Marília Alves cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG

Nós, brasileiros, estamos nos tornando campeões em reclamações. Não sem razão. Pagamos uma miscelânea de impostos, taxas, serviços e na verdade não temos muito a comemorar em matéria de retorno. Falta ao país o essencial para que a população tenha uma qualidade de vida razoável. Não podemos nos orgulhar da saúde pública, do saneamento básico, da segurança pública. E muito menos da educação, que há muito tempo padece no limbo e vai precisar de muito esforço conjunto e boa vontade para sair do atraso.
Reclamamos dos governantes, dos políticos. Não sem razão. O custo destes senhores, com seus altos salários, regalias e privilégios é elevadíssimo. E o que temos recebido em troca do régio tratamento que a eles damos? Escândalos, corrupção, desinteresse pela coisa pública e um acentuado interesse em melhorar sua própria vida. Ultimamente muito preocupados em salvar a pele, inventando mil e uma maneiras de escapulir das garras da lei e culpar as operações policiais necessárias e até insuficientes para enfrentar a alta criminalidade que assombra o país. Uma Câmara Municipal quase completa indo parar na cadeia merece reclamação. Onde está o brio, a vergonha, onde as promessas, onde a honestidade, o caráter? Onde está o bem coletivo que juraram defender? Um Congresso que apenas trabalha no sentido de tolher as iniciativas do governo federal, não merece reprovação? Onde a boa vontade e a união para que o país se torne melhor, acima de interesses escusos e vergonhosa briga pelo poder? Onde o espírito público que deve prevalecer nas tomadas de decisão? Reclamamos muito e agimos pouco. Continuamos tolerando passivamente este estado de coisas, mesmo que isto resulte em males inaceitáveis numa sociedade que se diz democrática e compromissada com a felicidade das pessoas e com o seu desenvolvimento. Somos sim, coniventes com o grande número de crianças e jovens mal atendidos pela escola, com o ensino público sem qualidade, com as mortes advindas da falta de atendimento médico/hospitalar, com os milhares de jovens sem perspectiva, enveredando pelo mundo das drogas e do crime, pela falta de políticas públicas para atender ás crianças abandonadas e à proteção do idoso. Somos responsáveis pelos políticos desonestos, despreparados e mal intencionados que colocamos no poder. Muitas mazelas, infelizmente, mancham as instituições e põem em risco a nossa frágil e incipiente democracia.
Se somos mestres em reclamar, somos mestres também em cometer deslizes. Alguns deles leves, que vão à conta daquele jeitinho brasileiro de resolver as coisas. Outros graves, que comprometem a vida, a integridade física e moral dos nossos semelhantes. A lei Seca é um belo exemplo da nossa mania de transgredir: continuamos bebendo e dirigindo, alheios ás inúmeras campanhas que têm acompanhado a trajetória desta lei. Talvez a gente se sinta protegido pela garantia da impunidade, que tem sido um Cavalo de Tróia em qualquer medida que vise punir adequadamente aqueles que infringem as regras. No quesito saúde pública nossa omissão é impressionante. Temos medo da dengue, por exemplo. O mosquitinho mata, aleija, inutiliza pessoas, mas mesmo sabendo disto somos incapazes de lutar objetivamente contra o mal. O poder público certamente não terá condições para vigiar casa por casa, terreno por terreno. A atuação deve ser também do cidadão, cioso de sua responsabilidade. Reclamamos das enchentes, mas continuamos não cuidando do nosso lixo. A própria população ao fim padece, pela sua irresponsabilidade e descaso pelo bem comum.
Reclamar é preciso, exigir o que nos é devido é obrigação. Mas cumprir a nossa parte constitui dever de cidadania. Nunca existirá um grande país, se não formarmos uma grande nação.