Gustavo Hoffay*
Diante do clima em que vivemos e do risco de parecermos defasados em relação ao nosso tempo, torna-nos imperioso dizer – diante da decadência moral da política tupiniquim, com algumas raras e boas exceções- que estamos sendo meros espectadores de uma violência contra tudo aquilo que lutamos durante décadas para alcançar e saborear: a democracia plena e sem qualquer intento que pudesse ao menos provocar-lhe coceiras. Solapa-se ao vivo e a cores a esperança de milhões de brasileiros devido a uma onda de estímulos negativos e até irracionais que desencadeia-se sob formas oficiais, a partir da principal casa legislativa do país. Ninguém, em sã consciência, ignora que há políticos e “políticos”; alguns são cidadãos cônscios da sua responsabilidade mas outros, simplesmente, fazem-se notar em rápidas e raras aparições enquanto diante de algum microfone ou câmera de TV e por razões óbvias! O que penso ser ainda mais grave é a forma que alguns escolhem para, lenta e melindrosamente, seguirem destruindo ou achincalhando o conceito de “política”. É também a espécie de consentimento tácito ou mero deboche e piadinha, dado pela maioria dos brasileiros a bizarrices contidas nas entranhas de alguma das decisões parlamentares, que permite deixar não poucos parlamentares muita à vontade para fazer o que bem entendem durante os seus respectivos mandatos. Esse declínio do “ibope” político aliado à apatia e à descrença de uma grande numero de brasileiros é real, vergonhoso e exorta-nos a reflexões diversas. Ora! Impõe-se, já, um despertar moral em cada um dos eleitores brasileiros; é preciso que todos aqueles que estão feridos em sua dignidade manifestem a sua desaprovação e a sua indignação a todas as instâncias que tenham, comprovadamente, uma parcela de responsabilidade nessa situação a que chegamos. Faz-se urgente a necessidade de medidas para reedificar a moralidade da política praticada em nosso país e a qual, após a “abertura” promovida lenta e gradualmente pelos governos militares, tornou-se um “mexidão” destemperado, intragável e causador de terríveis refluxos com reflexos diretos na economia tupiniquim. Somente mediante o alerta e a manifestação crítica e salutar do povo poderá dar um basta a uma representação política viciada, “descombussolada” e portanto desqualificada e daí contribuir decisivamente para sanar a atmosfera fétida, repugnante que todos respiramos. A insalubridade política está no ar! Quem perverte a noção mesma da política e mantêm ocupado no Congresso Nacional ( ou em algumas assembléias estaduais e câmaras municipais) um valioso assento que deveria ser usado, unicamente, em benefício do povo que anseia ser honrado por aqueles que dizem representá-lo, desfigura o que é eminentemente necessário e degrada o que deve ser tido por honroso. Se entre as intenções do mal político está a inversão da vontade dos seus eleitores, então é preciso reconhecer-se que a incapacidade de alguns que julgam representar-nos no poder legislativo está, sim, poderosamente servindo poucos em prejuízo da maioria. Muitos usam da política como se essa trouxesse em si mesma e pelos seus atos, as justificativas para tudo de inaceitável que ela fomenta . Por outro lado, para o bom político sempre há perspectivas e novas dimensões que se abrem para ele a partir de suas boas e aguardadas ações populares; ele passa a ter motivos para estar sempre alerta e consciente da responsabilidade do cargo a que foi conduzido e isso, claro, é uma fonte borbulhante de realizações a favor da sociedade. Se quisermos colocar um basta às tentativas de degradação da política e, dessa forma, contribuirmos para evitar um ( outro) colapso em nosso Brasil, bom seria lembrarmo-nos da importância do nosso voto e das responsabilidades e exigências dele decorrentes. Quem tem consciência disso não pode ficar impassível à onda de descrédito a que chegou a política tupiniquim e deve, sim, empenhar (e rezar) para não alienar-se frente às urnas já nas próximas eleições, do contrário uma outra onda ou safra de políticos defectíveis tornará a envergonhar-nos. Pode parecer inacreditável, mas numa sociedade tão heterogênea quanto a nossa, alguns medalhões políticos conseguem deteriorar, separar e desintegrar a opinião popular a partir de controvérsias entre eles mesmos e por menor que possam ser os motivos inventados e aventados. Um grande vulcão está sob Brasília e seus tremores não são imaginários, mas muito reais enquanto alimentados pelo ódio e pela sede de Poder.
*Agente Social – Uberlândia(MG)