José C. Martelli*
“Os JOVENS andam em grupos, os ADULTOS em pares e os VELHOS andam sós” (Albert Camus)
No dia 17.05.2020, publiquei nesta página uma crônica em que tive a veleidade de prescrever aos que como eu, são do grupo de risco do Covid-19, uma terapia contra a insônia que consistia em fazer um retrospecto da própria vida, enquanto se espera pelo desejado sono.
No bojo da referida crônica eu escrevia:
“Com quantas e quantas pessoas que comigo conviveram, algumas até fazendo parte muito próxima de minha vida, depois de um tempo, perdi o contato e nunca mais o refis. São os mortos pela ausência aos quais me referi. E o fiz com muito pesar porque muitas delas ainda devem estar por aí, vivendo suas vidas. E o pesar amplifica-se porque, para elas, eu também devo ter partido.”
Mas, vez ou outra, chega ao meu conhecimento, a morte confirmada de algumas dessas pessoas.
Foi o caso que passo a relatar, dentre os muitos que marcaram a minha vida.
“Laudo Natel, ex-governador do estado de São Paulo, morreu na manhã de hoje, 11.05.2020, aos 99 anos. A causa da morte não foi informada. Ele completaria 100 anos em setembro. Natel foi governador do estado por duas vezes durante o período da ditadura militar: entre 1966 e 1967, quando substituiu o então governador Adhemar de Barros, e depois entre 1971 e 1975 quando foi eleito, de maneira indireta, pelo colégio eleitoral”
Pois é. Por indicação de meu cunhado Dráuzio Pedroso Vitiello, que transitava nas esferas do governo de então, fui requisitado ao Banco do Brasil (do qual era funcionário de carreira) para compor a equipe que estava cuidando de estruturar o Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo- BADESP. Passei a ocupar a Coordenadoria Administrativa e Financeira desse banco e pude, durante os quatro anos em que lá estive, participar diretamente de um trabalho muito gratificante, em termos de desenvolvimento sustentável no estado de São Paulo.
E, na ocasião, por motivos que não vêm ao caso explicitar, tive oportunidade de conviver de perto com um ser humano diferenciado que foi o governador Laudo Natel, e que, certamente, influiu muito na minha maneira de encarar a política em benefício do povo.
Pode parecer paradoxal que alguém advindo da ditadura militar, possa ter o pensamento centrado em procedimentos democráticos e em favorecer aos tão excluídos da sociedade deste país.
Mas, além desse viés popular, os quatro anos de seu mandato alçaram o Estado de São Paulo a um patamar de desenvolvimento nunca visto anteriormente. E ter participado disso, muito nos orgulhou.
Obs. – O BADESP, anos depois foi absorvido pelo Banco do Estado de São Paulo S.A. e este, posteriormente, vendido ao Santander.
*Advogado e professor – Espírito Santos do Pinhal – SP