Gustavo Hoffay*

Movimentos religiosos vêm surgindo cada vez mais e sob as mais diversas denominações, enquanto dirigidas por pessoas aparentemente mais interessadas em forrar os seus respectivos cofres do que catequizando jovens, levando a Palavra aos seus fiéis e dedicando-se à assistência de considerável parcela de uma população carente de recursos diversos e cada vez mais necessitada de justiça social. Uma monumental e até disparatada multiplicação de bispos e igrejas, seitas e ordens, pastores e “irmãos” de araque, termina por confundir uma multidão de pessoas e torna clara uma deturpação de valores fundamentais sem os quais, em pouco tempo, famílias inteiras terminam sofrendo abalos naquilo que têm de mais sagrado: a fé, abastecida e continuamente reabastecida na Bíblia e em outras fontes daquele livro ao ponto de confundirem não poucos e humildes brasileiros, dado as suas vestes, aos seus sinais – característicos do sagrado, colhendo muitos vivas e estrepitando “aleluia, aleluia” por onde passam e encenam, enquanto aparentemente mais interessados em forrar os seus respectivos cofres do que exercer a catequese e ainda banindo palavras essenciais do Evangelho como forma de adaptar a Verdade aos gostos das nossas épocas . Francamente, sabe-se entre os autênticos cristãos que a unidade desejada por Deus só pode ser efetivada na adesão de todos ao conteúdo integral da fé revelada. Ecumenismo não é irenismo. Acredito que não alimenta-se de fé uma pessoa que tenha de sacar dinheiro para alcançar um determinado fim, um objeto da sua necessidade e que nunca será saciada a pessoa que busca a Deus a qualquer preço! Noto que a verdade da fé vem sendo mutilada a cada dia e desde muito tempo entre muitas pessoas, a partir de pequenas igrejas e que fazem das mesmas um grande negócio. O ecumenismo é extremamente sadio, mas penso que aquilo que presenciamos hoje em nosso país não é ecumenismo pois, para tal, é necessária uma adequada e disciplinada formação, aliada a uma conciliadora e pacificadora co-existência entre cristãos de credos diferente e o que, infelizmente, não é o que assistimos em alguns casos. Eu, católico, tenho amigos e conhecidos espíritas, umbandistas e protestantes e damo-nos muito bem enquanto respeitando a crença de cada um. Ora! Está claro que o êxito de centenas de seitas é explicado pela falta de conhecimento religioso de pessoas que resolveram segui-las devido, em grande parte – talvez, à perda de vivência religiosa que antes cultivavam em suas cidades de origem, enfraquecida quando de sua chegada e instalação na periferia das grandes cidades e, ainda, a um doloroso processo de desenraizamento cultural. Na maioria trata-se de um povo humilde e a mercê de influencias perniciosas de ambientes onde reina o permissivismo moral e que o torna vulnerável à sedução de seitas e de novos grupos religiosos que prometem curas e outros milagres de maneira instantânea, mas sob certas condições financeiras e sem fornecerem, obviamente, qualquer garantia! Estima-se que são milhões de adeptos aliciados e submetidos a pressões psicológicas que os levam a sustentar (quem os arrebanha) com contribuições financeiras generosas e que chegam a ultrapassar os seus respectivos proventos, mas que aceitam fazê-lo passivamente e sorridentes. Na minha fé eu imagino que Deus não quer, não deseja e dispensa qualquer quantia financeira vinda dos seus fiéis e em seu nome,que não seja para aplicação em boas, urgentes e comprovadas causas sociais; Ele não prometeu soluções mágicas, rápidas, enfim milagres para qualquer problema; Deus não é um comerciante, um mercador, um explorador da Fé e que “topa tudo por dinheiro”! Deus requer de todos nós uma fé madura e ancorada em valores definitivos! E nesse cruel momento de pandemia vivido por todos nós, é a fé pura – profunda e gratuita – que auxilia-nos a levar a vida adiante – embora com mais moderações e restrições- para conseguirmos alento e para começarmos a propor uma nova perspectiva de vida em sociedade ante um futuro que anuncia-se breve. Alimentemos a nossa fé, enquanto ponderamos sobre a necessidade de repensar “valores” que devem orientar as decisões pessoais e coletivas e sobretudo as decisões políticas a partir de um bem intencionado governo, mas quase que totalmente aparvalhado em seus modos e absolutamente claudicante em suas imediatas decisões de interesse da saúde em nosso Brasil. Alimentemos a nossa fé nos valores humanos e principalmente naqueles relacionados à humildade, à colaboração, à paz e ao respeito… gratuitamente. Sim, pois a fé gratuita é o fundamento da confiança, é fazer com prodigalidade enquanto mantendo a esperança para vivermos o que somos, pura e simplesmente. Sobre esse vírus iremos triunfar, porque somos todos vencedores e porque acreditamos fielmente em nossa capacidade de enfrentamento e superação, basta que pratiquemos com confiança e obediência aquilo que cabe a cada um de todos nós, gratuitamente, sem desfazermo-nos sequer de um centavo em favor de aliciadores diversos e que usam o nome de Deus em vão.O que poderia assolar-nos definitivamente e trazer a muitos ainda mais sofrimento, somente será vencido pela motivação, pela criatividade e acima de tudo pela FÉ em nossa própria capacidade de superação.

*Presidente Conselho Deliberativo da Fundação Frei Antonino Puglisi
Uberlândia-MG