Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG
Quem me contou isso foi o dr. Athayde Ribeiro da Silva, cidadão nascido em Santa Maria, criado em Uberabinha e vivido no Rio de Janeiro onde foi o primeiro psicólogo por decreto do país, orientador da Seleção Brasileira de Futebol de 1962, pioneiro das novelas de rádio no Programa Casé da Rádio Philips, autor do primeiro livro de psicologia esportiva publicado no país, escrito em parceria com o grande mestre Mira y Lopes. Inteligência deslumbrante, memória pormenorizada, o dr. Athayde contou-me, em 1990, trechos da história política de Uberabinha, como se estivesse vivendo de novo as eleições de 1936.
Cocão e coió foi o meio que encontraram de diferenciar o Partido Republicano Mineiro do Partido Republicano Municipal – que eram um partido só, dividido, que ninguém queria ficar fora do PR. Espécie de Arena 1 e Arena 2, para os mais novos entenderem. Eram palavras sem plural. Dizia-se os cocão e os coió. Os cocão eram a burguesia urbana, os coió eram os produtores rurais. A divisão não era rigorosa, mas era assim. E quem mandava na cidade eram os cocão.
A guerra seguia até que chegou o Getúlio e esfriou o ardor do confronto. Mas continuou. Foi época também em que chegou de mansinho o pensamento marxista. Me disse o dr. Atahyde que no colégio estadual, que se instalou também por essa época, passavam-se noções políticas de democracia, marxismo e fascismo. Era do programa. Muitos jovens que vinham de uma formação familiar política meramente oligárquica, fixada apenas na busca do poder e do prestígio, começaram a abrir a cabeça para novos pensamentos políticos. A gente culta da cidade pendia para o marxismo. Raras inteligências estavam voltadas para a direita. O dr. Athayde cita apenas o professor Antônio Macedo Costa e o dr. José Maria, um advogado.
Getúlio permitiu eleições em 33, para as assembleias legislativas e em 36 para prefeitos e câmaras municipais. Os cocão tinham gente de peso, o Vasco Giffoni, o Adolfpho Fonseca, os Rodrigues da Cunha. Faltando pouco tempo para as eleições, Vasco bandeou-se para o lado coió e levou um grupo importante consigo. O Adolpho Fonseca, o cérebro pensante dos cocão, arrepiou. Era dono de uma grande habilidade política e mesmo percebendo que os coió ganhariam, tentou convencer Tubal Vilela, coió, a candidatar-se opondo-se ao novo coió Giffoni. Naquele tempo, o povo elegia os vereadores e estes elegiam o prefeito. Os coió tinham feito quatro vereadores, os cocão, com a saída do Giffoni, fizeram três. Iam perder as eleições. Adolpho começou a assediar o Tubal Vilela. Queria que ele se candidatasse. Se o Tubal topasse, poderia receber algum voto coió assim como o dos outros cocão. Seria eleito. Desconfiados, os coió foram visitar o Tubal na sua chácara na Vila Operária. Quem encontram lá? O Adolpho conversando o Tubal. Como os coió eram mais, o Adolpho se afastou e o Tubal retirou a candidatura que o Adolpho tinha proposto. Ainda assim, o Tubal, sem ser candidato, recebeu os três votos cocão. O Giffoni ganhou. Mas não levou. Daí a pouco, o Getúlio deu o golpe definitivo e derrubou todo mundo. O que acabou de enterrar as divergências entre cocão x coió.
Algum tempo depois, os Interventores começaram a nomear os prefeitos. Sorte do Giffoni – foi nomeado.
Fonte: dr. Atahyde Ribeiro da Silva
Como é bom conhecer a história política de nossa cidade. Parabéns pelo artigo.