Antônio Pereira

A situação política em Uberabinha, em 1910, era a seguinte: de um lado, os civilistas, depois chamados “cocão”, chefiados pelo coronel Severiano Rodrigues da Cunha, cuja liderança já vinha de duas décadas e se estenderia ainda por muitos anos; de outro, os hermistas, depois chamados “coió”(*), tendo à frente a figura enérgica e mitológica do tenente coronel José Theóphilo Carneiro.
O governo de Minas Gerais era exercido por Wenceslau Brás, futuro presidente da república, e apoiava a situação que indicava o marechal Hermes da Fonseca, cujo apelido era Dudu, para a presidência do país. Competia na oposição, a grande inteligência do país, Ruy Barbosa.
Sabia-se de antemão que os civilistas venceriam em Uberabinha dado o poder político do coronel Severiano e sua família, mas o tenente coronel Carneiro não dava a mão à palmatória e blasonava temerariamente que venceria as eleições nem que fosse “à bala”.
O governo cuidou de auxiliar o empenho do seu valoroso correligionário transferindo para cá um delegado militar da Polícia, o tenente Egídio Rosa da Conceição, conhecido no Triângulo por seus métodos arbitrários e violentos, já expostos em sua passagem pelo município do Prata, e por seu interesse na vitória do governo. De pronto, começou a tomar atitudes e providências que atemorizavam os eleitores civilistas, principalmente os mais humildes.
Os civilistas, para a segurança das eleições, arrebanharam jagunçada que se homiziou no chalé do coronel Severiano que ficava nos fundos da praça da Matriz (Cícero Macedo), onde posteriormente foi o Asilo das Velhas, já demolido há muitos anos. Aí era também o quartel eleitoral dos civilistas, onde se abrigavam os eleitores da roça. Nos fundos ficava o destacamento da Polícia Militar.
O tenente Egídio percebendo que o conflito entre soldados e jagunços se tornava eminente, propôs um acordo aos civilistas; os jagunços iam embora, antes das eleições, e a Polícia não sairia do destacamento. O coronel Severiano aceitou, mas alguns de seus companheiros relutaram e isso permitiu aos jagunços que fossem ficando. Aliás, os “marimbondos”, como eram chamados, estavam loucos para “trabalhar” e, entre si, combinaram de só deixarim a cidade na tarde do dia 1º de março, que era o dia das eleições.
(continua)