Marília Alves Cunha*

Temos que falar em pandemia. Ela tem assombrado os nossos dias e feito parte integrante de cada minuto de nossas vidas. Já perdemos amigos, parentes, pessoas conhecidas. Já refletimos sobre como somos frágeis e como um vírus vindo do outro lado do planeta interrompeu planos, sonhos, vidas. Quem pensaria que neste mundo moderno, cheio de novidades científicas e tecnológicas, neste mundo onde a gente se sentia Superhomens, nos deparamos com a “Kriptonita”, demos uma guinada de volta à IM ou a 1918, quando pestes e gripes matavam milhares de pessoas? Cruzes! Coisa infernal! Será que este momento tormentoso irá nos fazer cair na real e nos tornar mais cônscios de nossa pequenez, diante de um mundo tão cheio de mistérios e do qual muito ainda se desconhece?

A pandemia, além de perigosa, sequelas e mortes a justificar o fato, torna-se mais trágica ainda no nosso Brasil. Logicamente atrás da doença, de isolamento social, de confinamento, muitos e grandes problemas se multiplicam, gerados pelas circunstâncias. Aí aparecem os especialistas, PHD na arte de narrar os fatos conforme lhes aprouver e for de interesse próprio. Não existissem as redes sociais e alguns instrumentos de comunicação via internet, o povo talvez não se desse conta da miserabilidade da alma humana, do vilipêndio que se comete aproveitando esta época tão triste de insegurança e temor. Em tempos de pandemia há a necessidade de medidas emergenciais que tragam rapidez e eficácia aos métodos de combate á doença. Há também uma emergência sinistra, pior que a doença. É preciso aproveitar a ocasião – Covid , vírus providencial que caiu do céu – para fazer política grosseira, desrespeitosa, indecente. Acho que em nenhum país do mundo, muitos em situação pior que o Brasil, houve esta tentativa canhestra de ficar culpando as pessoas e jogar prá fora ressentimentos de quem ainda não aprendeu a viver em democracia. Afinal, o vírus veio da China, apesar da OMS, depois de rápida e monitorada visita ao país de Xi Jinping, não ter encontrado o que poderia ser o foco da transmissão. Deus queira que não inventem que o famigerado é brasileiro!

Não bastasse a politicagem, veio o Covidão. Coisa de louco! Superfaturamento, sumiço de material, aparelhos que não funcionam, hospitais fantasmas, dinheiro surrupiado e nem quero imaginar quantas coisas mais. As investigações até o momento apontam para a estratosférica quantia de mais de um bilhão ( bilhão, gente). No país da fartura da impunidade, no país em que o crime tem compensado, no país em que os poderosos são vacinados contra a prestação de contas e o resultado prisão, as pessoas começam a ter vergonha de ser honestas e a achar que seu senso de honra só lhes trás prejuízos… É imperdoável que sejam perdoados os crimes de quem, realmente, com seu procedimento desonesto, possa ter contribuído para a morte de muitos. É imperdoável que a impunidade sirva de espelho e modelo para muitos.

Mas não bastasse o Covidão, chegou a vez da vacina. Tinha que dar “xabu” também na vacinação. Elegeram-se as prioridades, tudo bem. O povo ansioso esperando a sua vez. Os velhinhos coitados, mais ansiosos ainda! Estão na vanguarda da morte, que o Covid não costuma perdoar quem já viveu demais e me incluo entre eles… Pois bem, aí começa outra história bem brasileira, tipo assim: Sabe com quem está falando? Tipo Lei de Gerson, aquela que incita a levar vantagem em tudo… Foi um tal de desobedecer as prioridades, furar fila, ser esperto. O mais incrível e absolutamente imperdoável foi o fato, noticiado e confirmado, de pessoas serem vacinadas com seringa vazia… As pessoas sorridentes, sentindo-se protegidas, dando graças com sua inabalável fé e aplicadores trapaceando, ferindo, mostrando-se de uma crueza e de uma malignidade descomunal. Merecem cadeia! Merecem castigo e espero que tenham nesta encarnação, se não for possível, no inferno…

O vírus é terrível. Sem se apresentar e nos prevenir atacou de maneira voraz. Há pessoas piores que o vírus e que nos deixam indignados. Fazem qualquer coisa por dinheiro ou por egoísmo. Fazem miséria por achar que são melhores que os outros e têm direito a mais regalias e benefícios. Os brasileiros em geral são de boa índole e não fazem mal a ninguém. Mas esta turma de maléficos fazem muito estrago, infernizam muitas vidas, são capazes de coisas muito ruins com a tranquilidade e consciência de quem não está cometendo crimes ou fazendo mal a ninguém. O perigo mora aí…

É imperioso caminhar para tempos melhores e, para isto, é importante a imunização de todos. Que a vacina traga os benefícios necessários, que seja eficaz e que nos livre deste mal que tantos transtornos têm trazido ao mundo. Importante e muito que se foque no essencial: que a nação brasileira se una para que possamos caminhar. Não é bom de jeito nenhum que fiquemos habitando por longo tempo em terreno pantanoso, de insegurança e instabilidade. Não é bom de jeito nenhum que deixemos de pensar no que é essencial para todos. É insensato e criminoso que nos refugiemos num manto de insensibilidade e egoísmo, deixando que situações absurdas nos transformem num país abjeto, sujeito a chuvas e trovoadas de surrealidade.

Marília Alves Cunha