MAIS OUTRAS LEMBRANÇAS DO CAPPARELLI
Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG
“Nós fechamos em 1968. Teve uma recessão igual a de hoje (1990). Ela foi até 1972. O Francisco Capparelli colocou na sociedade os seus filhos, o seu genro. Eu fui pra Goiânia, a firma rachou. Quando foi em 72, veio a reação. As firmas cresceram, Martins… eles eram nossos clientes.
Quando meu pai, Giuseppe colocou a venda era para atender o pessoal do interior, da roça. Eram enxadas, foices, querosene, sal. Não tenho certeza, mas acho que ele começou em 1916. Ao lado do armazém tinha a nossa casa. Do outro lado tinha um alpendre, a gente passava assim e ia pra pensão. Mamãe cuidava da pensão. Ela tinha muito medo da gente pegar doença, então vivia separando a gente, avisando pra não sentar no vaso, pra não comer nos pratos usados na pensão.
Quando vieram esses italianos agricultores, eles se aboletaram lá, ficaram lá, depois é que eles foram para as suas roças. E de tudo aquilo que eles precisavam, vinham pra cidade e iam lá pra casa. Casamento, nascimento, doença. Morreu gente lá, nasceu gente lá. Casou gente lá. Fez-se festa de casamento lá. E ainda iam apartar briga. Eles chamavam, tinha que ir. Quando o Vitório formou, ele fez muito parto pra essa gente. Depois que o papai voltou da Itália, ele teve mais filhos aqui. Nasceu aqui o Vitório, a Maria e eu. Éramos sete. O primeiro a falecer foi o Gaetano, tuberculose. Ele resistiu mais de vinte anos. Mas não havia remédio. Ele não deixou de ser medicado, mas não tinha jeito. Ele pintava, mas não tinha comprador, não tinha mercado pra isso. Antigamente tinha aquelas placas de papelão que ele cortava. Eu ajudava ele, segurava as placas. Ele punha pó de sapato num fio pra marcar o barrado, pra passar óleo.
A mais velha das irmãs era a Letícia, morreu há pouco tempo, com 84 anos, era casada com Augusto Alves Ferreira que está vivo, com 96 anos. Mora na rua Cruzeiro dos Peixotos, lúcido, assina cheques. Tiveram onze filhos. Depois veio o Gaetano. Pintor. Era noivo. Não casou porque adoeceu. Fez Belas Artes em São Paulo. Pintava quadros. Mas pintava parede também porque quadro não dava resultado nenhum. Tem 55 anos que ele faleceu. O terceiro foi o Francisco. Faleceu em agosto, agora. O quarto é o Manoel, faleceu o ano passado. O Manoel era o italiano. Ele era comerciante em Cuiabá. O quinto foi o Vitório, depois a Maria, depois sou eu. Com onze anos, trabalhei no Rezende & Cia. Depois fui para o Capparelli. Abrimos o Capparelli em 39.
Meu pai casou-se em 1903. Ele veio sozinho da Itália.
O Tiro de Guerra vinha fazer exercício de Tiro às margens do córrego São Pedro. E fazia exercício aqui também. Aqui tinha água demais. Muitas minas. Eu nadava naquele córrego do lado de lá, chamava Córrego Antônio Domingues (das Tabocas). Também nadava lá na Lagoinha.
Onde é a rodoviária tinha um capão. Tinha árvores grandes. A sede da fazenda era onde é hoje a fábrica de balas Broquinha. Quando eu era menino, a avenida Vasconcelos Costa não existia. Onde era a Autominas tinha um poço.
Quando meu pai chegou aqui, da casa do seu João Naves, na praça do Ginásio, até lá em cima (Casa Capparelli) não tinha casa nenhuma.
Quando eu era menino, o Juca Ribeiro tinha uma cerca de arame.
O Juca Ribeiro (técnico do UEC) tinha uma raia de corrida de cavalos. Ali na Marciano de Ávila. Era só de reta. O cavalo saia correndo daqui até lá. Lá em cima
chamava Capão Seco porque não tinha córrego e tinha uma grande mata. A mata lá de baixo, a gente chamava de Capão…”
(trecho ipsis litteris de entrevista com Sebastião Capparelli, em dezembro/1990)