Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG

Na década de 1921, a cidade teve um pequeno clube chamado “Selecto”, localizado na praça Clarimundo Carneiro, ao lado de onde seria o Cine It. O prédio estava lá, até há pouco, e merecia ser tombado. E foi, na picareta. No Selecto se realizavam festas e bailes imponentes. Foi a véspera do Uberlândia Clube.
Foi clube que durou pouco. Já nos anos trinta não existia mais. As festas e os bailes voltaram a ser feitos em salões familiares ou na sede de algum clube esportivo.
O Carnaval, seguramente a maior das festas locais, realizava-se em barracões alugados, salões de cinema (Avenida e Uberlândia) e até em postos de gasolina, como o Brasil Central, situado na esquina da avenida Afonso Pena com a rua Quintino Bocaiúva. A grandiosidade carnavalesca, entretanto, era reservada à avenida Afonso Pena, entre as praças da República (Tubal Vilela) e da Liberdade (Clarimundo Carneiro), reunindo pessoas de todas as classes sociais com seus cordões, blocos, fantasias individuais, corso, muita serpentina, confete e lança perfume.
Os anos trinta tiveram o privilégio de abrigar a fundação do Uberlândia Clube que se deu no dia 23 de março de 1937. Sua inauguração, entretanto, aguardou quase um ano: fevereiro de 1938.
O acontecimento foi recebido pela comunidade como a instituição da mais fina sociedade entre as que existiram no lugar.
A solenidade de inauguração começou à meia noite do dia 12 de fevereiro.
Formou-se uma mesa dirigida pelo prefeito Vasco Giffoni com a presença de muitas autoridades, entre elas, os prefeitos de Uberaba e de Araguari. O presidente a ser empossado era o dr. Bolivar Carvalho.
O clube ocupava o terceiro andar do edifício construído por José Abdulmassih, na esquina da praça da República com a rua Olegário Maciel e avenida Afonso Pena, hoje demolido. O salão de baile media 28 por 12 metros.
Dez dias depois, deu-se o primeiro baile. Era Carnaval. Apesar das acanhadas acomodações, vistas de hoje, houve um entusiasmante acontecimento social. Os jornais, orgulhosos de noticiarem tão alvissareiro acontecimento, não poupavam louvores exagerados.
A Tribuna, do Agenor Paes, por exemplo, dizia que a nossa cidade tinha crescido e desenvolvido demais, pois “aquela reunião pode se comparar a qualquer um dos dois centros que citamos”. Agenor punha o baile do Uberlândia Clube no mesmo nível que os do Rio de Janeiro e Belo Horizonte!
Outras expressões jornalísticas exageradas: “Oh! Temos que dar graças a Deus por assistirmos ainda este triunfo, esta grande vitória social.” – “O que Uberlândia tem de sincero carinho por si mesma, lá se encontrava.”
A orquestra, que, naquele tempo, se chamava “jazz”, executava músicas de Carnaval, mas os pares dançavam tradicionalmente. Eram mais de cem pares! “cada qual mais elegante”.
A iluminação feérica estava em todos os cantos. No bar, indiferentes à folia, vários cavalheiros bebericavam e conversavam.
A ordem e a moral imperavam sobre tudo. Firmo Erse, Luiz Rocha, Cairo do Egypto, Sandoval Guimarães e outros diretores percorriam todas as áreas e cantos do clube vigilantes sobre o cumprimento das extremadas exigências de comportamento.
O mais importante é que havia centenas de fantasias!
No fatal concurso de fantasias, saíram vencedores: PRIMAVERA, de Bebé Ferreira, de Rio Verde, Goiás; BOMBEIROS, de Zuleika da Costa Carvalho; TOUREIROS, de Elvirinha Felice e Ruth Florestano.
Menções Honrosas: para Madame Tenente Josino Pinto e Ruth de Freitas.
Bloco: Grupo de Camisas Listradas sob o comando de Madame Conceição Carneiro.
As senhoras frequentadoras do Clube passaram a ser chamadas pelos jornais de “madame”.
A fundação do Uberlândia Clube restou numa grande perda para os festejos momescos de rua, porque afastou da avenida as pessoas que tinham condições de enriquecer o espetáculo com fantasias, cordões, muito confete, serpentina e os lança perfumes que ainda não tinham sido transformados em droga e serviam para assustar as moças quando atingidas nas pernas ou no colo.
Evidente que o tempo de corso também ficou reduzido.