Gustavo Hoffay*

Em nosso país e em quase todo o mundo, a apavorante pandemia gerada pelo vírus Corona fez que o comércio de bebidas alcoólicas fosse proibido ou restrito a determinada faixa horária. Nos Estados Unidos da América e onde, aliás, alguns estados não permitem que beba-se em público mesmo em tempos normais, há um severo controle por parte das autoridades locais quanto ao cumprimento de leis que regulam esse tipo de comércio: o consumidor deve ter a idade mínima de vinte e um anos, não é permitido o consumo em público e as bebidas alcoólicas somente podem ser transportadas por carro se colocadas no interior do porta-malas ou seja, não fiquem notoriamente expostas. Aqui, no país onde adota-se um isolamento social de araque, quase não se nota restrições ao comercio varejista de bebidas alcoólicas na maioria dos municípios e o que, embora muitos insistam em não reconhecer, facilita a aglomeração de etilistas em seus momentos de chupitar aquele seu líquido preferido. Em nossa cidade, da maneira de outras metrópoles e sob o pretexto de escapar de situações de estresse, ansiedade ou de um desconforto emocional, consumidores e pequenos comerciantes atrevem-se a enfrentar as autoridades sanitárias e as forças de segurança fora do limite da faixa de horário permitida para a venda de bebidas alcoólicas e, pior, sob a “tutela” dos próprios e assíduos freqüentadores que parecem não importar-se com a possibilidade de contágio pelo vírus assassino. “Desafiar”, talvez seja essa a prática mais usada por aqueles que acham-se racionais ao contrariar o que dita os protocolos relativos à prevenção ao contágio, enquanto enfrentando as regras e normas pré-determinadas e instituídas para a sua própria segurança. A chegada e a aplicação das primeiras doses de vacina anti-Corona Vírus a Uberlândia, parece ter suavizado a saúde mental de “butequeiros” inveterados e talvez em vista do arrefecimento de uma já sofrível e quase inócua fiscalização; de repente dá-se a entender que o nosso crítico panorama virótico obteve uma solução mágica e, quanto mais, quando já se vê um gradual e lento retorno às aulas e a abertura do comércio em geral. A falsa sensação de que está tudo retornando ao normal é típica entre muitos brasileiros e pode estar influindo no comportamento de quem imagina poder expor-se e também de comerciantes que não importam-se em deixar os seus clientes à mercê do perigo de contágio, mesmo considerando-se a exigência de algumas regras básicas para evitar-se a transmissão do vírus. Não tive notícias de que esteja havendo ao menos um acompanhamento remoto sobre as atividades de bares e “lanchinhos” durante a noite e madrugada em nossa cidade, quando o numero de pseudo-protegidos contra o ataque do vírus é maior ( bem maior ) e considerando-se a atração exercida por aqueles estabelecimentos sobre um considerável numero de noctívagos. Tudo (relativamente) bem, embora eu reconheça ser (quase) inútil em nossa desenvolvida metrópole os esforços governamentais de procurar evitar a aglomeração de pessoas e o consumo de bebidas alcoólicas em público e fora do horário oficialmente estabelecido mas, convenhamos, criar-se meios de ao menos causar uma impressão de ativa observância às leis já seria algo muito positivo a partir das autoridades competentes. Verdade é que o brasileiro não está preparado para abordagens que causem ou transmitam a sensação de algum tipo de bronca ou repressão policial, da maneira de quando proíbe-se a venda de bebidas alcoólicas durante as eleições e a qualquer tempo em restaurantes e postos de combustível à margem das rodovias federais. Não somos legalistas e esse é um fato inequívoco; não admitimos ser impedidos de fazer o que gostamos e, quando isso ocorre, quase sempre dá-se um jeito de driblar a lei, burlar medidas sanitárias e criar, se preciso, um mercado paralelo para gozar-se do que é proibido e inclusive até da cara de quem se atreve a impedir que aja-se acima da lei e por debaixo dos panos. Pouco ou nada adianta campanhas pela TV ou Internet e aflitos clamores populares de pessoas racionais, no sentido do poder público orientar a população para que evite aglomerações e o consumo de bebidas alcoólicas nesse momento de muita dor e agonia para centenas de milhares de famílias em todo o Brasil; então, extraordinariamente, porque não aumentar-se o imposto sobre a venda desses produtos até o fim desse trágico período de incidência viral, se o bolso de muitos brasileiros é mais sensível do que os seus próprios cérebros? E o que dizer, também, das famílias desses jovens que lançam-se ao perigo de contágio em aglomerações diversas e regadas ao uso de álcool e outras drogas? Fica claro que não poucos pais estão perdendo ou mesmo já deram um definitivo adeus ao controle ou à autoridade que deveriam exercer em suas respectivas famílias; porque eles não conseguem impor limites e exigir dos seus filhos a prática de virtudes, ainda mais durante esse crucial tempo de agonia e de imprescindíveis cuidados prevencionistas ? Por outro lado aumenta-se, muito, o numero de usuários e a quantidade de drogas à disposição para venda nessa época de pandemia! Medo, incertezas, angustias, isolamento, tédio e ociosidade (o pior dos vícios), são algumas das causas que mais levam pessoas a fazer uso de drogas; imagine-se o quanto estar em casa sem atividades laborais ou recreativas torna-se um convite para o uso de produtos entorpecentes ou estupefacientes, a partir de jovens mentalmente fragilizados e quanto mais se pertencentes ao grupo de risco para consumo de drogas ( devido a fatores genéticos, colegas usuários ou sob conduta desajustada e filhos de famílias social e economicamente instáveis) ! E não refiro-me apenas às drogas ilícitas mas, também, a analgésicos opiáceos e tranqüilizantes benzodiazepínicos. Não há duvida de que as drogas lícitas e ilícitas conectam pessoas, estimulam e aproximam uma das outras e fortalecem vínculos afetivos instantâneos porém passageiros, mas não são e nunca foram – nem de longe -o melhor meio de socializar-se; muito pelo contrário. O consumo de drogas como meio cômodo, porém bizarro, de enfrentar o isolamento social pode e deve ser substituído por saudáveis mudanças de hábito, meios salutares de encarar a pandemia e como, por exemplo, um desafio comum a ser superado por todos da melhor maneira possível: dividindo tarefas, traçando objetivos domésticos ou pós-pandemia, estimular a prática da leitura, artes, artesanatos, assistir a filmes, fazer algum curso “on line” e praticar exercícios fisícos, combinando regras e elegendo mais momentos para lazer e discussões saudáveis. Jeito há de enfrentar-se a atual e temida situação, basta que empregue-se a prática da humildade, da perseverança, da razoabilidade, da prudência e da ponderação. Mas se alguns de nós sentirem-se incapacitados de cultivar alguns desses valores, que ao menos procure e encontre meios de amar a si e ao próximo. Sim, porque o amor pode tudo: é gratuito, paciente, indolor, bondoso resistente….; o amor tudo suporta!

*Presidente do Conselho Curador – Fundação Frei Antonino Puglisi – Uberlândia-MG