Antônio Pereira da Silva*

A devoção vem de Portugal. A imagem teria sido escondida dos sarracenos quando invadiram a península ibérica, lá pelo século IX. Muito tempo depois, foi encontrada por monges que ergueram um mosteiro no lugar do achado. E daí cresceu a veneração.
A primeira imagem, trazida por algum devoto, veio para o Triângulo e, algum tempo depois, foi para Goiás.
Segundo Jorge Alberto Nabut, a devoção a esta Santa, com a característica romeira, vem do século XIX (outros dizem XVIII) com a tradicional festa do Muquém, em Goiás. Os carros de bois conduzindo grupos, famílias, seguiam dias e dias, semanas, pelos trilheiros desconfortáveis do Triângulo e Goiás rumo à primeira capital da fé no centro oeste, para cima de onde viria a ser Brasília.
Por ocasião da Guerra do Paraguai, as famílias oravam rogando a Nossa Senhora da Abadia que seus filhos não fossem convocados. Mas era tão longe, tão longe. Pediram uma capela da santa querida para a região do Triângulo e foram atendidas. Em 1869 ergueu-se o templo na região de garimpo conhecida como Água Suja. Virou centro de peregrinação que vem até os nossos dias.
O 15 de agosto transformou-se numa grande festa, o povo devoto na estrada, cumprindo promessa, dando expressão à sua fé ou simplesmente divertindo-se. E lá iam, rumo a Romaria, a cidade de Nossa Senhora da Abadia.
Em 1881, o capitão Eduardo Alvarenga doou, através da Câmara Municipal de Uberaba, um terreno para a construção de uma igreja em louvor da Santa naquela cidade. Foi inaugurada no dia 15 de agosto de 1882. Várias cidades da região foram fundadas sob a proteção da Santa: Abadia dos Dourados, Abadia do Bonsucesso (Tupaciguara). A Arquidiocese de Uberaba tem a Santa por madrinha.
O capitão Pedro Thomaz de Aquino, figura pitoresca da velha Uberabinha (um dia eu conto suas doideiras) foi quem comprou a imagem que veio para Uberabinha e doou-a para à paróquia de Nossa Senhora do Carmo. Tito Teixeira diz que a imagem veio da França, mas as autoridades eclesiásticas de Uberaba dizem que a Santa não é conhecida naquele país, mas é muito venerada em Portugal. A imagem chegou à velha São Pedro de Uberabinha num carro de bois conduzido pelo carreiro João Antônio de Souza. Antes de sua entronização na capela, ficou muitos dias na sede do engenho do Machadinho (Fazenda Campo Limpo do José Machado Rodrigues).
No dia 15 de agosto 1870, a Santa foi entronizada num altar da Matriz de N. S. do Carmo, acompanhada de grande massa popular. Fez-se grande festa no povoado. A partir daí, anualmente chegavam romarias e romarias de todo canto para venerá-la. Para quem não saiba, Uberabinha já foi centro de atração religiosa.
Devoto da Santa, o casal José Machado Rodrigues e sua esposa Jacinta Francisca da Silva, que a recebeu em sua casa quando chegou do Exterior, doou-lhe uma gleba de doze alqueires de chão à direita do córrego de São Pedro, que recebeu o nome de Patrimônio da Abadia. O bairro, hoje simplesmente Patrimônio, ergueu, também outra doação do Machadinho, na “serra” da Abadia (o morro mais alto que tinha lá), um cruzeiro milagroso, onde o povo do Patrimônio pedia pra chover quando a chuva faltava. Um dia, uma tempestade o derrubou. A Santa tinha também uma capela no bairro que mudou de orago. Passou a ser de Nossa Senhora do Parto.
Dizem que a doação dos alqueires do Machadinho à Santa, foi também um rogo para que se afastasse da Fazenda Campo Limpo uma legião de assombrações que vinham de velhos tempos atormentando todo mundo (Fontes: Tito Teixeira e Jorge Alberto Nabut).

*Jornalista e escritor – Uberlândia – MG