E, paralelamente, aos que lutaram contra a ditadura e, pelo visto, pela implantação de um novo regime no país.
O projeto que deu origem à lei da Anistia foi discutido e aprovado em apenas 3 semanas. Os militares seguiram sua vida, cumprindo ordens. Exilados, banidos e aqueles que se escondiam das garras da justiça voltaram à vida normal, alguns, inclusive, recebendo polpudas indenizações por supostos prejuízos causados a sua vida financeira e moral. A anistia deu-se sem restrições e o ponto principal que orientava esta liberalidade foi: ”Não queremos liberdade pela metade”.
Passaram-se 46 anos, desde a Revolução de 64. Muitas histórias foram contadas, filmes foram feitos, heróis consagrados, uma história nem sempre confiável pois, não houve vencedores nem vencidos, perdão geral. E o Brasil seguiu seu caminho, aos trancos e barrancos. Que coisa, nunca tivemos um época prolongada de paz e tranquilidade. A alguns momentos mais fáceis de viver, seguiam-se outros dos quais nem é bom lembrar. Receio que a culpa seja também um pouco de nós, povo brasileiro, de samba e futebol, de acordo com o Papa Francisco de cachaça e falta de reza e conforme o último ex-presidente argentino “de gente que saiu da selva”.
Falta-nos educação política. Elegemos gente que tratou-nos com máxima desconsideração: presentearam-nos por exemplo com inflação enlouquecedora e congelamento de preços ( política arrasadora de economia); apoderaram-se de nossas poupanças, deixando-nos estupefatos, mas passivos, como mortos; para que tudo não convergisse para uma maldade absoluta, deram-nos o Plano Real – um cruzado novo passava a valer um dólar – uma loucura! Pela primeira vez consegui chegar ao império norte americano e olhar bem de perto a famosa Estátua da Liberdade e apreciar a grandiosidade de Manhattan; tivemos a implantação de políticas de governo assistencialistas e populistas; vimos o Estado sendo aparelhado diuturnamente para facilitar a implantação de novos meios de governar e atingir suas finalidades; a explosão de escândalos e o mau uso da máquina pública também se fizeram presentes na história recente do país e a impunidade grassou como se estivesse inserida em nossas leis, tal a profusão com que floresceu. Hoje temos Lula novamente! Contar a história deste 3º. Mandato é desnecessário, por enquanto. Estamos todos assistindo esta peça teatral, uma tragicomédia que parece não ter fim e, tomara, sirva de lição a um povo deseducado politicamente e que pode regenerar-se futuramente.
Bem, a gente falava em Anistia. Há tempos atrás, tempos muito mais duradouros e difíceis, com personagens de verdade, com intenções muito mais patentes de estabelecer um novo estado de direito, ela (a anistia) foi concedida. Temos agora, os perseguidos políticos, os asilados, os presos, os que perderam a sua liberdade e a vida, os que simplesmente participavam de uma manifestação ou ousaram, um dia, criticar ou reprovar situações que se apresentavam no país, usaram o direito que a Constituição lhes concede de expressar-se livremente. Os motivos muito simples: não estavam satisfeitos com os resultados da eleição, muitos brasileiros não estavam. Queriam mostrar seu desapreço pelo que as urnas, não auditáveis, falaram. Depois de muitos dias de acampamento, rezas, falta de apoio, a manifestação era um desabafo, era o jogar para fora a decepção, lágrimas contidas, insatisfação. O povo participava, o povo levantava a sua bandeira, orava o velho, o menino brincava, o vendedor de algodão doce fazia sua fezinha no movimento, a moça marcou seu protesto com o batom, baderneiros aproveitaram-se, como muitas vezes já acontecera, para fazer sua bagunça criminosa. O palco da manifestação e da baderna, Praça dos Três Poderes, estava simplesmente desguarnecida de proteção, convidando aos acontecimentos que se deram.
Muitos anistiados de ontem, dizem não à anistia de hoje. Mudaram de camisa, não entoam mais o “é proibido proibir”. Aplaudem atos da Justiça, avessos ao verdadeiro direito. Cantam loas a um presidente que perdeu o rumo, se algum dia teve, aplaudem um governo que já faz campanha antecipada, em comícios controlados (só entra quem bate palmas) e, olha a vergonha, sujeitos a sessões de ensaio para que tudo se desenvolva conforme o planejado.
Não queremos este país de mentira. Queremos um país de verdade, civilizado, com uma nação forte e desenvolvida, livre para expressar-se e decidir seus rumos. E queremos no momento, anistia ampla, geral e irrestrita para todos os que sofrem, pagando por crimes que não cometeram. Já vimos acontecer esta história e talvez seja uma fonte de pacificação aguardada pelos brasileiros. É importante que tenhamos paz para construir uma nação. E quem construirá esta nação será ,precipuamente, o povo brasileiro. Por que não Anistia Já?