“Se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir.”
George Orwell

Marília Alves cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG

Um celebrado presidente americano, Ronald Reagan, artista de filmes listados como sofríveis, governou os EEUU de 1981 a 1988.Implementou políticas fiscais de livre mercado e procurou estimular a economia com grandes reduções de impostos. Republicano, tornou-se figura importante no movimento conservador americano. Foi considerado um bom presidente, apesar de nunca antes ter exercido um cargo público.

Tinha o presidente Ronald Reagan um pensamento que considero absolutamente racional, inteligente: “Devemos medir o sucesso dos programas sociais pelo número de pessoas que deixam de recebê-los e não pelo número de pessoas que são adicionadas.”

O Brasil coleciona um vasto número de programas sociais, é um número impressionante, surpreendente. Fico imaginando o montante de recursos públicos dispendidos para sustentar tais programas. Será este grande número um bom augúrio para o Brasil? Ou estaríamos mais preocupados em mantê-los e criá-los, ao invés de educar o povo para a cidadania, dirigi-lo para sua independência e progresso? Estaríamos propiciando meios para o crescimento individual ou formando uma nação que subsiste, principalmente sob o tacão de um estado protetor e onipotente?

Apesar dos inúmeros tipos de programas sociais, atentemos para os dois mais difundidos:
Lei de Cotas nas Universidades – foi criado em 2012.Existe, portanto, há 13 anos. Há algum estudo, alguma avaliação séria e metódica sobre este programa que, afinal, restringe a entrada nas universidades a um grande número de alunos? Tem dado os resultados esperados? Tem resolvido o problema central: por que as pessoas chegam às portas das universidades sem as habilidades necessárias para enfrentar um vestibular comum? Sem nos atermos aqui em favorecimento justo e necessário a vários grupos étnicos e sociais, que fizeram jus a estas cotas em virtude de diferenças de oportunidades, o que se esperava com a implantação deste modelo? Creio eu, esperava-se que a escola pública melhorasse sua qualidade, seu desempenho, que o ensino fundamental e médio propiciassem aos alunos a capacidade de fazer um vestibular em igualdade de condições com quaisquer outros alunos. Mas, o que estamos assistindo?

Em matéria de educação o país tem dado passos largos para trás, nada no horizonte a apontar melhorias, nada de movimentos revigorantes a sinalizar progresso no nosso ensino público. E em função disto, da má qualidade do ensino nas séries iniciais, o ensino superior, gradativamente, diminui as expectativas em relação aos seus futuros alunos. Forma-se assim, uma deformação geral na educação como um todo.

Não faço aqui nenhuma crítica dirigida a algum governante em particular. Infelizmente, nunca tivemos governos que priorizassem a educação como um bem essencial, imprescindível para formar cidadãos civilizados, que se preocupassem realmente com a escola, seus professores, seus alunos, seus funcionários. Que se preocupassem em oferecer ensino de qualidade a partir da escola básica. O aluno que aprende a ler e interpretar bem, escrever com correção, conhecer os fundamentos da matemática, estará em condições, bem preparado e seguro para novos e mais profundos conhecimentos no futuro.

Tantos graduados, mestres, doutores e a população em geral afundada no mais absoluto analfabetismo funcional. E o que será de um país que se preocupa em autorizar e criar um número imenso de escolas superiores, muitas vezes sem condições ideais de funcionamento, insistindo em ignorar o ensino fundamental e médio.

E o que dizer do Bolsa Família? Os repasses deste programa chegam as 20,5 milhões de famílias. O investimento do governo federal para seu sustento chega a 14 bilhões de reais, em 5.570 municípios. E vem acompanhado de benefícios adicionais: benefícios para 1ª. Infância – crianças de 0 a 6 anos; benefício para gestantes e nutrizes; benefícios crianças e adolescentes entre 07 e 18 anos.

E vai continuar assim o Brasil, estabelecendo como perpétuo o assistencialismo. No atual governo foi criado o programa ”Pé de Meia” que começou a funcionar em janeiro de 2024 e paga uma quantia mensal e uma anual (apelidado Poupança do Ensino Médio) aos alunos do Ensino Médio, para garantir sua permanência na escola. Já li alguma coisa sobre a dificuldade em encontrar alunos que deveriam estar recebendo o benefício desde 2024. Como estamos no Brasil não podemos duvidar da existência de corrupção de todos os vieses e matizes…

E a deputada federal Érika Hilton, do PSOL, aquela mesma que propôs o fim da escala 6×1, como se os brasileiros já pudessem descansar em berço esplêndido ao invés de trabalhar, retorna agora com um novo projeto: reserva de 5% de vagas nas Universidades para trans e travestis e de 2% de vagas em concursos públicos.

Estamos muito longe do pensamento do presidente Reagan: achamos mais fácil e descomplicado apelar para o assistencialismo(que facilmente transforma-se em apelo eleitoral) do que lutar por um país forte e um povo independente, cada vez mais dono do seu próprio destino. Senhor de si mesmo e livre de maiores interferências do Estado em suas vidas.