E continuam os tiros, explosões e mortes, seqüestros, estupros e prisões que atentam contra a integridade física, a honra e a dignidade de pessoas inocentes; ameaças das mais diversas em não poucas regiões do mundo e tudo isso ocasionado por disputas políticas que parecem nunca ter fim; e toma atrocidades massacrantes posto seculares desavenças e conflitos no Oriente Médio onde, segundo Nostradamus, ocorrerá o início do fim. Depois de termos assistido a derrubada do muro de Berlim, o capitalismo tornar-se uma ilusão e um tormento para centenas de milhões de pessoas, o comunismo ser enfrentado e políticos continuarem com seus engodos e maracutaias – locupletando-se à custa de atos e desatos levianos, chego muito facilmente à conclusão de que um antigo ensinamento filosófico segue firme, ainda hoje, com a sua cotação em alta: “vulgus vult decipe” ou “o povo quer ser enganado”; sim, deixar-se guiar qual a uma manada por falsos porém poderosos profetas que abusam de férteis imaginações populares e onde se plantando tudo dá, enquanto em sua ávida sanha pela fama e um lugar menos inglório na história da humanidade. Já faz um tempo considerável que os profetas do apocalipse bradam e, pior, convencem seus fiéis seguidores de que o fim do mundo está logo ali; que três dias de trevas seguidos de dilúvios e cataclismas purificadores ocorrerão com a finalidade precípua de limpar o mundo e daí gerar abundância, felicidade e facilidades diversas. Porém permitindo-me ir mais ao fundo e sendo bem realista, digo que o mundo já está (há muito tempo) afundado nas trevas (e trevas em abundância); na escuridão das ambições tresloucadas, no egoísmo, na pornografia desembestada, na malandragem de toda ordem ( e desordem ), na desonestidade a cada dia mais intensificada, numa politicagem calhorda e praticada por não poucos que se dizem legisladores, na incompetência e na mentira! Adultos analfabetos, políticos incultos e embrutecidos ocupando cargos no governo federal e de relevado interesse para o povo, empresários insensíveis e vorazes numa busca atabalhoada por lucros, políticos com discursos falaciosos, filhos ferindo/matando seus pais e extorquindo-os por meio de chantagens a exigir-lhes dinheiro para a obtenção de prazeres imediatos – ao contrário de manterem-se e mesmo destacarem-se dignamente por meio de trabalho fecundo, famílias famélicas ocupando espaços urbanos nas médias e grandes cidades em um ritmo frenético, sistema de saúde pública em constante caos e uma enchente catastrófica de menores moribundos pelas ruas das principais cidades deste país são, certamente, severos e evidentes sinais de que já habitamos em meio a trevas densas e prolongadas, senhores profetas! E o que dizer de linchamentos de criminosos que, não raramente, são frutos de uma sociedade injusta e egoísta? E a prostituição infantil e o número absurdo de abortos clandestinos? Tudo isso ( e muito mais), senhores que se auto-proclamam profetas do apocalipse, já é uma realidade vergonhosa e bem à frente das suas nefandas e cobiçosas previsões apocalípticas! E quanto às finanças, mais uma comprovação de que já estamos mergulhados em tenebrosas trevas está na diferença de quem recebe um salário mínimo ao mês para trabalhar oito horas por dia e o rendimento diário de quem vive de juros e aplicações financeiras enquanto de papo pro ar em alguma ilha do Caribe. Já (sobre)vivemos nas trevas, senhores profetas de araque! O ódio e a indiferença caminham a passos largos neste mundo que transita sobre os trilhos do desamor. É momento de questionarmos nossa fraternidade e de assumirmos sem medo e sem terrores fantasiosos de trevas e dilúvios, mudanças que exigem de nós mesmos uma ativa e constante participação. Se não quisermos que drásticas conseqüências dos atuais e graves conflitos vividos em algumas partes do mundo cheguem até a nós, então que repensemos nossa posição e sem o direito de sequer imaginarmos ser felizes sozinhos. Busquemos ser luz sobre a mesa (e não debaixo dela) a iluminar (se não o mundo inteiro) ao menos o mundo do qual tiramos o nosso sustento e onde devemos promover a paz.
Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG