Marília Alves Cunha*
Era uma pequena vila francesa, chamada Oradour-sur-Glave. Tornou-se famosa por ter sido o local de um dos maiores massacres cometidos durante a 2ª. Guerra Mundial, por soldados nazistas de Waffen-SS, dias após o desembarque das tropas aliadas na Normandia. Para travar combate com as tropas aliadas, tropas alemãs dirigiam-se aos locais de desembarque. Infelizmente uma pequena cidade, 0radour, estava no caminho de uma destas tropas de elite da SS.
No dia 10/06/1944, os pelotões da SS cercaram a cidade e o comando convocou toda a população à praça principal para verificação de documentos. Homens e mulheres foram separados, os homens levados a celeiros ou garagens e as mulheres e crianças fechadas na igreja do vilarejo. Nos celeiros e garagens os habitantes masculinos foram metralhados e seus corpos queimados junto ás edificações. Dos 195 homens de Oradour, apenas 5 escaparam. Enquanto isto outros SS queimaram a igreja onde estavam presas 453 mulheres e crianças. Apenas 01 mulher conseguiu escapar. Todas as crianças pereceram. A cidade foi totalmente destruída pelo fogo.
Após a guerra o presidente De Gaulle decidiu que a cidade não seria reconstruída, permanecendo suas ruínas como um memorial á crueldade da ocupação nazista na França, um símbolo da notável resistência francesa. A cidade foi oficialmente nomeada como “cidade mártir”.
Anos mais tarde, a tragédia foi contada em TV mundial, em um documentário francês. Laurence Olivier, com sua voz profunda e shakespeareana (sorte teve quem viu este enorme ator representando) fazia a introdução do documentário, enquanto um helicóptero sobrevoava a cidade vazia e silenciosa:
“Por esta estrada, num dia de verão de 1944 os soldados vieram. Ninguém vive aqui agora. Eles aqui ficaram por algumas horas. Quando se foram, a comunidade que existia há 1.000 anos havia morrido.”
“Nunca reconstruíram Oradour. Suas ruinas são um memorial. Seu martírio se soma a milhares e milhares de outros martírios de um mundo em guerra…”
Lí esta história dia desses no google, mas me lembrei que já havia lido em algum outro lugar, talvez em alguma revista ou livro que se referisse á 2ª. Guerra Mundial. Sempre me impressionam estas leituras. Nasci no auge da guerra e não sei por que, tenho um registro longínquo na memória de alguma coisa relacionada a sal, gasolina e mulheres de além mar trabalhando no fabrico de armas… Devo ter ouvido falar, quando criança!
O fascismo, o nazismo, que resultaram em sofrimento e morte de populações inteiras, o holocausto sempre relembrado, por sua história cruel, tentativa de exterminar uma nação da face da terra, merecem a nossa mais profunda aversão. São incongruentes com tudo que se refere á dignidade humana, são monstruosidades que nunca poderemos compreender, pois é difícil compreender, no seu todo, os limites da maldade humana. São acontecimentos que não podem se repetir e por isto devem ser relembrados. E, por conseguinte, paro para pensar na banalização das palavras genocida, fascista, nazista… Hoje, alguns brasileiros usam estas palavras sem pensar no seu verdadeiro significado. Talvez sem nem saber quanta seriedade deve residir no seu uso. Ou talvez saibam, mas não se importam. Chamam de genocidas pessoas que nunca fizeram mal a uma barata, nominam de nazistas gente que talvez, o único crime que cometeram foi de pensar diferente, ter outro ponto de vista a respeito de alguma coisa. Moleques, com péssima aprendizagem, induzidos por péssimos exemplos, fustigam muros e cartazes desconhecendo tristes histórias, a origem infausta destas palavras.
Sinceramente, considero isto um desrespeito aos milhões de vidas que se perderam pelo mundo afora, vitimas de grandes tragédias da humanidade, perpetradas por algozes cruéis que, deliberadamente, com sede de poder e alimentados por um espírito tirânico, massacraram e imolaram povos inteiros. Não banalizemos o mal! Não o simplifiquemos, como se ele acontecesse diariamente e ficasse até natural. É preciso que as pessoas mais conscientes se abstenham de espalhar conceitos errôneos entre pessoas menos críticas. É preciso que os nossos políticos, principalmente, sejam de que partido forem ou que ideologia professem, cuidem com mais responsabilidade do seu palavreado, nem sempre usado com as melhores intenções e maiores ideais. Menos ilha da fantasia, mais conexão com a realidade.
Li em algum lugar, achei interessante, me lembra muito o verdadeiro combate de palavras e gestos que tem acontecido no Brasil: “Fascista, mortadela, coxinha, feminazista, mimitização, nazista, genocida, machista, etc. e tal… Tantas nomenclaturas negativas para uma doença social: a desunião!”
*Educadora e escritora – Uberlândia – MG