Marília Alves Cunha- Educadora e escritra -Uberlândia – MG
Gosto muito de assistir TV, principalmente canais pagos nos quais temos oportunidade de assistir ótimos filmes e séries. É diversão certa sem precisar sair de casa, ótimo programa para dias chuvosos. Mas fico também à cata de coisas interessantes, como programas com temas políticos, música, culinária e outros vários assuntos que possam chamar-me atenção. Deslumbrei-me dia desses assistindo ao último show do Queens, maravilhoso, despedida monumental!
Em outro dia interessei-me por um assunto curioso e liguei-me num programa, se não me falha a memória, chamado “O lixo do luxo” e passei a seguir por algum tempo. Muito interessante analisar vários aspectos do comportamento humano e dos costumes e usos de outros países, economicamente mais vigorosos que o nosso.
Em países como EEUU, Suiça, Austrália e outros é comum as pessoas, inclusive as lojas, jogarem no lixo o que não querem mais ou que não possam aproveitar. E é uma coisa impressionante: colocam o material (lixo) na rua, em frente as suas casas ou nos fundos das lojas e convidam as pessoas a carregar (Please, take me home). E é incrível a qualidade deste lixo e do que se encontra lá, tudo muito bem organizado, limpo e plenamente aproveitável. Agradável ver o grau de civilização! Vi um dia uma bicicleta novinha com um cartaz pregado nela:” Vende-se esta bicicleta. Quem quiser comprar telefonar para o número…”. E a bicicleta foi vendida.Imaginem isto aqui no nosso Brasil. Ninguém a levou de graça para casa. Não sei se é desta civilização que fala o ministro Barroso quando fala em recivilizar. Ou se por acaso recivilizar é abandonar sua livre expressão e adotar o pensamento do ilustre ministro, sem tirar nem por…
Depositam no chamado lixo: móveis em perfeito estado, brinquedos, inclusive dentro das caixas ,material de cozinha, eletrodomésticos novinhos, roupas, sapatos, malas (algumas coalhadas de coisas), enfeites, quadros, tudo que você possa imaginar. Produtos de beleza e perfumes encontra-se em grande quantidade. Entre os trecos vi uma bolsa linda, grife Dijon que, achada, provocou pulos de alegria (devia ser uma imitação, nem tanto…). Coisas de bebê em quantidade: carrinhos, berços, roupinhas. As crianças cresceram e não há porque guardar o que tão bem servirá para outras. É uma quantidade absurda de lixo, limpo, aproveitável, que faz a alegria de muitos. Alguns vendem os objetos retirados e ainda ganham um dinheirinho extra. E alguns, mais espertos, ainda fazem vídeos como os que assisti e vendem para canais de TV.
O delicioso é ver a alegria das pessoas encontrando coisas, muitas vezes família inteiras participando do acontecimento. Na maioria dos episódios que assisti, os “apanhadores de lixo” eram brasileiros. Famílias que se mudam para outro país e necessitam recompor suas vidas. Montam inteiramente uma casa, com suas incursões aos lugares lotados de coisas deixadas lá.
A gente percebe perfeitamente os “novatos”, recém chegados ao país e nas primeiras aventuras aos “cata trecos”. Ficam deslumbrados, vão pegando tudo que avistam pela frente e enchem os carros. Pegam o que precisam e o que não precisam, recolhem tudo numa euforia de dar gosto. Exclamações de excitação e alegria acompanham cada descoberta. É um encantamento descobrir, jogado fora, tantas coisas com tanta qualidade e em tal estado de conservação. Os que estão no país há mais tempo já se acostumaram àquele festival de luxuoso lixo e são bem mais moderados. Examinam cuidadosamente cada peça, consideram a necessidade ou não do achado e levam para casa poucas coisas, as melhores, as mais necessárias.
A diferença entre o lixo dos americanos e de outros países é grande. Os americanos têm mais facilidade em jogar as coisas fora, penso que são também mais consumistas e , claro, têm mais dinheiro. Afinal, estamos falando de um país economicamente forte, que se orgulha de ter um HID poderoso e oferecer ao seu povo uma Constituição de pequeno tamanho (sete artigos e 27 emendas), mas que oferece algo muito valioso e respeitado: 1ª. Emenda – A liberdade de expressão, de imprensa e a separação entre a igreja e o estado são pilares fundamentais e parte integrante da Declaração de Direitos 2, ratificada em 15 de dezembro de 1791.
Quanta diferença da nossa, não? Enorme, facilmente modificável ao sabor de interesses e amplamente desrespeitada…