Gustavo Hoffay – Agente Social
Às vésperas de tornar-me mais um septuagenário, lanço o meu olhar para trás e naturalmente constato a quantidade absurda de dificuldades que superei e justamente, creio, por ter me acostumado a enfrentá-las a partir de um complicado momento da minha vida, encarado e desafiado cada uma delas de maneira contundente, sem medo! Felizmente (ou não) acostumei-me a um regime militar autoritário desde o inicio da revolução de 1964 até à abertura política gradual e, finalmente, consolidada pela promulgação da nova Constituição em 1.988; acostumei-me às greves constantes e promovidas que eram no final dos anos 70, à contaminação das águas por empresas diversas, à pulverização de inseticidas nas lavouras, a deixar de ouvir o galo cantar quando retornei do interior e recomecei a minha vida nas grandes cidades; acostumei-me também a assistir programas em preto e branco na TV e aos chuviscos e fantasmas nas imagens ali retransmitidas; a enfrentar de pé longas filas em bancos; a suportar chefes demasiadamente exigentes e ao ponto de tornarem o ambiente de trabalho extremamente tóxico e inibidor, acostumei-me a pequenas feridas e a grandes e irreparáveis perdas materiais e principalmente-claro- pessoais; acostumei-me a algumas injustiças de ordem pessoal; a ameaças originadas de todos os lados e níveis e, acreditem, com a morte de pessoas muito ligadas a mim e até mesmo com a proximidade do meu próprio fim- enquanto um ser de carne e osso. E haja anestésicos para fazerem-nos suportar o que não é de costume e que tenta a todo custo derrubar-nos. Aceitação, aceitação, aceitação…….Chegamos todos a um ponto em que acreditamos que o melhor já não é enfrentar algumas lamentáveis realidades, ligarmos o modo “dane-se” diante de uma louca vida, vida breve! Algumas pessoas, em suas profundas angústias, são induzidas a lançar mão do álcool ou de drogas ilícitas, enquanto na busca por prazeres imediatos mas de terríveis dores futuras, na esperança de superarem padecimentos íntimos e atrozes. Sim, diariamente a vida desgasta cada um de nós e ao ponto de sufocar quem não procura enfrentar e reabilitar-se de incômodos gerais e quase comum a todos. Mas restam duas alternativas para evitar esse mal: aceitarmos bisonhamente o que a dura realidade da vida nos impõem e de modo a não vivê-la pacatamente e como a um caramujo encolhido em sua casca ou, então, levantarmos a cabeça e encararmos as dificuldades de maneira consciente, enquanto procurando viver com intensidade e de maneira ajuizada, sem apelações comprometedoras, buscando energias até então desconhecidas em nós mesmos e de modo a construirmos algo de melhor ao nosso redor, despertando sempre a nossa consciência e a de quem está ao nosso lado em vista de certos valores pontuais. E tudo isso exige muito comprometimento com o nosso próprio futuro, pois do contrário estaríamos permitindo um desgaste pessoal atroz e pelo simples efeito das leis dos sistemas vegetativo e sensitivo de quem se encolhe e esconde. Palavra, juro, depois de contrair duas doenças incuráveis porém tratáveis e por isso acostumar-me a poupar e a regrar a minha vida, a única coisa com a qual ainda não me acostumei é – indubitavelmente – com políticos ineptos e corruptos, aqueles que ainda conseguem iludir uma grande maioria de eleitores; é procurar entender uma real devoção de muitos políticos à vida pública e salvo, penso, se a vida parlamentar não fosse a porta de acesso (legal) para negócios bilionários e ilícitos em proveito unicamente próprio; a esforçar-me a entender financiamentos bilionários do governo a juros de 4,7% ao ano para algumas grandes empresas e, até hoje, tentar entender as medidas-provisórias 512/2.010 e 627/2.013 e que causaram prejuízo de mais de dois bilhões de Reais aos cofres públicos e ainda renderam outros milhões em propinas (a quem não se lembra, sugiro pesquisar). E para finalizar, antes que náuseas possam causar-me uma péssima noite de sono, afirmo que a mente de não poucos políticos funciona da seguinte maneira: porque devemos aprovar leis que beneficiam grandes empresas, enquanto visando poupa-las do pagamento de milhões em impostos? Sem essa boatice de que o montante de dinheiro deixado de ser cobrado das mesmas geraria milhares de empregos….Santo Deus! O que ocorre e afirmo, de acordo com o meu particular ponto-vista – quanto mais considerando-se muito daquilo que já foi revelado pela Operação Lava-Jato – é a existência de uma feira restrita em Brasília: a Feira do Rolo e do Jabá ! E haja rolo, haja feira e haja Jabá! Ou algum eleitor ainda se ilude a respeito de que considerável parcela dos políticos eleitos, principalmente a nível federal, ali estão para legislar unicamente a favor do povo? Já são inúmeros os casos comprovados de corrupção no meio politico brasileiro e sem que, entretanto, medidas oficiais e moralizadoras estejam servindo para estancar uma costumeira sangria a partir dos cofres da União. Salvemo-nos!