Leandro Grôppo*
Uma vez eleito, o político passa a ser rodeado por interesses dos mais diversos. Por isso, para funções que demandam confiança, tende a optar por um círculo próximo com referências que possibilitem garantia de sua segurança, física e jurídica. É aí que podem começar os problemas de uma gestão.
Ao se cercar de quem, de uma forma ou de outra, depende da função que ocupa, estes muitas vezes passam a ser portadores somente de boas notícias. Seja pela falta de conhecimento ou intimidade que possibilitem a sinceridade necessária, pelas vaidades da micro-política inerentes às organizações públicas, para proteger, não “chatear o chefe” ou por medo de perder sua boa vontade, transformam a realidade do governante em uma bolha de fantasia e ilusão. Esta é a Síndrome do Encastelamento.
Absorvido pela máquina burocrática e afastado das dificuldades, mesmo sem querer, o eleito termina fechado num limbo distante do “mundo real” das “pessoas comuns”. Isso por que o sistema acaba pondo foco reduzido nele mesmo e, com isso, cria muros e gera o isolamento. Essa bolha auto-protetora se infla através dos egos, disputas de espaços e interesses particulares, não necessariamente nesta mesma ordem mas que sempre levam ao fracasso. Um abismo que chama outro abismo.
Pois o que vale na vida do político, lhe dá ou tira poder e votos, é a sua imagem e o confronto dela com a realidade. O saldo pode até ser positivo se uma imagem negativa ocupar uma realidade favorável. Mas, quando o contrário ocorre e se tem uma boa imagem que não é confirmada pela realidade, nasce a decepção traduzida na perda de confiança e popularidade. Esta, em geral, é uma das consequências do real problema, o encastelamento.
Para evitá-lo, o governante precisa ter contato constante com informações e pessoas que levem as verdades das ruas, o sentimento daqueles que o elegeram e que possam basear suas decisões. Caso contrário, passa a ouvir somente as meias-verdades dos privilegiados pelas ante-salas do poder que, às vezes por ambição outras por pura vaidade, defendem seus espaços e pensam no curtíssimo prazo, criando mundos distintos do restante da sociedade.
Apesar da cerimônia protocolar intrínseca aos cargos eletivos, a liderança precisa de maturidade para não ser absorvido pela Síndrome. Ser normal, não ter sirenes nem encher o ambiente de bajuladores, ajuda o equilíbrio psicológico e no resultado de uma gestão. Na política moderna não há mais espaço para realezas, estátuas ou deuses, apenas seres humanos. O mundo de verdade, que respira com ou sem máscaras, acontece fora dos palácios e castelos.
A boa notícia é que a bolha acaba forçosamente estourada com a próxima eleição. Quando então o gestor encastelado assombra-se com a rejeição e, inutilmente, coloca a culpa no eleitor que não soube reconhecer seu trabalho e esforço. Mal sabia ele (ou ela) que os amigos das boas notícias foram seus maiores vilões.
*Publicitário especialista em marketing político – www.strattegy.com.br/blog