Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG
Os anos 70 não foram muito bons para as Escolas de Samba. Em especial para a pioneira Tabajara, do Patrimônio. Em 1970, ela ensaiou, mas não desfilou. Em 1971, ninguém desfilou mas a velha Tabajara saiu sozinha, com um número reduzido de participantes. Um desfile frio sem o estímulo da concorrência.
Em 1972, houve um desfile de verbas curtas e só três Escolas sambaram na avenida: a Princesa Isabel, a Tabajara e a estreante Aliados do Samba. A Tabajara foi a vencedora.
Em 1973, as Escolas deixaram a avenida na solidão. Ninguém sambou. No vazio, espantou os poucos transeuntes a figura mítica do símbolo do Carnaval de salão da cidade: o velho Xexéu, sempre acompanhado de dona Otília. Lá passaram os dois fantasiados montados na incrível “camicleta” (mistura de caminhão com bicicleta).
Em 1974, o prefeito Renato de Freitas nomeou a primeira Comissão Organizadora do Carnaval de Uberlândia, dirigida pelo Delegado de Polícia, Renato Aragão.
Neste ano desfilaram três Escolas que já não eram as mesmas de 1972. Fundada em 1973 pelo falecido Capela, saiu pela primeira vez, a Unidos do Capela. Saíram também a Garotos do Samba e a Imperiais do Samba que venceu a parada. A Imperiais do Samba tinha sido fundada pelo Mestre Zé Pretinho. Desde 1967 havia um desentendimento entre o prefeito da época, Renato de Freitas e o presidente da Tabajara, Lotinho. Enquanto Renato fosse Prefeito, a Tabajara não sairia. Voltando Renato, saiu Lotinho. Sabedor da firmeza do Mestre do Patrimônio, Zé Pretinho arregimentou os carnavalescos da Tabajara mais uns amigos, formou a Imperiais e ganhou o carnaval.
Em 1975, Renato na prefeitura, Lotinho firme fora do carnaval. Desfilaram as mesmas Escolas de 74 e a Unidos do Capela venceu.
Em 1976, desfilaram quatro Escolas: Garotos do Samba, Imperiais do Samba, Unidos do Capela e a novata Mocidade Independente, fundada por Mestre Valdivino Zacarias dos Santos e outros.
Em 1977, saiu o Renato, voltou o Virgílio, e Lotinho pôs a Tabajara na avenida. Os ensaios da velha Escola foram feitos na chácara de Cláudio Crosara, à margem esquerda do Uberabinha, hoje, parte do Praia Clube. Foi um Carnaval cheio de irregularidades. A começar por dentro de casa: diversos membros da Comissão Julgadora chegaram atrasados. As Escolas também demoraram demais a sair para o samba. Tabajara e Imperiais do Samba demoraram tanto que parecia que não desfilariam. A Imperiais saiu sem cantar, sem puxador e, claro, sem samba! A Mocidade Independente desfilou com número insuficiente de participantes. Participações regulares, só da Garotos do Samba e da Unidos do Capela. A vitória foi desta última.
O fato mais constrangedor desta festa deu-se no desfile para o recebimento dos prêmios.
A Tabajaras inconformou-se com o terceiro lugar, mas compareceu ao desfile das campeãs para receber o prêmio. Desfilou com poucos elementos, displicentemente. Ao chegar em frente ao palanque oficial, a uma ordem do diretor, todos ficaram de costas. Alguns xingaram.
A represália da Prefeitura foi violenta: a Escola foi desclassificada, expulsa e condenada a devolver os quarenta mil cruzeiros da subvenção. Além disso, seus diretores foram proibidos de participar de qualquer Escola que fosse subvencionada pela Prefeitura nos carnavais futuros.
O tempo passou e, como punir o povo não é atitude politicamente correta, esqueceu-se tudo e, no ano seguinte, 1978, como se não tivesse acontecido nada, lá estava a Tabajara de novo na avenida, desta vez, sob a direção de Passarinho, filho do Lotinho.
Desfilaram a Garotos do Samba, que foi a campeã, a Unidos do Capela, que chegou em segundo lugar, a Tabajara, de novo em terceiro, a Pavão Dourado (renascida ou outra?), a Mocidade Independente e a Imperiais do Samba.
Por fim, em 1979, o Carnaval de rua foi tão fraco, tão fraco que não há notícias dele nos jornais, salvo um comentário do jornalista Alberto de Oliveira que o chama de “droga”. (Fonte: História do carnaval de Uberlãndia, livro do colunista).