Marília Alves Cunha*
A Câmara dos Deputados é formada de uma grande variedade de parlamentares. Existe, como em tudo, uma parcela de gente boa, disposta a trabalhar bem e zelar pela pátria amada. Parece que esta gente boa não passa de 130 pessoas, de acordo com a última contagem. Existe também outra fauna, formada por gente que esteve envolvida com transporte de drogas, que esconde dinheiro no bumbum, na cueca, que é flagrado com mala e maleta de dinheiro. Conta com assassina, corruptor da moral e bons costumes, gente citada em esquemas de corrupção que todos conhecemos bem, gente que nos provoca uma tristeza enorme. Foram eleitos e estão lá para defender o interesse do povo, para servir ao país e não servir-se dele, como costumeiramente têm feito. Será que Lula exagerou quando disse que no Congresso havia 300 picaretas?
Pois bem, esta turma que deve respostas á justiça e explicações á sociedade, inclusive a relatora do processo que sentenciou Daniel Silveira, se voltou como deus imaculado contra um parlamentar cujo único crime foi expor sua opinião e que agora padece uma prisão. Desrespeitaram a CF no que diz respeito á inviolabilidade do mandato parlamentar, votaram contra sí mesmos, contra sua própria casa, contra regras que eles mesmos criaram. Enquanto condenados pela justiça estão livres, leves e soltos, curtindo a vida, arrotando grandeza e atacando o governo, há homens privados de sua liberdade, simplesmente por terem emitido uma opinião. Que país é este, onde o rabo morde o cachorro?
Com relação ao caso, gostei das palavras do deputado Luiz Orleans e Bragança. Deputado pelo Rio de janeiro, nobre na fala e nos gestos, ponderou: “Quem defende o estado democrático de direito não pode permitir prisão ilegal, sob qualquer pretexto. Hoje no Brasil há 130 deputados capazes de manter a coerência. Valorize-os, pois é o que temos”.
Às vezes bate uma raiva grande e a gente quase perde as estribeiras perante os acontecimentos… Dá vontade de enlouquecer num chilique monumental, como fez a artista tresloucada, dependente de dinheiro público e em estado de abstinência. Não faz meu gênero, indignar-me sim. Prefiro sentar-me ao computador e fazer catarse, escrevendo meus simples textos para o blog do Ivan. E de repente, no meio da raiva toda me abro em sorriso, quando sinto o imenso Drummond cochichar ao meu ouvido: “Entre as desesperanças da hora e à falta de melhores notícias, venho informar-lhes que nasceu uma orquídea”. Amém!
*Educadora e escritora